segunda-feira, julho 13, 2009



Para políticos, eleitor é massa anônima, diz FHC

Valor Econômico


O brasileiro reforçou a confiança na moeda nacional, o real, que acaba de completar 15 anos, mas continua descrente dos políticos, que a cada dia protagonizam um novo escândalo. Na opinião do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - escolhido para falar sobre "confiança" durante a entrega do prêmio da revista Seleções às marcas mais confiáveis do Brasil, em 4 de agosto -, é preciso mudar o atual sistema de voto proporcional, usado para eleger deputados e vereadores e que privilegia o partido, para o sistema distrital, no qual o eleitor tem maior controle sobre o eleito, uma vez que partidos indicam candidatos para disputar uma única vaga pela localidade.

--É preciso fazer círculos menores, diz Fernando Henrique, hoje à frente do instituto que leva o seu nome, localizado no centro de São Paulo e dedicado ao debate sobre a democracia.

--Diante de quem o político é responsável? Quem o elegeu? Ele não sabe. É uma massa anônima para ele. Na sua cabeça, estão os nomes da empresa que o ajudou, do sindicato, da igreja, do clube de futebol. Esses são os verdadeiros eleitores no Brasil e o povo não tem muito a ver com isso, diz FHC, que ocupa a presidência de honra do PSDB.

Responsável pela implantação do real em 1994, quando ainda era ministro da Fazenda do ex-presidente Itamar Franco, Fernando Henrique afirma que chegará um momento na política em que a população estará mobilizada para dizer "chega" e contribuir para uma mudança, assim como foi com a inflação no início dos anos 90. "Você não vê esperança, não vê esperança, até que surge um 'break through' (grande avanço), mas para isso é preciso criar uma situação que permita a mudança, acredito que estejamos nesse processo". FHC avalia como positivas as bolsas de transferência de renda - "um programa chamado de 'cash transfer', inventado pelo Banco Mundial", destaca -, mas acredita que o atual Bolsa Família não ofereça "porta de saída", ou seja, os atendidos continuam dependentes.

Nas próximas eleições, diz Fernando Henrique, o eleitor vai querer alguém que lhe diga "o caminho é esse e eu sou capaz de segui-lo". "Foi assim com o Obama nos Estados Unidos, que tocou mais no coração do que na razão das pessoas, alguém que encarnou um momento e despertou a confiança. O desempenho do ator conta cada vez mais", afirma.

Foi assim no Brasil com o presidente Lula? "Sem dúvida, ele é um bom ator, mas ainda assim perdeu de mim duas vezes. Para vencer, precisa estar afinado com o momento", diz. E em que FHC confia? "No Brasil, que é muito mais do que a política: tem empresas, universidades, organizações sociais, universidades, e tudo isso segue avançando".(DM)

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