15 – UM POUCO DE
ECONOMIA
É importante entender o básico de economia, os efeitos das
decisões das autoridades econômicas. Para quê? 1) Para se defender, se
antecipar a eventuais crises econômicas (comuns no Brasil, a maioria delas
provocada por “erros” do governos. 2) Para não comprar gato por lebre: governos
mentem cinicamente, aproveitam-se da desinformação e da boa fé das pessoas.
3.Para, como cidadão, compreender a política, a atuação dos políticos (e não se
basear somente em promessas e discursos). 3. Para votar conscientemente,
racionalmente.
É verdade que o mundo complexo em que vivemos, compreender
detalhes das decisões de economia política é coisa para especialista, até
porque normalmente levam algum tempo para provocar consequências (boas ou más).
No entanto, podemos usar artifícios como decompor o “problema” em partes mais simples. A seguir, um exemplo:
15.1 – CARGA TRIBUTÁRIA
Sabemos que lá no começinho, o rei-sacerdote coletava um
décimo dos alimentos produzidos (trigo, cevada, ovelhas etc.) a fim de
sustentar a corte (militares, clero, funcionários). Fácil de entender, não é
mesmo? E hoje, como funciona? Praticamente do mesmo jeito, mas com inúmeros
“complicadores” para o entendimento.
Agora há dezenas de tipos e nomes de impostos, que são recolhidos em
bancos, em dinheiro, por produtores, comerciantes, consumidores, proprietários,
rentistas etc., que o governo usa para sustentar a “corte”: militares,
funcionários, serviços e investimentos públicos. Imagine o trabalho dos
antigos: recolher alimentos, armazenar, abater os animais, distribuí-los aos
funcionários públicos.
Qual é o valor atual do “dizimo”? Resposta complicada.
Vejamos: sobre o açúcar, por exemplo, incidem vários impostos que são pagos por
diversas categorias. A fazenda de cana e os funcionários pagam impostos. O
motorista e o caminhão de transporte pagam impostos. A usina, a distribuidora,
o supermercado (e os trabalhadores vinculados) pagam impostos. Tem mais: o
adubo, o combustível, a embalagem, a propaganda, todas as atividades (e os
trabalhadores vinculados) da cadeia produtiva do açúcar pagam impostos. Para
nós leigos é impossível calcular o imposto (o “dízimo”) do açúcar ou de
qualquer mercadoria ou serviço.
No entanto, o governo calcula e divulga a taxa tributária de
forma agregada. Segundo o IBGE, o “dízimo” é 37 % do PIB (produto interno
bruto, soma de tudo que é produzido no país). Significa que, na média, de cada
100 litros de leite, 37 vão ao governo. De cada 100 tijolos, 37 vão ao governo.
De cada 100 cabelos cortados, o equivalente a 37 vai ao governo.
Em tempo: anualmente o governo (IBGE) divulga o valor da
carga tributária (impostos recolhidos durante o ano) e o valor do PIB (soma do
valor de tudo que é produzido em um ano).
15.1.1 – LEI DA OFERTA
E PROCURA ORGANIZA A HUMANIDADE
Se faltar determinada mercadoria, o preço sobe, os consumidores
freiam as compras, procuram alternativas mais em conta. Os produtores, por sua
vez, ampliam a produção o mais rápido possível para aproveitar a alta. Ou seja,
interesses de consumidores (gastar menos) e de produtores (ganhar mais)
contribuem para regular a oferta e manter os preços dentro da normalidade.
A lei da oferta e procura (LOP) é a lei natural mais
importante do livre mercado, por orientar, através da oscilação dos preços,
produtores e consumidores.
É admirável que cidades grandes como São Paulo não sofram desabastecimento,
racionamento, filas e correrias. Milhares de caixas de leite, pêssego, alface,
bolacha, ovos, chocolate, camisas, são produzidos, embalados, transportados e
vendidos em feiras, padarias, açougues, supermercados, lojas, de forma livre,
espontânea, sem necessidade de mão de ferro de alguma autoridade.
Diariamente, caminhões carregados de tomate de Ribeirão
Branco, soja de Itapeva, feijão de Itaberá, pepino de Itaporanga, cerveja de
Agudos, açúcar de Barra Bonita, abastecem as cidades. A Ceagesp da cidade de
São Paulo (Cia. de Entrepostos e Armazéns Gerais) recebe diariamente de 10 a 12
toneladas de alimentos, provenientes de mais de 1.500 municípios brasileiros e
de 14 países.
Além de produtores e consumidores, a LOP orienta (com base na
remuneração) a escolha de profissões, de escolas e cursos a freqüentar; orienta
o desenvolvimento de pesquisa, ciência e inovações tecnológicas a fim de
aumentar a produção e auferir maior renda.
A forte demanda por tecidos e outros produtos ingleses desencadeou a
Revolução Industrial - o maior pulo tecnológico da História.
É a LOP que deu aos consumidores o poder de vetar mercadorias
e serviços que não satisfaçam seus interesses e necessidades.
15.2 – DINHEIRO: GRANDE
FACILITADOR DAS TROCAS
Dinheiro surgiu para facilitar as trocas. O produtor vende e
recebe em dinheiro. Com dinheiro no bolso, vai às compras, ou o guarda para
gastos futuros, ou compra imóveis ou aplica em fundos bancários a fim de
aumentar a renda.
