terça-feira, abril 09, 2019






15 – UM POUCO DE ECONOMIA
É importante entender o básico de economia, os efeitos das decisões das autoridades econômicas. Para quê? 1) Para se defender, se antecipar a eventuais crises econômicas (comuns no Brasil, a maioria delas provocada por “erros” do governos. 2) Para não comprar gato por lebre: governos mentem cinicamente, aproveitam-se da desinformação e da boa fé das pessoas. 3.Para, como cidadão, compreender a política, a atuação dos políticos (e não se basear somente em promessas e discursos). 3. Para votar conscientemente, racionalmente. 
É verdade que o mundo complexo em que vivemos, compreender detalhes das decisões de economia política é coisa para especialista, até porque normalmente levam algum tempo para provocar consequências (boas ou más). No entanto, podemos usar artifícios como decompor o “problema” em  partes mais simples. A seguir, um exemplo:
15.1 – CARGA TRIBUTÁRIA
Sabemos que lá no começinho, o rei-sacerdote coletava um décimo dos alimentos produzidos (trigo, cevada, ovelhas etc.) a fim de sustentar a corte (militares, clero, funcionários). Fácil de entender, não é mesmo? E hoje, como funciona? Praticamente do mesmo jeito, mas com inúmeros “complicadores” para o entendimento.  Agora há dezenas de tipos e nomes de impostos, que são recolhidos em bancos, em dinheiro, por produtores, comerciantes, consumidores, proprietários, rentistas etc., que o governo usa para sustentar a “corte”: militares, funcionários, serviços e investimentos públicos. Imagine o trabalho dos antigos: recolher alimentos, armazenar, abater os animais, distribuí-los aos funcionários públicos.
Qual é o valor atual do “dizimo”? Resposta complicada. Vejamos: sobre o açúcar, por exemplo, incidem vários impostos que são pagos por diversas categorias. A fazenda de cana e os funcionários pagam impostos. O motorista e o caminhão de transporte pagam impostos. A usina, a distribuidora, o supermercado (e os trabalhadores vinculados) pagam impostos. Tem mais: o adubo, o combustível, a embalagem, a propaganda, todas as atividades (e os trabalhadores vinculados) da cadeia produtiva do açúcar pagam impostos. Para nós leigos é impossível calcular o imposto (o “dízimo”) do açúcar ou de qualquer mercadoria ou serviço.
No entanto, o governo calcula e divulga a taxa tributária de forma agregada. Segundo o IBGE, o “dízimo” é 37 % do PIB (produto interno bruto, soma de tudo que é produzido no país). Significa que, na média, de cada 100 litros de leite, 37 vão ao governo. De cada 100 tijolos, 37 vão ao governo. De cada 100 cabelos cortados, o equivalente a 37 vai ao governo.
Em tempo: anualmente o governo (IBGE) divulga o valor da carga tributária (impostos recolhidos durante o ano) e o valor do PIB (soma do valor de tudo que é produzido em um ano).  
15.1.1 – LEI DA OFERTA E PROCURA ORGANIZA A HUMANIDADE
Se faltar determinada mercadoria, o preço sobe, os consumidores freiam as compras, procuram alternativas mais em conta. Os produtores, por sua vez, ampliam a produção o mais rápido possível para aproveitar a alta. Ou seja, interesses de consumidores (gastar menos) e de produtores (ganhar mais) contribuem para regular a oferta e manter os preços dentro da normalidade.
A lei da oferta e procura (LOP) é a lei natural mais importante do livre mercado, por orientar, através da oscilação dos preços, produtores e consumidores.
É admirável que cidades grandes como São Paulo não sofram desabastecimento, racionamento, filas e correrias. Milhares de caixas de leite, pêssego, alface, bolacha, ovos, chocolate, camisas, são produzidos, embalados, transportados e vendidos em feiras, padarias, açougues, supermercados, lojas, de forma livre, espontânea, sem necessidade de mão de ferro de alguma autoridade.
Diariamente, caminhões carregados de tomate de Ribeirão Branco, soja de Itapeva, feijão de Itaberá, pepino de Itaporanga, cerveja de Agudos, açúcar de Barra Bonita, abastecem as cidades. A Ceagesp da cidade de São Paulo (Cia. de Entrepostos e Armazéns Gerais) recebe diariamente de 10 a 12 toneladas de alimentos, provenientes de mais de 1.500 municípios brasileiros e de 14 países.
Além de produtores e consumidores, a LOP orienta (com base na remuneração) a escolha de profissões, de escolas e cursos a freqüentar; orienta o desenvolvimento de pesquisa, ciência e inovações tecnológicas a fim de aumentar a produção e auferir maior renda.  A forte demanda por tecidos e outros produtos ingleses desencadeou a Revolução Industrial - o maior pulo tecnológico da História.
É a LOP que deu aos consumidores o poder de vetar mercadorias e serviços que não satisfaçam seus interesses e necessidades.
15.2 – DINHEIRO: GRANDE FACILITADOR DAS TROCAS
Dinheiro surgiu para facilitar as trocas. O produtor vende e recebe em dinheiro. Com dinheiro no bolso, vai às compras, ou o guarda para gastos futuros, ou compra imóveis ou aplica em fundos bancários a fim de aumentar a renda.
Inexistisse dinheiro, o produtor de feijão teria que procurar um produtor de arroz disposto a trocar arroz por feijão. Teria que procurar um produtor de trigo, de aveia, de roupa, de chapéu, de trator, de perfume, de combustível...  Imagine a trabalheira!
Moedas de ouro e prata facilitaram a expansão do comércio, por serem metais aceitos pelos diferentes povos. Atualmente o dinheiro é feito de “papel pintado”, sem valor em si, garantido pelo governo (Banco Central). Por isso é fundamental que a macroeconomia estabilize o poder aquisitivo do dinheiro, sob pena de desestabilizar o comércio e a capacidade produtiva do país (como aconteceu com a queda do Império Romano – item 5.5).
Em tempo 1: dinheiro se comporta como qualquer mercadoria em relação à lei da oferta e procura. Se aumentar a quantidade de dinheiro em circulação, mais pessoas com mais dinheiro no bolso vão às compras, pressionando os preços para cima (inflação). De outro lado, se diminuir a quantidade de dinheiro em circulação, os compradores, com menos dinheiro no bolso, reduzem as compras; os vendedores, para desovar os estoques, abaixam os preços. Exemplo: um terreno de 100 mil, depois de uma crise econômica (que reduza a renda, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação) será ofertado por preço menor, talvez por 70 mil ou 80 mil.
