segunda-feira, setembro 21, 2009

O Globo
Ciro, o Plano B
Ricardo Noblat

"Se você perguntar se alguma vez imaginei disputar a Presidência da República, não. Imaginei não." (Dilma Rousseff)

Era tão estupidamente artificial a equação armada por Lula para a escolha do seu sucessor que bastou para abduzi-la a entrada em cena da frágil senadora Marina Silva (PV-AC). Evaporou-se a eleição sem graça a ser travada entre Dilma Rousseff pelo governo e José Serra ou Aécio Neves pela oposição.

Tem Marina. E Ciro Gomes (PSB-CE) vem aí.

No início da semana passada, por encomenda de um aspirante a candidato, ficou pronta a mais recente pesquisa de intenção de voto para a eleição de governador no Distrito Federal.

Quem pesquisa a vontade do eleitor para governos locais não resiste à tentação de perguntar em quem ele votaria para presidente da República. Nada é mais natural.

Deu Serra na cabeça, seguido por Ciro, Marina e Dilma.

Empolgado, o próprio Ciro confidenciou a amigos no Congresso os resultados de pesquisa também recente aplicada no Rio de Janeiro.

Deu ele na cabeça, seguido por Serra, Marina e Dilma.

Em 2006, Heloísa Helena (PSOL-AL) amealhou 17% dos votos válidos do Rio.

De há muito que Dilma ultrapassara Ciro na série de pesquisas nacionais feitas pelo Ibope para a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Amanhã, em Brasília, serão divulgados os resultados da mais nova. Ciro está na frente de Dilma, embora ainda a larga distância de Serra. A vantagem dele sobre Dilma é pequena.

A pesquisa Ibope/CNI está mais ou menos de acordo com pesquisas anteriores dos institutos Sensus e Datafolha.

Lula e seu governo mantêm elevados graus de aprovação — embora tenham perdido uns pontinhos.

Serra permanece inabalável na faixa dos 40% das intenções de voto em números redondos. O problema se chama Dilma.

Outro dia, no meio de uma roda de interlocutores confiáveis, Lula repetiu o que um governador ouvira dele não faz tanto tempo assim: "Ela não leva jeito pra isso". Ela, no caso, é Dilma. Que leva muito jeito para gerenciar iniciativas do governo, menos jeito para comandar pessoas, e nenhum jeito para despertar a paixão dos eleitores.

A vantagem dela é sua desvantagem.

Lula é a vantagem — o presidente mais popular da história do país, pai dos pobres e mãe dos ricos. Quem não desejaria têlo como cabo eleitoral? (Ô Ciro Gomes, Ciro Gomes! Não pense que Luiz Inácio vai abandonar Dilma. Não vai não, Ciro Gomes. Lula só abandona aqueles que podem prejudicá-lo.)

Lula é a desvantagem de Dilma porque na comparação com ele não há político que fique bem em parte alguma.

Afinal, é "o cara". Dilma está para Lula assim como na eleição presidencial de 1960 o marechal Henrique Batista Duffles Teixeira Lott esteve para o sorridente pé de valsa Juscelino Kubitschek, tão bom marqueteiro quanto Lula.

Lott não tinha jogo de cintura, nem diálogo fácil com os políticos, nem oratória capaz de arrebatar os que o ouviam, nem experiência em eleição. Todos esses atributos também faltam a Dilma.

Juscelino fez corpo mole na campanha de Lott, interessado na sua derrota para que pudesse voltar à presidência na eleição seguinte.

Dilma não precisa se preocupar com ardil semelhante.

Lula quer elegê-la. Se ela vencer, foi Lula que venceu — e ele só não voltará em 2014, a pedido da própria Dilma, se não quiser. Quer muito. Se Dilma perder, foi ela que perdeu, apesar do empenho de Lula. Nesse caso, a “Operação 2014 — O Retorno de Lulaâ? não será um êxito de véspera.

Quem cerca Lula jura que não existe Plano B na hipótese de Dilma se arrastar à base de transfusão de votos do seu padrinho. Transfusão tem limites. Da metade do século passado para cá, somente dois presidentes fizeram seu sucessor: Ernesto Geisel fez João Figueiredo, e Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso.

Às favas todas as juras. Como forçar Ciro a sair do páreo se ele tem tantos votos quanto Dilma? Quem se beneficiaria com a retirada de Ciro: Dilma ou Serra? E se Ciro tiver fôlego para disputar o segundo turno? Ciro é o Plano B — por ora, para ajudar Dilma.


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