Inexistisse dinheiro, o produtor de feijão teria que procurar
um produtor de arroz disposto a trocar arroz por feijão. Teria que procurar um produtor
de trigo, de aveia, de roupa, de chapéu, de trator, de perfume, de
combustível... Imagine a trabalheira!
Moedas de ouro e prata facilitaram a expansão do comércio,
por serem metais aceitos pelos diferentes povos. Atualmente o dinheiro é feito
de “papel pintado”, sem valor em si, garantido pelo governo (Banco Central).
Por isso é fundamental que a macroeconomia estabilize o poder aquisitivo do
dinheiro, sob pena de desestabilizar o comércio e a capacidade produtiva do
país (como aconteceu com a queda do Império Romano – item 5.5).
Em tempo 1: dinheiro se comporta como qualquer mercadoria em
relação à lei da oferta e procura. Se aumentar a quantidade de dinheiro em
circulação, mais pessoas com mais dinheiro no bolso vão às compras,
pressionando os preços para cima (inflação). De outro lado, se diminuir a
quantidade de dinheiro em circulação, os compradores, com menos dinheiro no
bolso, reduzem as compras; os vendedores, para desovar os estoques, abaixam os
preços. Exemplo: um terreno de 100 mil, depois de uma crise econômica (que
reduza a renda, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação) será ofertado
por preço menor, talvez por 70 mil ou 80 mil.
Em tempo 2: a quantidade de dinheiro em circulação é
controlada pelo governo, através do Banco Central.
15.3 - INFLAÇÃO
TEMPORÁRIA
Se o tomate, por causa da chuvarada ou outro contratempo, desaparecer
das prateleiras, seu preço subirá temporariamente e voltará ao normal assim que
for refeito o equilíbrio entre oferta e procura. Ao contrário, se a oferta for
maior que a procura, sobrará tomate e o preço abaixará. Como o mercado é
dinâmico, enquanto alguns preços sobem, outros abaixam, de modo que a taxa de inflação
provocada por desequilíbrios de oferta é pequena: 1% ou 2% ao ano, por aí. É a costumeira
inflação registrada em países de moeda estabilizada!
15.4 - INFLAÇÂO CRÔNICA
É EXCESSO DE DINHEIRO EMITIDO PELO GOVERNO
Inflação crônica é a elevação generalizada e contínua dos
preços de todas as mercadorias e
serviços. Causa: excesso de dinheiro em circulação – governos gastadores
“fazem” dinheiro para cobrir gastos (que ultrapassam o valor da arrecadação).
Outra maneira de aumentar a quantidade de dinheiro em
circulação é através do aumento dos empréstimos bancários (também controlados
pelo Banco Central).
Se o governo errar a mão, inflação crônica pode virar
hiperinflação, como ocorreu no Brasil nos anos 1980/90. Leia o texto seguinte:
“Como o próprio nome
sugere, hiperinflação é quando a inflação fica elevadíssima e fora de controle.
Além de corroer o poder de compra do consumidor, a alta generalizada e contínua
dos preços costuma provocar recessão e desvalorização acentuada da moeda. No
Brasil, a hiperinflação ocorreu nos anos 80 e início dos anos 90, quando a
inflação galopante chegou a superar os 80% ao mês – sim, ao mês. Ou seja, o
mesmo produto chegava a quase dobrar de preço de um mês para o outro. Dados da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mostram que entre 1980 e
1989, a inflação média no país foi de 233,5% ao ano. Na década seguinte, entre
os anos de 1990 e 1999, a variação anual subiu para 499,2%. As causas da hiperinflação
no país costumam ser relacionadas ao aumento dos gastos público.” Fonte: Sit
G1.GLOBO.ECONOMIA
Normalmente as pessoas não sabem diferenciar a causa da
inflação (se é desequilíbrio de oferta ou excesso de dinheiro), daí que o
governo, malandramente, aproveitando-se da desinformação, atribui a carestia
aos empresários:
-- Esses empresários exploradores que remarcam os preços para
se enriquecer à custa do povo trabalhador!
Ora, os empresários também são vítimas da má política
econômica (até porque inflação derruba o poder aquisitivo do salário – e também
das vendas).
15.5 – BANCOS:
INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA É INDESPENSÁVEL PARA DEMOCRATIZAR E AMPLIAR O
EMPREENDEDORISMO
Assim como o dinheiro facilita as trocas, bancos facilitam o
uso do dinheiro (efetuam pagamentos, recebimentos, transferências, depósitos e
aplicações, empréstimos etc.). O primeiro banco foi criado em Gênova (Itália)
em 1406, época em que os italianos voltaram a se enriquecer com a retomada do
comércio marítimo pelo Mar Mediterrâneo (ver item 5.7). Curiosidade:
tradicionalmente os banqueiros operavam sobre uma mesa (banca, bancada) - daí o
nome “banqueiro”.
A intermediação financeira executada pelos bancos é
fundamental para o funcionamento da economia. Eles captam dinheiro de quem tem
e repassam (emprestam) a quem precisa comprar ou produzir, dinamizando o fluxo
de mercadorias.