Em tempo 2: a quantidade de dinheiro em circulação é controlada pelo governo, através do Banco Central.
15.3 - INFLAÇÃO TEMPORÁRIA
Se o tomate, por causa da chuvarada ou outro contratempo, desaparecer das prateleiras, seu preço subirá temporariamente e voltará ao normal assim que for refeito o equilíbrio entre oferta e procura. Ao contrário, se a oferta for maior que a procura, sobrará tomate e o preço abaixará. Como o mercado é dinâmico, enquanto alguns preços sobem, outros abaixam, de modo que a taxa de inflação provocada por desequilíbrios de oferta é pequena: 1% ou 2% ao ano, por aí. É a costumeira inflação registrada em países de moeda estabilizada! 
15.4 - INFLAÇÂO CRÔNICA É EXCESSO DE DINHEIRO EMITIDO PELO GOVERNO
Inflação crônica é a elevação generalizada e contínua dos preços de todas as mercadorias e serviços. Causa: excesso de dinheiro em circulação – governos gastadores “fazem” dinheiro para cobrir gastos (que ultrapassam o valor da arrecadação).
Outra maneira de aumentar a quantidade de dinheiro em circulação é através do aumento dos empréstimos bancários (também controlados pelo Banco Central).
Se o governo errar a mão, inflação crônica pode virar hiperinflação, como ocorreu no Brasil nos anos 1980/90. Leia o texto seguinte:
“Como o próprio nome sugere, hiperinflação é quando a inflação fica elevadíssima e fora de controle. Além de corroer o poder de compra do consumidor, a alta generalizada e contínua dos preços costuma provocar recessão e desvalorização acentuada da moeda. No Brasil, a hiperinflação ocorreu nos anos 80 e início dos anos 90, quando a inflação galopante chegou a superar os 80% ao mês – sim, ao mês. Ou seja, o mesmo produto chegava a quase dobrar de preço de um mês para o outro. Dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que entre 1980 e 1989, a inflação média no país foi de 233,5% ao ano. Na década seguinte, entre os anos de 1990 e 1999, a variação anual subiu para 499,2%. As causas da hiperinflação no país costumam ser relacionadas ao aumento dos gastos público.” Fonte: Sit G1.GLOBO.ECONOMIA
Normalmente as pessoas não sabem diferenciar a causa da inflação (se é desequilíbrio de oferta ou excesso de dinheiro), daí que o governo, malandramente, aproveitando-se da desinformação, atribui a carestia aos empresários:
-- Esses empresários exploradores que remarcam os preços para se enriquecer à custa do povo trabalhador!
Ora, os empresários também são vítimas da má política econômica (até porque inflação derruba o poder aquisitivo do salário – e também das vendas).
15.5 – BANCOS: INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA É INDESPENSÁVEL PARA DEMOCRATIZAR E AMPLIAR O EMPREENDEDORISMO
Assim como o dinheiro facilita as trocas, bancos facilitam o uso do dinheiro (efetuam pagamentos, recebimentos, transferências, depósitos e aplicações, empréstimos etc.). O primeiro banco foi criado em Gênova (Itália) em 1406, época em que os italianos voltaram a se enriquecer com a retomada do comércio marítimo pelo Mar Mediterrâneo (ver item 5.7). Curiosidade: tradicionalmente os banqueiros operavam sobre uma mesa (banca, bancada) - daí o nome “banqueiro”.
A intermediação financeira executada pelos bancos é fundamental para o funcionamento da economia. Eles captam dinheiro de quem tem e repassam (emprestam) a quem precisa comprar ou produzir, dinamizando o fluxo de mercadorias. 
Bancos também contribuem:
a) para estimular e democratizar o empreendedorismo, uma vez que sem empréstimos bancários somente famílias endinheiradas teriam condições de abrir empresas;
b) para a estabilidade dos preços: ocorrendo escassez, empresários tomam empréstimos para ampliar a oferta;
c) para evitar desperdícios da poupança da sociedade (sempre escassa), pois o livre mercado de crédito direciona a poupança para os setores mais carentes de investimentos (conseqüência do item anterior).
Em tempo 1: no Brasil, faz tempo que os bancos não agem da maneira acima descrita. Há grave distorção: os juros cobrados pelos empréstimos têm taxas absurdas, por culpa de um concorrente peso-pesado: o governo financia seu déficit na rede bancária (ver item 15.7), sugando 60 % dos depósitos. É evidente que se o governo parasse de sugar a poupança, ou seja, parasse com gastança, sobraria dinheiro para o mercado a juros civilizados, como é nos países que mantêm as contas públicas em equilíbrio.
Em tempo 2: intervenção governamental no mercado de crédito costuma desperdiçar poupança, caso os setores escolhidos não sejam os mais carentes de investimentos.
15.6 - BANCOS CRIAM DINHEIRO DO NADA
Já vimos no item acima a importância dos empréstimos bancários para o funcionamento da economia. No entanto há neles uma “tentação”: o dinheiro emprestado pela rede bancária volta a ser depositado na própria rede, que poderá ser novamente emprestado. 
É isso: o mesmo dinheiro poderá ser emprestado tantas vezes quanto a autoridade monetária permitir, ou seja, bancos podem criar dinheiro contábil. Assim: Francisco faz  um empréstimo para comprar geladeira; a loja deposita o pagamento da geladeira na rede bancária, que o empresta novamente para Leandro comprar um computador, e assim por diante.
É aí que mora o perigo: governos populistas costumam autorizar os bancos a multiplicarem os empréstimos, a fim de aquecer a economia. O comércio, aquecido, aumenta as encomendas à indústria. Parece o caminho do paraíso, não é mesmo? Porém, se as industrias desconfiarem da sustentabilidade do crescimento econômico (inadimplência, tamanho do endividamento das famílias etc.), ou se não tiverem condições materiais de aumentar a produção no mesmo ritmo da demanda (por falta de tempo, matéria prima, financiamentos, etc.) faltará mercadoria. Nesse caso, ou os preços subirão (inflação) ou haverá aumento da importação (e os empregos serão criados lá na China, além de torrar nossos escassos dólares). A economia entra em recessão, desemprega, cai o nível de renda, até que o fluxo de mercadorias seja reequilibrado.
Vamos ler reportagem do jornal O Estado de S. Paulo:

