Folha de S. Paulo |
A hora da inovação |
Antonio Delfim Netto |
A NATUREZA das dificuldades criadas pela crise financeira mundial que acabou desabando sobre a economia real e o fato de não termos aumentado (relativamente) nossa participação no mercado mundial de produtos industrializados sugerem por que a economia brasileira revelou resistência extraordinária. Não se discutem as vantagens comparativas da agricultura brasileira (fortemente prejudicada pelas deficiências da infraestrutura), os extraordinários avanços de nossa pesquisa tecnológica, a nossa situação privilegiada na substituição (com grande vantagem energética) de combustível fóssil por energia renovável de massa. E, muito menos, discute-se o fato de que o aumento da demanda de nossos produtos agrícolas, juntamente com a desvalorização do dólar, provocaram um aumento dos nossos preços de exportação que, em menos de seis anos, libertaram a economia brasileira de sua dependência externa. Esse resultado extraordinário foi produto de pelo menos cinco causas: 1ª) da continuidade da política monetária e fiscal; 2ª) da garantia (às vezes duvidosa) da propriedade privada na agricultura e do espírito de apropriação dos ganhos tecnológicos; 3ª) dos benefícios dos investimentos na Embrapa desde o início dos anos 70; 4ª) de políticas de subsídios que, graças à concorrência no setor agrícola, foram largamente devolvidos ao consumidor na forma da redução da relação de preços agrícolas/preços industriais; e 5ª) da extraordinária ampliação dos preços externos. A sustentação do nível de atividade e do emprego foi, entretanto, consequência da existência de um setor industrial com maior sofisticação do que a sugerida por seu tamanho. Foi o forte mercado interno brasileiro, muito mais do que a política monetária sempre atrasada e tímida e a política fiscal de duvidoso anticiclismo, que sustentou o nível de atividade. É este mercado urbano (que perdeu a exportação industrial) que está pagando o preço do ajuste produzido pela supervalorização do real. Estamos num novo momento da história da economia brasileira. É preciso pensá-la 25 anos à frente. Ela, certamente, não será nem a continuação da atual, nem apenas o pré-sal, apesar de sua visibilidade e importância decisivas. Ela será o que fizermos para antecipar o ajuste do setor agrícola (com a mudança do clima), do setor industrial (com as novas ideias-força da energia renovável) e do setor de serviços (com as novas tecnologias). |
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