Bancos também contribuem:
a) para estimular e democratizar o empreendedorismo, uma vez
que sem empréstimos bancários somente famílias endinheiradas teriam condições
de abrir empresas;
b) para a estabilidade dos preços: ocorrendo escassez, empresários
tomam empréstimos para ampliar a oferta;
c) para evitar desperdícios da poupança da sociedade (sempre
escassa), pois o livre mercado de crédito direciona a poupança para os setores
mais carentes de investimentos (conseqüência do item anterior).
Em tempo 1: no Brasil, faz tempo que os bancos não agem da
maneira acima descrita. Há grave distorção: os juros cobrados pelos empréstimos
têm taxas absurdas, por culpa de um concorrente peso-pesado: o governo financia
seu déficit na rede bancária (ver item 15.7), sugando 60 % dos depósitos. É
evidente que se o governo parasse de sugar a poupança, ou seja, parasse com
gastança, sobraria dinheiro para o mercado a juros civilizados, como é nos
países que mantêm as contas públicas em equilíbrio.
Em tempo 2: intervenção governamental no mercado de crédito
costuma desperdiçar poupança, caso os setores escolhidos não sejam os mais
carentes de investimentos.
15.6 - BANCOS CRIAM
DINHEIRO DO NADA
Já vimos no item acima a importância dos empréstimos
bancários para o funcionamento da economia. No entanto há neles uma “tentação”:
o dinheiro emprestado pela rede bancária volta a ser depositado na própria rede,
que poderá ser novamente emprestado.
É isso: o mesmo dinheiro poderá ser emprestado tantas vezes
quanto a autoridade monetária permitir, ou seja, bancos podem criar dinheiro
contábil. Assim: Francisco faz um
empréstimo para comprar geladeira; a loja deposita o pagamento da geladeira na
rede bancária, que o empresta novamente para Leandro comprar um computador, e
assim por diante.
É aí que mora o perigo: governos populistas costumam
autorizar os bancos a multiplicarem os empréstimos, a fim de aquecer a
economia. O comércio, aquecido, aumenta as encomendas à indústria. Parece o
caminho do paraíso, não é mesmo? Porém, se as industrias desconfiarem da
sustentabilidade do crescimento econômico (inadimplência, tamanho do
endividamento das famílias etc.), ou se não tiverem condições materiais de aumentar
a produção no mesmo ritmo da demanda (por falta de tempo, matéria prima,
financiamentos, etc.) faltará mercadoria. Nesse caso, ou os preços subirão
(inflação) ou haverá aumento da importação (e os empregos serão criados lá na
China, além de torrar nossos escassos dólares). A economia entra em recessão,
desemprega, cai o nível de renda, até que o fluxo de mercadorias seja
reequilibrado.
Vamos
ler reportagem do jornal O Estado de S. Paulo:
“Banco Central injeta mais R$ 25 bilhões para reanimar a economia
Economia & Negócios, O Estado de S. Paulo20 Agosto 2014 | 10h09
SÃO PAULO -
Preocupado com o ritmo da atividade econômica - nessa semana, o mercado reduziu
a projeção
de crescimento no ano para 0,79% -, o Banco Central anunciou
nesta quarta-feira, 20, uma mudança nos depósitos compulsórios a prazo e nas
regras para os bancos. Juntas, as medidas representam uma injeção de cerca de
R$ 25 bilhões no mercado de crédito em empréstimos e financiamentos.
Segundo o
Banco Central, a medida foi adotada “dando continuidade às medidas de
distribuição da liquidez na economia”. As
mudanças são uma forma de incentivar a economia após o impacto da alta dos
juros e queda da confiança de empresários e consumidores.”
Em tempo: há escolas
econômicas que defendem que o dinheiro seja emprestado uma única vez,
justamente para evitar as recorrentes crises econômicas que resultam do estouro
das “bolhas” infladas artificialmente pela política econômica. Surge uma
“febre” para comprar ações, imóveis etc. Emprestam dos bancos (moeda contábil),
aí quando o preço das ações ou imóveis caem, todos caem juntos, num efeito
dominó.
15.7 - DÍVIDA PÚBLICA,
CRESCIMENTO DO PIB E AS PEDALADAS DE DILMA
Notem a rápida subida, por volta de março de 2014 (argolado),
da dívida do governo federal em relação ao PIB, durante o governo Dilma
Rousseff (2011-2016). Vamos calcular, em fração do PIB, o valor aproximado do
juro anual da dívida.
A taxa Selic é fixada pelo Banco Central e serve de
referência às aplicações financeiras e empréstimos entre os bancos.
Vamos considerar uma taxa média Selic de 8 % ao ano, que após
descontar a inflação, resulta numa taxa de juro real de 4 % ao ano. A dívida,
conforme gráfico acima, é de 73 % do PIB:
4 % ao ano de juro real x 73 % do PIB anual = juro real anual
da dívida publica
0,04 x 0,73 x PIB = 0,0292 x PIB = 2,92 % do PIB.
Valor equivalente a 3 vezes o Bolsa Família
Efeitos nefastos de dívida pública elevada: a) gera
despesa alta com juros; b) suga a poupança, inibindo investimentos privados c)
aumenta o Estado enquanto reduz o mercado; d) eleva taxas de juros para valores
absurdos de 200% ou 300 % ao ano como os cobrados em cheque-especial etc.
Leia reportagem na Folha de S. Paulo, de 02/07/2017:
60 % da poupança financeira é sugada pelo governo.