“Banco Central injeta mais R$ 25 bilhões para reanimar a economia

Economia & Negócios, O Estado de S. Paulo
20 Agosto 2014 | 10h09
SÃO PAULO - Preocupado com o ritmo da atividade econômica - nessa semana, o mercado reduziu a projeção de crescimento no ano para 0,79% -, o Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 20, uma mudança nos depósitos compulsórios a prazo e nas regras para os bancos. Juntas, as medidas representam uma injeção de cerca de R$ 25 bilhões no mercado de crédito em empréstimos e financiamentos.
Segundo o Banco Central, a medida foi adotada “dando continuidade às medidas de distribuição da liquidez na economia”.  As mudanças são uma forma de incentivar a economia após o impacto da alta dos juros e queda da confiança de empresários e consumidores.”
Em tempo: há escolas econômicas que defendem que o dinheiro seja emprestado uma única vez, justamente para evitar as recorrentes crises econômicas que resultam do estouro das “bolhas” infladas artificialmente pela política econômica. Surge uma “febre” para comprar ações, imóveis etc. Emprestam dos bancos (moeda contábil), aí quando o preço das ações ou imóveis caem, todos caem juntos, num efeito dominó. 
15.7 - DÍVIDA PÚBLICA, CRESCIMENTO DO PIB E AS PEDALADAS DE DILMA

Notem a rápida subida, por volta de março de 2014 (argolado), da dívida do governo federal em relação ao PIB, durante o governo Dilma Rousseff (2011-2016). Vamos calcular, em fração do PIB, o valor aproximado do juro anual da dívida.
A taxa Selic é fixada pelo Banco Central e serve de referência às aplicações financeiras e empréstimos entre os bancos.
Vamos considerar uma taxa média Selic de 8 % ao ano, que após descontar a inflação, resulta numa taxa de juro real de 4 % ao ano. A dívida, conforme gráfico acima, é de 73 % do PIB:
4 % ao ano de juro real x 73 % do PIB anual = juro real anual da dívida publica
0,04 x 0,73 x PIB = 0,0292 x PIB = 2,92 % do PIB.
Valor equivalente a 3 vezes o Bolsa Família
Efeitos nefastos de dívida pública elevada: a) gera despesa alta com juros; b) suga a poupança, inibindo investimentos privados c) aumenta o Estado enquanto reduz o mercado; d) eleva taxas de juros para valores absurdos de 200% ou 300 % ao ano como os cobrados em cheque-especial etc.
Leia reportagem na Folha de S. Paulo, de 02/07/2017:
60 % da poupança financeira é sugada pelo governo.

