A dependência do PMDB fez do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um obstinado, cujas atitudes extremadas em defesa do partido vexam até peemedebistas históricos. É o caso do senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (PE), que o acusou de “interferir de maneira despudorada em outro Poder da República”. Partidários do chefe de Estado, petistas são obrigados a malabarismos, num jogo duplo entre a satisfação ao eleitorado e a sustentação no cargo do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), a cada dia acuado por nova denúncia de irregularidade. A opinião pública, no que vem se tornando praxe na elite da política nacional, é mandada se lixar, vez que um de seus mais notórios líderes, com 80% de aprovação popular, se põe no caminho da moralização.
Mais grave é que a ilimitada disposição presidencial de manter consigo o PMDB atropela instituições. A primeira delas, o Congresso Nacional. O Poder Legislativo passa por uma de suas mais graves crises. Em vez de minimizá-la, como faz Lula, precisa corrigir e criar mecanismos para que os erros não se repitam, sem poupar ninguém. A segunda, o Ministério Público Federal. Na posse do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o discurso do presidente sugeriu o enquadramento do órgão, de modo que as investigações considerem a biografia do investigado. Trata-se de interferência indevida e de absurdo constitucional, vez que a Carta Magna assegura serem todos iguais perante a lei.
Por fim, mas não menos importante, as bravatas também são ruins pelo péssimo exemplo, o perverso efeito pedagógico que têm sobre uma nação que se reencontrou com a democracia, mas continua distante da boa prática política. Aliás, está para surgir o estadista que regerá o país nessa correção de rumo. Movido pela ambição desmesurada, o apoio incondicional de Lula a Sarney aponta para o sentido oposto. O presidente depende do PMDB, sobretudo, para eleger o sucessor e se manter no poder. Paga preço alto para ter nos palanques o aliado que detém as presidências da Câmara e do Senado, além de invejável estrutura partidária que se estende das capitais aos rincões.
Vitoriosa a estratégia, o novo governo já nasceria com o mesmo vício. Mas um fator de peso pode fazer que os cálculos de Lula não cheguem ao resultado esperado por ele. Fanático por imagens futebolísticas, o presidente deveria lembrar-se de uma das mais famosas delas, há mais de 50 anos presente na crônica brasileira. Em 1958, ao comentar a tática do técnico Vicente Feola para uma vitória tranquila da Seleção Canarinho contra os soviéticos, Garrincha saiu-se com esta: “Falta combinar com os russos”. Pois é, falta saber como o eleitorado reagirá diante de um discurso que considera “coisas menores” o descaso com o erário e a confusão entre o público e o privado. |
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