NO QUE DÁ ELEIÇÃO DE "POSTE" SEM LIDERANÇA
Fernando Rodrigues, FOLHA
A presidente sem amigos
BRASÍLIA - Dilma Rousseff sempre teve uma relação conflituosa com
sua base de apoio no Congresso. O azedume e a tensão aumentaram nas
últimas semanas.
A presidente reagiu. Trocou seus líderes na Câmara e no Senado. É
improvável que a mudança resulte em menos atritos. Os defenestrados iam
mal porque não eram empoderados pela presidente. Figuras decorativas,
Dilma os adstringia a obedecer suas ordens. Diálogo? Nem pensar. Os
novos líderes tampouco têm intimidade com a titular do Planalto. Não é o
estilo presidencial.
Dilma, aliás, segue fiel a esse seu estilo. Decide quase tudo de maneira
solitária. Age de supetão, com aflição e paranoia por causa de
vazamentos para a mídia. A responsabilidade integral é sempre dela.
Trata-se de uma grande diferença em comparação aos outros dois governos
"mais normais" pós-ditadura, de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e
de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Era comum os presidentes
pré-Dilma compartilharem suas ações políticas com um grupo decisório
mais próximo.
No caso de Dilma, não existe tal grupo. Pelo menos, não há assessores
com poder de influência para tanger a presidente para um dos lados de
uma discussão sobre manejo político. Aliás, ai de quem tentar.
Ontem, enquanto a presidente era homenageada no Senado, um petista
lembrou-se de um encontro recente de congressistas de seu partido. Havia
cerca de dez pessoas à mesa. Uma delas perguntou: "Alguém aqui pode
dizer 'a Dilma gosta de mim'?". Fez-se o silêncio.
Essa é a síntese da administração de Dilma Rousseff na política.
Trata-se de uma presidente solitária. Não fez nem faz novos amigos. Toca
o barco de maneira monocrática. Até agora, aprovou no Congresso poucos
projetos de relevância para mudar a cara do país. A chance de ter
sucesso com a troca de líderes é incerta, para dizer o mínimo.
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