No jornal Correio Braziliense, de 28/03/2015, por Diego Amorim:

“Fatura de juros vai a R$ 1 trilhão na era Dilma. Descontrole orçamentário, inflação em alta, endividamento crescente e elevação da Selic explicam o nível recorde dos gastos financeiros do governo. Montante pago desde 2011 sustentaria por 37 anos o Programa Bolsa Família.”

Pois é, tome cuidado com a esperteza do governo em inverter a situação, tirar o dele da reta e botar a culpa exclusivamente nos bancos (e nos rentistas), como se fossem eles os culpados pelos juros altos e por outros desarranjos na economia. E tem muita gente boa que acredita nessa patacoada.
Para pagar o juro da dívida, o Plano Real propôs superávit  de 3 % do PIB para pagar juros da dívida, de modo que a dívida parasse de crescer com novos empréstimos para pagar os juros. Infelizmente, a regra foi quebrada especialmente no governo Dilma, a gastadeira.

15.8 - POR QUE É DESGANTANTE COMBATER INFLAÇÃO?
É desgastante porque é necessário reequilibrar o orçamento público, ou seja, não gastar mais do que arrecada. E todas as ações corretivas geram descontentamento e oposição: corte de despesas, aumento de impostos, venda de empresas públicas para reforçar o caixa (privatização). Quem gosta de pagar mais impostos? Qual funcionário público aceita congelamento do valor do salário ou da aposentadoria? Quem não reclama da redução do valor de verbas para manutenção de estradas, hospitais, escolas? Com corte de subsídios, subvenções, isenções fiscais? Ademais, é grande a preferência para trabalhar no serviço público, especialmente em empresas estatais, por causa da estabilidade e dos salários acima da atividade privada. Seja quem for o atingido pelos cortes, é certo que vai gritar – e bem alto!
-- Governo neoliberal entreguista que não gosta de pobre! Onde já se viu tirar dos pobres para pagar juros aos bancos exploradores?!
Em tempo: chefes de família sabem muito bem a confusão que é cortar despesas familiares!
15.9 - O PLANO REAL
 Após quase uma dezena de planos econômicos fracassados, o Plano Real marcou o final do período de instabilidade monetária e altas taxas de inflação, que chegaram a atingir 5.000% ao ano, de julho de 1993 a junho de 1994. Junto com o plano, veio a nova moeda, o real – a quinta à qual os brasileiros tiveram que se acostumar em uma década.
Lançado no início de 1994, durante o governo Itamar Franco, o plano baseou-se, num primeiro momento, no equilíbrio das contas do governo, iniciado ainda no ano anterior, com redução de gastos, aumento de impostos e privatizações. O governo também promoveu a desindexação da economia – isto é, a inflação passada deixou de corrigir automaticamente preços e salários.  Fonte: Site G1.GloboEconomia.
É isso, com sacrifício dos brasileiros, o Plano Real colocou (deu início) em ordem as contas públicas, o presidente Lula deu continuidade, o país voltou a crescer e distribuir renda, até que a presidente Dilma voltou ao populismo orçamentário: passou a gastar mais do que arrecadava, fez dívidas para cobrir o déficit. Em outras palavras, deu um cavalo de pau e imbicou a economia, de novo, rumo ao desastre: inflação, recessão e desemprego.
Em tempo: em geral, as crises econômicas foram causadas por excesso de gastos governamentais. Como se vê, não são somente pessoas e empresas que gastam além do que ganham.
15.10 - DÓLAR – E A MÁGICA PARA ALTERAR A RENDA
Suponha que o salário do Samuel seja de 1.000 reais e que um fogão importado custe 100 dólares. Suponha que 1 dólar valha 4 reais: então o fogão custará 400 reais (100 dólares x 4), ou seja, 40% do salário do Samuel (250 dólares).
E se o dólar valesse apenas 2 reais? O fogão custaria 200 reais (100 dólares x 2), ou seja, 20 % do salário. Portanto sobrariam mais 200 reais para o Samuel comprar outras coisas.
É isso: redução do valor do dólar provoca aumento do poder aquisitivo do salário. Governos costumam mesmo tirar proveito político desse fato (populismo cambial). É que a sensação de enriquecimento e bem-estar faz a aprovação do governo disparar (item 15.11)!
Acontece que dólar baixo tira a competitividade da indústria nacional com os produtos importados. Resultado: fábricas, pouco a pouco, fecham, desempregam, os impostos caem. Um desastre anunciado. 
Em tempo: um dos razões do crescimento da China é a fixação do dólar em patamar (alto) que favoreça a exportação.  O Brasil, infelizmente, anda fazendo o contrário, mais pensando na próxima eleição do que no futuro do país.

15.11 - POPULARIDADE DE FHC, LULA E DILMA ACAMPANHOU A VARIAÇÃO O DO DÓLAR
Dólar baixo eleva a popularidade do governo e vice-versa. No governo Lula (2003-2010), o valor do dólar caiu (lado esquerdo do gráfico seguinte) e a popularidade do presidente subiu. A presidente Dilma (2011-16) começou o governo com elevado índice de popularidade, que decresceu na medida em que o dólar subia (lado direito do gráfico). Foi reeleita (2014) com pequena vantagem e continuou perdendo prestígio e popularidade (até ser impedida em 2016).
 
