segunda-feira, setembro 24, 2007

Agronegócio, indústria e taxa de câmbio
Luiz Carlos Bresser-pereira, Folha de S. Paulo

É preciso um acordo que garanta uma taxa de câmbio mais alta e estável para os agricultores e para a indústria

O 4º Fórum de Economia da Fundação Getulio Vargas, realizado na última semana, em São Paulo, debateu os problemas fundamentais da economia brasileira. É impossível resumi-lo aqui, mas creio que alguns fatos ficaram claros: há períodos na história dos países em que esses experimentam processos extraordinários de crescimento econômico; esses períodos estão sempre associados a uma estratégia nacional de desenvolvimento caracterizada por taxa de câmbio competitiva, que estimula os investimentos voltados para as exportações.
Enquanto países como a China, a Índia e a Argentina estão vivendo períodos como esse, o Brasil está ficando cada vez mais para trás, porque, em vez de ter um acordo nacional, segue os princípios da ortodoxia convencional: ajuste fiscal frouxo, juros altos e câmbio apreciado [DÓLAR BAIXO].
Por outro lado, ficou claro que o governo não alterará a política macroeconômica que é responsável por esse atraso crescente, porque se sente no melhor dos mundos possíveis.
Graças a um enorme crescimento das exportações ocorrido nos últimos cinco anos, as taxas de crescimento melhoraram, a inflação está baixa, a taxa de juros real caiu, os indicadores sociais são de redução da pobreza e de desconcentração da renda, a popularidade do presidente continua elevada, e, portanto, o papel do governo é apenas deixar que a economia "siga seu curso natural".
Ficou claro também que a sobreapreciação do câmbio resulta, de um lado, da atração que os juros altos e as perspectivas de lucro com o álcool proporcionam, e, de outro, da doença holandesa - ou seja, de exportações usando recursos naturais que pressionam a taxa de câmbio para baixo e vão causando inexoravelmente a desindustrialização. O único participante que discordou desse diagnóstico afirmou que não havia doença holandesa "porque o agronegócio e o setor mineral, que dariam origem à doença holandesa, são sofisticados tecnologicamente".

Ora, não é necessário que o setor seja de baixo valor adicionado per capita para que origine doença holandesa. Na indústria do petróleo, os salários médios pagos são muito altos, atestando o alto valor adicionado.
Não creio, entretanto, que alguém possa supor que o Brasil poderá empregar sua imensa população apenas com agronegócio e mineração. Ou que esteja disposto a renunciar a qualquer outra atividade comercializável que não sejam essas.
Por outro lado, os próprios representantes do agronegócio no fórum deixaram claro que a atual taxa de câmbio não é em absoluto satisfatória para eles. Com essas taxas, só são realmente rentáveis as explorações agrícolas próximas aos portos.
Conclui-se, portanto, que é possível estabelecer um acordo nacional entre o agronegócio e a indústria de transformação sobre como neutralizar a doença holandesa e retomar o verdadeiro desenvolvimento econômico.
Um acordo que garanta uma taxa de câmbio um pouco mais alta e mais estável para os agricultores e que garanta uma taxa de câmbio substancialmente maior do que a atual para a indústria brasileira. Para isso, será necessário promover a depreciação da moeda por meio de forte e provisório controle de entrada de capitais, estabelecer em seguida uma contribuição sobre uma parcela da depreciação obtida e criar um fundo de estabilização dos preços agrícolas. Ou, em outras palavras, que também o governo se volte para o desenvolvimento.

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