No jornal Correio Braziliense, de 28/03/2015, por
Diego Amorim:
“Fatura de
juros vai a R$ 1 trilhão na era Dilma. Descontrole orçamentário, inflação em
alta, endividamento crescente e elevação da Selic explicam o nível recorde dos
gastos financeiros do governo. Montante pago desde 2011 sustentaria por 37 anos
o Programa Bolsa Família.”
Pois é, tome cuidado com a esperteza do governo em
inverter a situação, tirar o dele da reta e botar a culpa exclusivamente nos
bancos (e nos rentistas), como se fossem eles os culpados pelos juros altos e
por outros desarranjos na economia. E tem muita gente boa que acredita nessa
patacoada.
Para pagar o juro da dívida, o Plano Real propôs
superávit de 3 % do PIB para pagar juros
da dívida, de modo que a dívida parasse de crescer com novos empréstimos para
pagar os juros. Infelizmente, a regra foi quebrada especialmente no governo
Dilma, a gastadeira.
15.8 - POR QUE É DESGANTANTE COMBATER INFLAÇÃO?
É desgastante porque é necessário reequilibrar o orçamento
público, ou seja, não gastar mais do que arrecada. E todas as ações corretivas
geram descontentamento e oposição: corte de despesas, aumento de impostos,
venda de empresas públicas para reforçar o caixa (privatização). Quem gosta de
pagar mais impostos? Qual funcionário público aceita congelamento do valor do salário
ou da aposentadoria? Quem não reclama da redução do valor de verbas para
manutenção de estradas, hospitais, escolas? Com corte de subsídios, subvenções,
isenções fiscais? Ademais, é grande a preferência para trabalhar no serviço
público, especialmente em empresas estatais, por causa da estabilidade e dos
salários acima da atividade privada. Seja quem for o atingido pelos cortes, é
certo que vai gritar – e bem alto!
-- Governo neoliberal entreguista que não gosta de pobre!
Onde já se viu tirar dos pobres para pagar juros aos bancos exploradores?!
Em tempo: chefes de família sabem muito bem a confusão que é
cortar despesas familiares!
15.9 - O PLANO REAL
“Após quase uma dezena de planos econômicos fracassados, o Plano Real
marcou o final do período de instabilidade monetária e altas taxas de inflação,
que chegaram a atingir 5.000% ao ano, de julho de 1993 a junho de 1994. Junto
com o plano, veio a nova moeda, o real – a quinta à qual os brasileiros tiveram
que se acostumar em uma década.
Lançado no início de 1994, durante o governo Itamar Franco, o plano
baseou-se, num primeiro momento, no equilíbrio das contas do governo, iniciado
ainda no ano anterior, com redução de gastos, aumento de impostos e
privatizações. O governo também promoveu a desindexação da economia – isto é, a
inflação passada deixou de corrigir automaticamente preços e salários. Fonte: Site G1.GloboEconomia.
É isso, com
sacrifício dos brasileiros, o Plano Real colocou (deu início) em ordem as
contas públicas, o presidente Lula deu continuidade, o país voltou a crescer e
distribuir renda, até que a presidente Dilma voltou ao populismo orçamentário:
passou a gastar mais do que arrecadava, fez dívidas para cobrir o déficit. Em
outras palavras, deu um cavalo de pau e imbicou a economia, de novo, rumo ao
desastre: inflação, recessão e desemprego.
Em tempo:
em geral, as crises econômicas foram causadas por excesso de gastos
governamentais. Como se vê, não são somente pessoas e empresas que gastam além
do que ganham.
15.10 - DÓLAR
– E A MÁGICA PARA ALTERAR A RENDA
Suponha que o salário do Samuel seja de 1.000 reais e
que um fogão importado custe 100 dólares. Suponha que 1 dólar valha 4 reais: então
o fogão custará 400 reais (100 dólares x 4), ou seja, 40% do salário do Samuel
(250 dólares).
E se o dólar valesse apenas 2 reais? O fogão custaria
200 reais (100 dólares x 2), ou seja, 20 % do salário. Portanto sobrariam mais
200 reais para o Samuel comprar outras coisas.
É isso: redução do valor do dólar provoca aumento do
poder aquisitivo do salário. Governos costumam mesmo tirar proveito político
desse fato (populismo cambial). É que a sensação de enriquecimento e bem-estar
faz a aprovação do governo disparar (item 15.11)!
Acontece que dólar baixo tira a competitividade da
indústria nacional com os produtos importados. Resultado: fábricas, pouco a
pouco, fecham, desempregam, os impostos caem. Um desastre anunciado.
Em tempo: um dos razões do crescimento da China é a
fixação do dólar em patamar (alto) que favoreça a exportação. O Brasil, infelizmente, anda fazendo o
contrário, mais pensando na próxima eleição do que no futuro do país.
15.11 - POPULARIDADE DE
FHC, LULA E DILMA ACAMPANHOU A VARIAÇÃO O DO DÓLAR
Dólar baixo eleva a popularidade do governo e vice-versa. No
governo Lula (2003-2010), o valor do dólar caiu (lado esquerdo do gráfico
seguinte) e a popularidade do presidente subiu. A presidente Dilma (2011-16) começou
o governo com elevado índice de popularidade, que decresceu na medida em que o
dólar subia (lado direito do gráfico). Foi reeleita (2014) com pequena vantagem
e continuou perdendo prestígio e popularidade (até ser impedida em 2016).