No governo Fernando Henrique Cardoso ocorreu a mesma coisa! O dólar baixo foi a “âncora cambial” no combate à inflação do Plano Real, que elegeu e reelegeu FHC. Quando o dólar subiu, no segundo mandato, a popularidade de FHC caiu (e o oposicionista Lula foi eleito).
15.12 - A CHINA CRESCE MUITO PORQUE RESERVA 50% DA RENDA PARA AMPLIAR A PRODUÇÃO
A China investe 50 % do PIB em novas empresas, por isso cresce mais de 10 % ao ano. Em outras palavras: metade dos chineses produz alimentos e outros bens de consumo imediato; a outra metade constrói novas fábricas, abre novas empresas para ampliar a produção (renda).
Vamos ler trechos da matéria “China: estabilidade e crescimento econômico”, da Revista de Economia Política:
“...desde as reformas iniciadas por Deng Xiaoping em 1978 (...) o PIB apresenta um crescimento real médio anual de 10% (...)  Esse crescimento foi um dos fatores por trás da gigantesca redução da pobreza. Segundo o PNUD, apenas entre 1990 e 2002, o número de chineses com rendimento abaixo de US$ 1,00/dia caiu de 490 milhões para 88 milhões. O PIB per capita (PPP) cresceu quase dez vezes entre 1978 e 2004, de acordo com o Center for InternationalComparisonsofProduction, IncomeandPrices, da Universidade da Pennsylvania. De acordo com dados do PNUD, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da China passou de 0,53 em 1975 para 0,78 em 2006. O grau de urbanização também foi impressionante. A população urbana, que representava cerca de 18% do total em 1978, passou a quase 44% em 2006. (...) Ao mesmo tempo, os salários reais médios experimentaram um crescimento anual médio de 11%, muito próximo ao do PIB real. Considerando que, certamente, houve nesse período um forte aumento da produtividade, o custo unitário de trabalho se reduziu. (...) Entre 1981 e 2007, o ingresso de Investimentos Diretos Externos (IDEs) pulou de US$ 265 milhões para US$ 138 bilhões. (FONTE:  SCIELO)
15.13 – BRASIL INVESTE POUCO E CRESCE POUCO
No Brasil, 80 % da produção (= renda) é destinada ao consumo imediato. Apenas 20 %, ou menos (ver gráfico seguinte) é destinado à construção de novos empreendimentos a fim de aumentar a produção, renda, empregos. O efeito é que o País cresce pouco, aos trancos e barrancos, com seguidas recessões econômicas e altas taxas de desemprego. Uma tristeza!
Veja gráfico com a taxa de investimento de 2000 a 2016, publicado na Folha de São Paulo em 02/07/2017:




Um dos motivos do baixo crescimento é a elevação da carga tributária, que subiu de 22,39 % do PIB em 1986 para 36,42 % do PIB em 2013 (gráfico seguinte). Ou seja, governo passou a sugar mais 14 pontos percentuais do PIB, prejudicando o crescimento da economia, vez que essa dinheirama poderia ser usada para investimentos do setor privado (pior que o governo usou o dinheiro para o custeio, não para investimentos públicos).
Gráfico da evolução da carga tributária:

Vamos ler trecho da matéria “A economia política do baixo crescimento”, publicado na Revista de Informação Legislativa (nº 179), de autoria do diplomata e intelectual Paulo Roberto de Almeida:
“Não obstante, mesmo reconhecendo os diversos avanços sociais e políticos alcançados desde 1988, certamente estimulados e garantidos pela Carta – e que confirmam a democratização institucional do Brasil, ainda que reconhecendo tratar-se de uma democracia de baixa qualidade –, cabe registrar que o País enveredou, desde então, por uma fase de reduzido crescimento econômico e por um processo de avanços muito modestos nos terrenos da produtividade e da inovação tecnológica, redundando, assim, em um grau limitado de prosperidade e bem-estar para sua população”
Em tempo: na Noruega, Suíça e outros países que possuem eficiente rede de proteção social, a carga tributária beira os 50 % do PIB. Acontece que esses países já estão “construídos” e têm renda per capita 3 a 4 vezes a do Brasil, em torno de 15 mil dólares ppc, item 12.3).  Lá, o mercado recolhe 50 % ao governo e ainda fica com 25 mil dólares ppc per capita ou mais.   
15.14 – BRASIL JÁ TEVE PERÍODO DE CRESCIMENTO “CHINÊS”
No governo militar (1964-1985), houve um período de crescimento “chinês”, de 1967 a 1979. Muitas empresas e empregos foram criados, especialmente na indústria. Foi também um período de forte crescimento da classe média (pobres incluídos no mercado de trabalho industrial urbano). Veja o próximo gráfico sobre a variação do PIB do Brasil, de 1967 a 2016:
Embora com menor intensidade, houve outros períodos de crescimento contínuo: no Plano Real/FHC-1 e no governo Lula, ambos também apresentaram forte geração de emprego e renda (de inclusão social), como atestam a popularidade dos 2 governantes durante o processo de crescimento.
Em tempo: o senso comum diz que distribuição de cestas básicas, bolsa-família etc. aos mais pobres aumenta a popularidade do governo. No entanto, foi durante os períodos de forte crescimento econômico que a popularidade dos presidentes bateu recordes: Médici, FHC e Lula. 
15.15 – POUPANÇA, CONSUMO E INVESTIMENTO
Segundo economistas, para crescer 5 % ao no é necessário poupar/investir 25 % da produção (=renda).
O Brasil investe pouco (item 15.13), precisa investir mais para efetuar a inclusão das últimas camadas pobres no processo de desenvolvimento industrial-urbano, isto é, criar empreendimentos (empresas) para que pobres produzam mais, por conta própria ou coletivamente na condição de empregado, para obter ou elevar a renda.
Se o PIB crescer 5 % ao ano, a renda per capita dobrará a cada 15 anos. Em 20 ou 30 anos teríamos, então, um PIB per capita equivalente ao do Japão (38 mil dólares ppc) ou da Alemanha (46 mil, ver item 12.3) – países de elevada qualidade de vida.
Por que é difícil crescer? Porque consumir é cômodo, gostoso! Poupar e investir exigem planejamento e certo sacrifício. Além disso, há diferença de visão de mundo. Já vimos que o dilema consumo versus investimentos é a principal discordância entre partidos políticos.
Para exemplificar, vamos contar uma singela historinha:
Era uma vez uma ilha ... terminada a colheita, o chefe, depois de reservar as sementes para o próximo plantio, divide o trigo entre os trabalhadores. Claro que havia divergências sobre a divisão. A oposição à tradição defendia o aumento do consumo:
-- O povo trabalhador precisa comer mais trigo!
Por outro lado, a situação defendia o aumento da quantidade de semente para o plantio:
-- Se queremos comer mais trigo, precisamos plantar mais! Trigo não cai do céu!
Olha só a armadilha: se, a troco de apoio e voto, o governante ceder irresponsavelmente aos apelos dos “consumistas”, poderá comprometer a produção futura e provocar fome e caos (é o caso do governo chavista na Venezuela).
Um argumento muito batido pela esquerda para justificar o aumento de salário (ou seja, do consumo) é o seguinte: com mais dinheiro no bolso, as pessoas comprarão mais, o comércio venderá mais, a indústria e os agricultores aumentarão a produção -  num círculo virtuoso de desenvolvimento. Infelizmente não é bem assim, pois consumir é fácil, difícil é aumentar a produção, que requer poupança para financiar os investimentos, treinamento de mão de obra, domínio de tecnologias, confiança na sustentabilidade da política econômica - e tempo para maturação dos projetos etc.
Se fosse fácil assim estimular o “círculo da riqueza” pelo consumo, a pobreza já havia sido erradicada há muito tempo no mundo: bastaria distribuir dinheiro sem lastro aos mais pobres.
Essa crença esquerdista-populista vem, em parte, da leitura enviesada do grande economista John Maynard Keynes, que defendia que EM CERTAS OCASIÕES (como em uma depressão econômica) o aumento dos gastos públicos (ou seja, aumento do consumo) estimularia as fábricas, ociosas em parte, a incrementar a produção de imediato, pois não precisavam de tempo para efetuar novos investimentos.
Muito diferente é a situação em que as fábricas necessitam de ampliação da capacidade produtiva.
Alguns países, para acelerar o crescimento, têm atraído capital externo, como fez o Japão, como está fazendo a China e outros países asiáticos. No Brasil, esquerdistas e nacionalistas discordam:
-- Multinacionais imperialistas querem é roubar nossa riqueza!

