segunda-feira, setembro 24, 2007

ECONOMIA - Voltamos ao século 19
Antonio Carlos Lemgruber,Economista, no Jornal do Brasil

No momento em que se aproxima o ano de 2008, vale a pena retroceder 200 anos e recolher algumas revelações estatísticas estarrecedoras, que se encontram nos últimos estudos econômicos feitos pelo historiador e economista Angus Maddison. Na verdade, é realmente possível - graças a análises de pesquisadores como Maddison - verificar o crescimento de longo prazo de um país como o Brasil e até mesmo compará-lo ao de outros países mais e menos desenvolvidos. São exatamente 200 anos de estatísticas sobre o crescimento do PIB de diversas nações pelo mundo afora.

Parece que voltamos ao século 19 em matéria de crescimento econômico e não conseguimos de jeito nenhum repetir o feito brilhante do século 20, quando o Brasil teve simplesmente a maior taxa de crescimento do mundo, segundo Maddison: 4,5% ao ano em média (1890-1990).

Dom João VI veio instalar o império luso-brasileiro por aqui em 1808, tivemos a independência em 1822, mas a escravidão perdurou até 1888. Para nós, o prolongamento da escravidão é a principal explicação do baixíssimo crescimento do Brasil no século 19 [por falta de mercado consumidor interno]. Apesar de algumas oportunidades para estimular a imigração e das pressões dos ingleses, os portugueses preferiram o comodismo da escravidão, em contraste com o capitalismo realmente selvagem que explodia na América do Norte.

Mas este país nos surpreendeu no século seguinte e nos deu um verdadeiro "espetáculo de crescimento econômico", seja considerando períodos bem longos como 1890-1981, seja considerando fases realmente brilhantes como 1930-1981. E passamos por Vargas, por Dutra, por Juscelino, por Jânio e pela ditadura militar.
Lamentavelmente, a surpresa do século 21 é o baixo crescimento. Acabou-se o dinamismo. Voltamos a crescer de forma medíocre - na verdade, isto ocorre há quase 30 anos, desde meados da década de 80. O final da ditadura, o início da Nova República e os anos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula.

É verdade que a inflação acabou em 1994, graças ao brilhante Plano Real, mas a euforia tomou conta dos economistas que bolaram o Plano Real e parece que eles se convenceram mesmo de que era tudo apenas uma questão inercial. Os problemas fiscais e institucionais foram simplesmente ignorados desde então.

Qual será a nossa nova escravidão? Por que voltamos ao século 19? Para nós, depois de dois surtos de liberalismo, entre 1890 e 1929, e, depois, entre 1945 e 1984 (num total de quase 80 anos), retornamos ao comodismo governamentalista do século 19. O país perdeu o dinamismo incrível da industrialização do século 20 e volta a ser agora um país agropecuário e mineral. O resto fica por conta do governo, a despeito das privatizações na década de 90.

Por trás dessa mudança de rumo, uma nova escravidão: a dos impostos, a das leis trabalhistas, a da burocracia, a do funcionalismo público, a da comodidade, a do emprego público. Estamos voltando a ser o país das commodities e, ao mesmo tempo, do comodismo (desculpem o trocadilho). Foi-se o dinamismo que caracterizou a substituição de importações industriais na década de 50 e a expansão de exportações de manufaturados nas décadas de 60 e 70.

Cabe observar aqui finalmente como alguns erros severos na política cambial nos últimos 15 anos contribuíram fortemente para motivar esta nova escravidão, que levou novamente o país a ter um crescimento pífio e medíocre - como acontecera no século 19.

Eis um resumo dos principais números de Maddison, que refletem estas nossas observações sobre o crescimento econômico do Brasil de 1808 a 2006:

Fases
1808-1890.... 1,95%
1890-1929.... 3,13%
1929-1981.... 5,72%
1981-2006.... 2,02%
Fonte: A. Maddison, The world economy, Monitoring the world economy e Desempenho da economia mundial.

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