No governo Fernando Henrique Cardoso ocorreu a mesma coisa! O
dólar baixo foi a “âncora cambial” no combate à inflação do Plano Real, que
elegeu e reelegeu FHC. Quando o dólar subiu, no segundo mandato, a popularidade
de FHC caiu (e o oposicionista Lula foi eleito).
15.12 - A CHINA CRESCE
MUITO PORQUE RESERVA 50% DA RENDA PARA AMPLIAR A PRODUÇÃO
A China investe 50
% do PIB em novas empresas, por isso cresce mais de 10 % ao ano. Em outras
palavras: metade dos chineses produz alimentos e outros bens de consumo
imediato; a outra metade constrói novas fábricas, abre novas empresas para
ampliar a produção (renda).
Vamos ler trechos da matéria “China: estabilidade e
crescimento econômico”, da Revista de Economia Política:
“...desde as reformas iniciadas por
Deng Xiaoping em 1978 (...) o PIB apresenta um crescimento real médio anual de
10% (...) Esse crescimento foi um dos
fatores por trás da gigantesca redução da pobreza. Segundo o PNUD, apenas entre
1990 e 2002, o número de chineses com rendimento abaixo de US$ 1,00/dia caiu de
490 milhões para 88 milhões. O PIB per
capita (PPP) cresceu quase dez vezes entre 1978 e 2004, de acordo com o
Center for InternationalComparisonsofProduction, IncomeandPrices, da
Universidade da Pennsylvania. De acordo com dados do PNUD, o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) da China passou de 0,53 em 1975 para 0,78 em 2006.
O grau de urbanização também foi impressionante. A população urbana, que
representava cerca de 18% do total em 1978, passou a quase 44% em 2006. (...) Ao
mesmo tempo, os salários reais médios experimentaram um crescimento anual médio
de 11%, muito próximo ao do PIB real. Considerando que, certamente, houve nesse
período um forte aumento da produtividade, o custo unitário de trabalho se
reduziu. (...) Entre 1981 e 2007, o ingresso de Investimentos Diretos Externos
(IDEs) pulou de US$ 265 milhões para US$ 138 bilhões. (FONTE: SCIELO)
15.13 – BRASIL INVESTE
POUCO E CRESCE POUCO
No Brasil, 80 % da produção (= renda) é destinada ao consumo
imediato. Apenas 20 %, ou menos (ver gráfico seguinte) é destinado à construção
de novos empreendimentos a fim de aumentar a produção, renda, empregos. O
efeito é que o País cresce pouco, aos trancos e barrancos, com seguidas
recessões econômicas e altas taxas de desemprego. Uma tristeza!
Veja gráfico com a taxa de investimento de 2000 a 2016,
publicado na Folha de São Paulo em 02/07/2017:
Um dos motivos do baixo crescimento é a elevação da carga
tributária, que subiu de 22,39 % do PIB em 1986 para 36,42 % do PIB em 2013
(gráfico seguinte). Ou seja, governo passou a sugar mais 14 pontos percentuais
do PIB, prejudicando o crescimento da economia, vez que essa dinheirama poderia
ser usada para investimentos do setor privado (pior que o governo usou o
dinheiro para o custeio, não para investimentos públicos).
Gráfico da evolução da carga tributária:
Vamos ler trecho da matéria “A economia
política do baixo crescimento”, publicado na Revista de Informação Legislativa (nº 179), de autoria do
diplomata e intelectual Paulo Roberto de Almeida:
“Não obstante, mesmo reconhecendo os diversos
avanços sociais e políticos alcançados desde 1988, certamente estimulados e
garantidos pela Carta – e que confirmam a democratização institucional do
Brasil, ainda que reconhecendo tratar-se de uma democracia de baixa qualidade
–, cabe registrar que o País enveredou, desde então, por uma fase de reduzido
crescimento econômico e por um processo de avanços muito modestos nos terrenos
da produtividade e da inovação tecnológica, redundando, assim, em um grau
limitado de prosperidade e bem-estar para sua população”
Em tempo:
na Noruega, Suíça e outros países que possuem eficiente rede de proteção
social, a carga tributária beira os 50 % do PIB. Acontece que esses países já
estão “construídos” e têm renda per capita 3 a 4 vezes a do Brasil, em torno de
15 mil dólares ppc, item 12.3). Lá, o
mercado recolhe 50 % ao governo e ainda fica com 25 mil dólares ppc per capita
ou mais.
15.14 – BRASIL JÁ TEVE
PERÍODO DE CRESCIMENTO “CHINÊS”
No governo militar (1964-1985), houve um período de
crescimento “chinês”, de 1967 a 1979. Muitas empresas e empregos foram criados,
especialmente na indústria. Foi também um período de forte crescimento da classe
média (pobres incluídos no mercado de trabalho industrial urbano). Veja o
próximo gráfico sobre a variação do PIB do Brasil, de 1967 a 2016:
Embora com menor intensidade, houve outros períodos de
crescimento contínuo: no Plano Real/FHC-1 e no governo Lula, ambos também
apresentaram forte geração de emprego e renda (de inclusão social), como
atestam a popularidade dos 2 governantes durante o processo de crescimento.