Na economia de subsistência era fácil distinguir consumo de investimento; a produção tinha 2 destinos claros (gráfico acima): 
1) consumo imediato: leite, ovos, carne, cereais, legumes, lã etc.
2) reserva para aumentar a produção futura (investimentos): trigo-semente, frangas, novilhas, ovelhas, leitoas e outras matrizes;  se fosse nascer mais uma criança, a família aumentava o número de vaca para garantir o leite de cada dia.
Agora, com a urbanização e complexidade da economia de mercado (divisão das tarefas), as pessoas compram leite e outros itens no supermercado e não participam e, pior, não estão nem aí com a necessidade de reservar mais vacas ou mais trigo-semente. São os agricultores, industriais e outros empreendedores que têm que prever o volume de consumo futuro e efetuar os investimentos necessários para ajustar a produção. A oscilação do preço das mercadorias e serviços, decorrente da lei de oferta e procura, certamente é uma das principais ferramentas de auxílio na previsão da demanda. Entretanto, há outros preços, administrados pelo governo, que embaralham a coisa, como juros e câmbio (e também eleição, por que não dizer?). Já vimos (item 15.10) que dólar baixo desestimula investimentos (fica mais barato importar do que produzir aqui). E que dívida pública muito alta faz o governo gastador (que só pensa na próxima eleição) a subir o juro para facilitar a rolagem de seus títulos, sugando a poupança bancária e encarecendo os empréstimos para os empreendedores (item 15.7).
Aí, quando governos liberais botam freio nos gastos públicos (para aumentar os investimentos) são xingados de “neoliberais”, “desumanos”, “insensíveis” e por aí vai.
Relação de itens que tratam de investimento:
Capítulo 4 – Investimento e concentração de renda;
Item 6.1 – Burguesia investe: Revolução Industrial
Item 7.6 – Investimentos e despesas de capital
Item 7.11 – Investimento insuficiente e pobreza 
Item 7.20 – Investimento x consumo – esquerda e direita
Item 12.6 – Investimento x consumo – Estado de Bem Estar Social
Item 15.12 – China cresce muito porque investe muito
Item 15.13 – Brasil cresce pouco porque investe pouco
Item 15.14 – Brasil já teve período de crescimento chinês
15.16 – POPULISMO, LIBERALISMO E ORÇAMENTO PÚBLICO
Sabem essas pessoas ou famílias que não respeitam o orçamento doméstico e dão o passo maior que a perna, compram carros, jóias, viajam, tudo financiado? Vivem no bem-bom, até que chegue a conta, e se a renda disponível for insuficiente, o nome vai pro Serviço de Proteção de Crédito, o credor leva o carro. Uma tristeza!
Governos gastadores cometem o mesmo vício e se aproveitam eleitoralmente da euforia do período de gastança, da sensação de “riqueza”. Dão robustos aumentos salariais, contratam mais funcionários públicos, dão isenções a empresários. Depois, para cobrir o rombo, fazem dívida, que em excesso gera desconfiança na capacidade de pagamento. Agências internacionais que analisam riscos alertam os investidores que desconfiados seguram investimentos: aí vêm desemprego, recessão econômica. Um desastre social, especialmente para os mais pobres.
Essa política populista irresponsável quebrou a Argentina (peronismo), a Venezuela (chavismo). E já quebrou o Brasil várias vezes, com JK, João Goulart, final do governo militar e agora com Dilma (é só pesquisar os períodos de aceleração inflacionária, que sucedem períodos de gastança).
15.17 – A DESIGUALDADE AUMENTOU COM A REDUÇÃO DA POBREZA
Há muita manipulação do conceito de desigualdade de renda. Exemplo: “Aumentou a desigualdade de renda no governo militar”. Certo, mas isso foi ruim? Vamos, então, primeiro, entender como é feito o cálculo: divide a soma da renda da metade mais rica pela soma da renda da metade mais pobre:


(Há outros métodos de calcular, como dividir a renda dos 20 % mais ricos pela renda dos 50 % mais pobres, que não alteram nossa demonstração).
Para efeito de cálculo, a população é dividida em 10 grupos com igual número de pessoas, com renda média decrescente.
Em 1930, apenas 10 % (primeiro grupo) da população eram ricos, com renda média suposta em 10. Todos os demais grupos (formados por camponeses pobres) tinham renda média suposta em 1. Grosso modo, era a configuração da população brasileira em 1930. Como demonstrado no quadro seguinte, a renda da metade rica era 2,8  vezes a renda da metade pobre:
 
40 anos depois, em 1970, com o processo de industrialização, a classe média/alta ganhou mais 20 pontos percentuais, ou seja, passou de 10 % para 30 %.  A pobreza caiu de 90 % para 70%. Conforme quadro abaixo, a desigualdade de renda aumentou: a renda da metade mais rica passou a ser 5,8 vezes a renda da metade mais pobre. É isso: a desigualdade aumentou justamente porque diminuiu a pobreza, vale dizer, parte dos pobres subiu para a classe média/alta.
 
De fato, a desigualdade aumenta até que o processo de inclusão econômica favoreça a metade mais pobre. Daí em diante a desigualdade passa a diminuir. É o que vem ocorrendo no Brasil desde 1998 ou um pouco depois, conforme a metodologia usada.
Em 2005 a pobreza atingia 30 % população (item 7.11). Suponhamos então que a soma da renda dos 5 grupos mais ricos (10+9+8+7+6) era 40 (quadro seguinte).  E a soma da renda dos 5 grupos mais pobres (5+4+1+1+1) era 12. A taxa de desigualdade caiu para 3,33.
 Vamos ler o site da BBC:

“Desigualdade - Os índices de desigualdade no Brasil cresceram de forma contínua a partir dos anos 1960, com uma piora expressiva durante o período da ditadura militar (...) A tendência de queda sustentada começa em meados dos anos 1990, (...) tanto durante o governo Fernando Henrique Cardoso quanto nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva.”   Fonte:IBGE: redução da desigualdade no Brasil estaciona nos níveis de 2011”, no site BBC BRASIL

15.18– PRODUTIVIDADE
Suponha que Francisco desenvolveu nova técnica de plantio de feijão, inovação que permitirá que cada saco de feijão seja produzido com menos horas de trabalho.
Produtividade = produção / trabalho. 
O aumento da produtividade elevará a qualidade de vida da família de Francisco, pois:
a) ou produzirá mais feijão para se alimentar ou para vender e, com a renda, comprar outros produtos necessários;
b) ou usará o tempo livre para produzir outros alimentos;
c) ou usará o tempo livre para fazer casas, móveis, roupas, ferramentas ou desenvolver outras atividades como lazer, esporte, ciência, tecnologia, filosofia etc.
É isso: o aumento de produtividade é fundamental para o desenvolvimento porque aumenta a produção e libera mão de obra (e tempo) para outras atividades. Há, portanto, um efeito dominó: aumento de produtividade em um setor acarreta aumento geral de produtividade em toda a economia.