Em tempo: o senso comum diz que distribuição de cestas
básicas, bolsa-família etc. aos mais pobres aumenta a popularidade do governo.
No entanto, foi durante os períodos de forte crescimento econômico que a
popularidade dos presidentes bateu recordes: Médici, FHC e Lula.
15.15 – POUPANÇA,
CONSUMO E INVESTIMENTO
Segundo economistas, para crescer 5 % ao no é necessário
poupar/investir 25 % da produção (=renda).
O Brasil investe pouco (item 15.13), precisa investir mais
para efetuar a inclusão das últimas camadas pobres no processo de
desenvolvimento industrial-urbano, isto é, criar empreendimentos (empresas)
para que pobres produzam mais, por conta própria ou coletivamente na condição
de empregado, para obter ou elevar a renda.
Se o PIB crescer 5 % ao ano, a renda per capita dobrará a
cada 15 anos. Em 20 ou 30 anos teríamos, então, um PIB per capita equivalente
ao do Japão (38 mil dólares ppc) ou da Alemanha (46 mil, ver item 12.3) –
países de elevada qualidade de vida.
Por que é difícil crescer? Porque consumir é cômodo, gostoso!
Poupar e investir exigem planejamento e certo sacrifício. Além disso, há
diferença de visão de mundo. Já vimos que o dilema consumo versus investimentos é a principal discordância entre
partidos políticos.
Para exemplificar, vamos contar uma singela historinha:
Era uma vez uma ilha ... terminada a colheita, o chefe,
depois de reservar as sementes para o próximo plantio, divide o trigo entre os
trabalhadores. Claro que havia divergências sobre a divisão. A oposição à
tradição defendia o aumento do consumo:
-- O povo trabalhador precisa comer mais trigo!
Por outro lado, a situação defendia o aumento da quantidade
de semente para o plantio:
-- Se queremos comer mais trigo, precisamos plantar mais!
Trigo não cai do céu!
Olha só a armadilha: se, a troco de apoio e voto, o
governante ceder irresponsavelmente aos apelos dos “consumistas”, poderá
comprometer a produção futura e provocar fome e caos (é o caso do governo
chavista na Venezuela).
Um argumento muito batido pela esquerda para justificar o
aumento de salário (ou seja, do consumo) é o seguinte: com mais dinheiro no
bolso, as pessoas comprarão mais, o comércio venderá mais, a indústria e os
agricultores aumentarão a produção - num
círculo virtuoso de desenvolvimento. Infelizmente não é bem assim, pois
consumir é fácil, difícil é aumentar a produção, que requer poupança para financiar
os investimentos, treinamento de mão de obra, domínio de tecnologias, confiança
na sustentabilidade da política econômica - e tempo para maturação dos projetos
etc.
Se fosse fácil assim estimular o “círculo da riqueza” pelo
consumo, a pobreza já havia sido erradicada há muito tempo no mundo: bastaria
distribuir dinheiro sem lastro aos mais pobres.
Essa crença esquerdista-populista vem, em parte, da leitura
enviesada do grande economista John Maynard Keynes, que defendia que EM CERTAS
OCASIÕES (como em uma depressão econômica) o aumento dos gastos públicos (ou
seja, aumento do consumo) estimularia as fábricas, ociosas em parte, a
incrementar a produção de imediato, pois não precisavam de tempo para efetuar
novos investimentos.
Muito diferente é a situação em que as fábricas necessitam de
ampliação da capacidade produtiva.
Alguns países, para acelerar o crescimento, têm atraído
capital externo, como fez o Japão, como está fazendo a China e outros países
asiáticos. No Brasil, esquerdistas e nacionalistas discordam:
-- Multinacionais imperialistas querem é roubar nossa
riqueza!
Na economia de subsistência era fácil distinguir consumo de
investimento; a produção tinha 2 destinos claros (gráfico acima):
1) consumo imediato: leite, ovos, carne, cereais, legumes, lã
etc.
2) reserva para aumentar a produção futura (investimentos):
trigo-semente, frangas, novilhas, ovelhas, leitoas e outras matrizes; se fosse nascer mais uma criança, a família
aumentava o número de vaca para garantir o leite de cada dia.
Agora, com a urbanização e complexidade da economia de
mercado (divisão das tarefas), as pessoas compram leite e outros itens no
supermercado e não participam e, pior, não estão nem aí com a necessidade de
reservar mais vacas ou mais trigo-semente. São os agricultores, industriais e
outros empreendedores que têm que prever o volume de consumo futuro e efetuar
os investimentos necessários para ajustar a produção. A oscilação do preço das
mercadorias e serviços, decorrente da lei de oferta e procura, certamente é uma
das principais ferramentas de auxílio na previsão da demanda. Entretanto, há
outros preços, administrados pelo governo, que embaralham a coisa, como juros e
câmbio (e também eleição, por que não dizer?). Já vimos (item 15.10) que dólar
baixo desestimula investimentos (fica mais barato importar do que produzir
aqui). E que dívida pública muito alta faz o governo gastador (que só pensa na
próxima eleição) a subir o juro para facilitar a rolagem de seus títulos,
sugando a poupança bancária e encarecendo os empréstimos para os empreendedores
(item 15.7).
Aí, quando governos liberais botam freio nos gastos públicos
(para aumentar os investimentos) são xingados de “neoliberais”, “desumanos”,
“insensíveis” e por aí vai.