As primeiras cidades só foram construídas após o aumento da produtividade agrícola (capítulo  4).
A explosão da ciência e da tecnologia modernas só foi possível com a disparada da produtividade decorrente da mecanização industrial (capítulo 6), que provocou a transferência de mão de obra, inicialmente da agricultura, para fazer o mundo moderno: cidades grandes, medicina, odontologia, ensino público, eletricidade, os modernos meios de comunicação e transporte, etc.    
Os países medem sua produtividade dividindo o PIB pelo número habitantes (PIB per capita). Quanto maior for o PIB per capita, maior será o salário e o IDH (itens 12.3 e 12.5). 
Relação de itens que tratam de produtividade:
Item 1.2: Segundo Período Tecnológico - de baixa produtividade agrícola;
Item 3.1: baixa produtividade agrícola e violência;
Capítulo 4: aumento da produtividade com uso de metais, irrigação etc. geraram excedentes que permitiram transferência de mão de obra para fundar primeiras cidades;
Item 5.2: produtividade e comércio;
Item 6.1.c: produtividade e Revolução Industrial;
Item 6.6: aumento da produtividade (mecanização) acelerou processo de liberação de mão de obra para a urbanização e o desenvolvimento da ciência, tecnologia etc.;
Item 6.8: aumento da produtividade (mecanização) e rápido crescimento populacional;
Itens 7.1 e 7.2: aumento da produtividade agrícola no Brasil derrubou preços;
Item 7.5: aumento da produtividade inviabiliza reforma agrária.
15.19 – COMÉRCIO TRANSFERE BENEFÍCIOS DA PRODUTIVIDADE
No item anterior mostramos como a qualidade de vida da família do Francisco foi favorecida pelo aumento da produtividade da plantação de feijão. Suponha agora que outro agricultor, Leandro, desenvolva uma nova técnica para elevar a produtividade de milho.
Bem, uma maneira de comparar a rentabilidade de duas ou mais atividade é através do cálculo das horas trabalhadas e o valor da produção em cada atividade. Deve ser a conta mais efetuada no mundo: todos queremos obter o máximo de renda com o mínimo de trabalho!
Vamos, então, criar uma moeda ancorada no tempo de trabalho. H$ 1,00 equivale a um produto produzido em 1 hora de trabalho, em média; H$ 2,00 a um produto que exige, em média, 2 horas de trabalho e assim por diante.
Suponhamos que no sítio de Marina a produção de 1 saco de feijão exija 15 horas de trabalho, ou seja, 1 saco de feijão custa H$ 15.
Suponhamos que no sítio de Francisco (especializado em feijão), a produção de 1 saco de feijão exija apenas 10 horas trabalho (custo de H$ 10).
Então, se Marina comprar 1 saco de feijão de Francisco por U$12, ambos ganharão.   Marina ganha H$ 3 e Francisco ganha R$ 2.
Se Francisco (especializado em feijão) vender feijão e comprar milho de Leandro (especializado em milho), Francisco ganhará duplamente: na venda do feijão e na compra do milho.
É isso: o comércio transfere ao comprador parte dos benefícios do aumento da produtividade, das inovações. É por isso que intervenções no mercado para proteger produtores menos produtivos prejudicam o processo de inovação e redução de preços, em prejuízo do conjunto da sociedade.

15.19.1 – COMÉRCIO ENRIQUECE NAÇÕES
Ainda nos nossos dias há incompreensão ou preconceito contra comerciantes (“exploradores”). Por quê? Vamos pensar: se uma semente de milho for plantada, na colheita haverá várias sementes de milho; se uma cadeira for construída, haverá mais uma cadeira; isto é, agricultura e indústria criam produtos. No entanto, se um produto A for comercializado, somente o produto A continuará a existir. Logo, por si só, comércio não cria produto. Quem ganha é o comerciante, que fica com uma porcentagem pelo trabalho de compra, transporte, beneficiamento e venda. Provavelmente venha daí a crítica que ainda fazem, especialmente na zona rural, aos “atravessadores” que ganham a vida comprando tomate, milho ou feijão nos sítios e revendendo-os nas cidades por um preço maior.
--Xé, os atravessadores ganham mais do que a gente que trabalha duro aqui na roça.
Mas a coisa não é bem assim. Indiretamente, o livre comércio (economia de mercado) traz enorme ganho econômico. Já vimos no item 5.2 que para ganhar mercado, os comerciantes procuram comprar pelo menor preço. E vendem mais barato quem têm maior produtividade, menor custo, seja pela tecnologia adotada, ou pela escala maior de produção, ou pelas condições climáticas favoráveis, ou pela proximidade de matéria-prima etc. Em outras palavras: existem pessoas, empresas e regiões que têm as chamadas “vantagens comparativas”.
É isso: o livre comércio estimula pessoas, empresas e regiões a se especializarem naquilo que produzem com menor custo.

Fonte: do livRo DESVENDANDO A LÓGICA DO DESENVOLVIMENTO, que estou terminando
Sebastião Loureiro



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