Relação de itens que tratam de investimento:
Capítulo 4 – Investimento e concentração de renda;
Item 6.1 – Burguesia investe: Revolução Industrial
Item 7.6 – Investimentos e despesas de capital
Item 7.11 – Investimento insuficiente e pobreza
Item 7.20 – Investimento x consumo – esquerda e direita
Item 12.6 – Investimento x consumo – Estado de Bem Estar
Social
Item 15.12 – China cresce muito porque investe muito
Item 15.13 – Brasil cresce pouco porque investe pouco
Item 15.14 – Brasil já teve período de crescimento chinês
15.16 – POPULISMO, LIBERALISMO
E ORÇAMENTO PÚBLICO
Sabem essas pessoas ou famílias que não respeitam o orçamento
doméstico e dão o passo maior que a perna, compram carros, jóias, viajam, tudo
financiado? Vivem no bem-bom, até que chegue a conta, e se a renda disponível for insuficiente, o nome vai pro Serviço
de Proteção de Crédito, o credor leva o carro. Uma tristeza!
Governos gastadores cometem o mesmo vício e se aproveitam
eleitoralmente da euforia do período de gastança, da sensação de “riqueza”. Dão
robustos aumentos salariais, contratam mais funcionários públicos, dão isenções
a empresários. Depois, para cobrir o rombo, fazem dívida, que em excesso gera
desconfiança na capacidade de pagamento. Agências internacionais que analisam
riscos alertam os investidores que desconfiados seguram investimentos: aí vêm
desemprego, recessão econômica. Um desastre social, especialmente para os mais
pobres.
Essa política populista irresponsável quebrou a Argentina
(peronismo), a Venezuela (chavismo). E já quebrou o Brasil várias vezes, com
JK, João Goulart, final do governo militar e agora com Dilma (é só pesquisar os
períodos de aceleração inflacionária, que sucedem períodos de gastança).
15.17 – A DESIGUALDADE
AUMENTOU COM A REDUÇÃO DA POBREZA
Há muita manipulação do conceito de desigualdade de renda.
Exemplo: “Aumentou a desigualdade de renda no governo militar”. Certo, mas isso
foi ruim? Vamos, então, primeiro, entender como é feito o cálculo: divide a soma
da renda da metade mais rica pela soma da renda da metade mais pobre:
(Há outros métodos de calcular, como dividir a renda dos 20 %
mais ricos pela renda dos 50 % mais pobres, que não alteram nossa
demonstração).
Para efeito de cálculo, a população é dividida em 10 grupos
com igual número de pessoas, com renda média decrescente.
Em 1930, apenas 10 % (primeiro grupo) da população eram
ricos, com renda média suposta em 10. Todos os demais grupos (formados por
camponeses pobres) tinham renda média suposta em 1. Grosso modo, era a
configuração da população brasileira em 1930. Como demonstrado no quadro
seguinte, a renda da metade rica era 2,8
vezes a renda da metade pobre:
40 anos depois, em 1970, com o processo de industrialização,
a classe média/alta ganhou mais 20 pontos percentuais, ou seja, passou de 10 %
para 30 %. A pobreza caiu de 90 % para 70%.
Conforme quadro abaixo, a desigualdade de renda aumentou: a renda da metade
mais rica passou a ser 5,8 vezes a renda da metade mais pobre. É isso: a
desigualdade aumentou justamente porque diminuiu a pobreza, vale dizer, parte
dos pobres subiu para a classe média/alta.
De fato, a desigualdade aumenta até que o processo de
inclusão econômica favoreça a metade mais pobre. Daí em diante a desigualdade
passa a diminuir. É o que vem ocorrendo no Brasil desde 1998 ou um pouco
depois, conforme a metodologia usada.
Em 2005 a pobreza atingia 30 % população (item 7.11).
Suponhamos então que a soma da renda dos 5 grupos mais ricos (10+9+8+7+6) era
40 (quadro seguinte). E a soma da renda
dos 5 grupos mais pobres (5+4+1+1+1) era 12. A taxa de desigualdade caiu para
3,33.
Vamos ler o site da
BBC:
“Desigualdade - Os índices de desigualdade no Brasil cresceram de forma contínua a partir dos anos 1960, com uma piora expressiva durante o período da ditadura militar (...) A tendência de queda sustentada começa em meados dos anos 1990, (...) tanto durante o governo Fernando Henrique Cardoso quanto nos dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva.” Fonte: “IBGE: redução da desigualdade no Brasil estaciona nos níveis de 2011”, no site BBC BRASIL
15.18– PRODUTIVIDADE
Suponha que Francisco desenvolveu nova técnica de plantio de
feijão, inovação que permitirá que cada saco de feijão seja produzido com menos
horas de trabalho.
Produtividade = produção / trabalho.
O aumento da produtividade elevará a qualidade de vida da
família de Francisco, pois:
a) ou produzirá mais feijão para se alimentar ou para vender e,
com a renda, comprar outros produtos necessários;
b) ou usará o tempo livre para produzir outros alimentos;
c) ou usará o tempo livre para fazer casas, móveis, roupas,
ferramentas ou desenvolver outras atividades como lazer, esporte, ciência,
tecnologia, filosofia etc.
É isso: o aumento de produtividade é fundamental para o
desenvolvimento porque aumenta a produção e libera mão de obra (e
tempo) para outras atividades. Há, portanto, um efeito dominó: aumento de
produtividade em um setor acarreta aumento geral de produtividade em toda a
economia.
As primeiras cidades só foram construídas após o aumento da
produtividade agrícola (capítulo 4).
A explosão da ciência e da tecnologia modernas só foi
possível com a disparada da produtividade decorrente da mecanização industrial
(capítulo 6), que provocou a transferência de mão de obra, inicialmente da
agricultura, para fazer o mundo moderno: cidades grandes, medicina,
odontologia, ensino público, eletricidade, os modernos meios de comunicação e
transporte, etc.
Os países medem sua produtividade dividindo o PIB pelo número
habitantes (PIB per capita). Quanto maior for o PIB per capita, maior será o
salário e o IDH (itens 12.3 e 12.5).
Relação de itens que tratam de produtividade:
Item 1.2: Segundo Período Tecnológico - de baixa
produtividade agrícola;
Item 3.1: baixa produtividade agrícola e violência;
Capítulo 4: aumento da produtividade com uso de metais,
irrigação etc. geraram excedentes que permitiram transferência de mão de obra
para fundar primeiras cidades;
Item 5.2: produtividade e comércio;
Item 6.1.c: produtividade e Revolução Industrial;
Item 6.6: aumento da produtividade (mecanização) acelerou
processo de liberação de mão de obra para a urbanização e o desenvolvimento da
ciência, tecnologia etc.;
Item 6.8: aumento da produtividade (mecanização) e rápido
crescimento populacional;
Itens 7.1 e 7.2: aumento da produtividade agrícola no Brasil
derrubou preços;
Item 7.5: aumento da produtividade inviabiliza reforma
agrária.
15.19 – COMÉRCIO
TRANSFERE BENEFÍCIOS DA PRODUTIVIDADE
No item anterior mostramos como a qualidade de vida da
família do Francisco foi favorecida pelo aumento da produtividade da plantação
de feijão. Suponha agora que outro agricultor, Leandro, desenvolva uma nova técnica
para elevar a produtividade de milho.
Bem, uma maneira de comparar a rentabilidade de duas ou mais atividade
é através do cálculo das horas trabalhadas e o valor da produção em cada
atividade. Deve ser a conta mais efetuada no mundo: todos queremos obter o
máximo de renda com o mínimo de trabalho!
Vamos, então, criar uma moeda ancorada no tempo de trabalho. H$
1,00 equivale a um produto produzido em 1 hora de trabalho, em média; H$ 2,00 a
um produto que exige, em média, 2 horas de trabalho e assim por diante.
Suponhamos que no sítio de Marina a produção de 1 saco de
feijão exija 15 horas de trabalho, ou seja, 1 saco de feijão custa H$ 15.
Suponhamos que no sítio de Francisco (especializado em feijão),
a produção de 1 saco de feijão exija apenas 10 horas trabalho (custo de H$ 10).
Então, se Marina comprar 1 saco de feijão de Francisco por
U$12, ambos ganharão. Marina ganha H$ 3
e Francisco ganha R$ 2.
Se Francisco (especializado em feijão) vender feijão e
comprar milho de Leandro (especializado em milho), Francisco ganhará
duplamente: na venda do feijão e na compra do milho.
É isso: o comércio transfere ao comprador parte dos
benefícios do aumento da produtividade, das inovações. É por isso que
intervenções no mercado para proteger produtores menos produtivos prejudicam o
processo de inovação e redução de preços, em prejuízo do conjunto da sociedade.
15.19.1 – COMÉRCIO
ENRIQUECE NAÇÕES
Ainda nos nossos dias há incompreensão ou preconceito contra
comerciantes (“exploradores”). Por quê? Vamos pensar: se uma semente de milho
for plantada, na colheita haverá várias sementes de milho; se uma cadeira for
construída, haverá mais uma cadeira; isto é, agricultura e indústria criam
produtos. No entanto, se um produto A for comercializado, somente o produto A
continuará a existir. Logo, por si só, comércio não cria produto. Quem ganha é
o comerciante, que fica com uma porcentagem pelo trabalho de compra, transporte,
beneficiamento e venda. Provavelmente venha daí a crítica que ainda fazem,
especialmente na zona rural, aos “atravessadores” que ganham a vida comprando
tomate, milho ou feijão nos sítios e revendendo-os nas cidades por um preço
maior.
--Xé, os atravessadores ganham mais do que a gente que
trabalha duro aqui na roça.
Mas a coisa não é bem assim. Indiretamente, o livre comércio
(economia de mercado) traz enorme ganho econômico. Já vimos no item 5.2 que
para ganhar mercado, os comerciantes procuram comprar pelo menor preço. E
vendem mais barato quem têm maior produtividade, menor custo, seja pela
tecnologia adotada, ou pela escala maior de produção, ou pelas condições
climáticas favoráveis, ou pela proximidade de matéria-prima etc. Em outras
palavras: existem pessoas, empresas e regiões que têm as chamadas “vantagens
comparativas”.
É isso: o livre comércio estimula pessoas, empresas e regiões
a se especializarem naquilo que produzem com menor custo.
Fonte: do livRo DESVENDANDO A LÓGICA DO DESENVOLVIMENTO, que estou terminando
Sebastião Loureiro
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