sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Índio americano cultivava pimenta há 6.100 anos

Análise de fósseis microscópicos identifica técnicas complexas de agricultura em sete sítios arqueológicos da América

Sementes de espécies de pimenteiras foram achadas em associação ao milho; novos estudos vão enfocar áreas no território brasileiro

EDUARDO GERAQUE, FOLHA CIÊNCIA

Há 6.100 anos, antes mesmo de os índios americanos inventarem a cerâmica, eles já dominavam o cultivo da pimenta e do pimentão. O que sustenta a tese de que em vários pontos do continente já se praticava uma agricultura complexa.

Registros arqueológicos apresentados hoje na revista "Science" mostram que, depois dessas domesticações, as variedades de pimenta espalharam-se pelas Américas. Após os europeus atravessarem o Atlântico, elas acabaram ganhando o mundo também.

"Acredito que as pimentas começaram a ser usadas como condimento pelo mesmo motivo que as torna populares hoje. O sabor é bom e deixa a enfadonha dieta do dia-a-dia muito mais interessante", disse à Folha a arqueóloga Linda Perry, do Museu Smithsonian de História Natural, em Washington.

A pesquisadora, primeira autora do artigo científico, analisou o material fóssil (sementes principalmente) de sete localidades, dispersas pelas Américas e localizadas em cinco países: Bahamas, Equador, Panamá, Peru e Venezuela.

Em todos os sítios arqueológicos estudados as pimentas de cinco espécies do gênero Capiscum (ao qual pertencem o chili mexicano, a páprica e a malagueta) apareceram junto com o milho, base da dieta indígena.

"Nossas evidências mostram que essas duas plantas migraram juntas ao longo das Américas." Para a pesquisadora, o milho e a pimenta formaram uma espécie de complexo alimentar daquela época.
Complexidade - Como analisou a presença de sementes fossilizadas de pimenta e de outros alimentos tanto no solo quanto em fragmentos de rochas, de ferramentas de pedra e de pedaços de cerâmica (no caso das amostras mais recentes), Perry pôde evidenciar a forte presença de uma agricultura complexa nos pontos estudados.

Segundo a pesquisadora, no sítio de Loma Alta, no Equador, o mais antigo a ser estudado, havia uma série de evidências que mostravam a importância da agricultura para a região."Eles tinham um sistema complexo de agricultura por lá. Havia uma preocupação com a existência de área irrigáveis naturalmente", comenta Perry, em seu estudo publicado hoje.O artigo colabora ainda com novos dados sobre a história da domesticação das pimentas.

"As evidências apenas botânicas mostravam até agora que a pimenta poderia ter sido domesticada há 6.000 anos no México. Nosso material fóssil mostra que já havia domesticação da pimenta no Equador há 6.100 anos", afirma a cientista.

"Mas não temos condições de precisar com exatidão o local do primeiro centro de domesticação e dispersão ainda", analisa. Provavelmente, segundo os cientistas, a pimenta chegou domesticada ao Equador.

"A origem mesmo do Capsicum foi na Bolívia. E, talvez, a espécie domesticada no Equador não esteja entre as cinco mais importantes do ponto de vista econômico", afirma Perry.Bastante confiante em seu método de rastrear as dietas pré-históricas, Perry admite que a história da pimenta está longe de chegar ao fim.

"Estamos animados com os microfósseis. Eles nos permitem traçar a origem, a domesticação e a dispersão das pimentas. Temos é que achar mais sítios", avisa a pesquisadora, que agora quer vir para o Brasil.

"O potencial de acharmos fósseis de pimenta no Brasil é muito grande. Nossas próximas pesquisas poderão revelar novos padrões interessantes."

Há cerca de 10 mil anos o homem começa a praticar a agricultura, a domesticação de animais.
Com o aumento populacional, os produtos disponíveis na natureza tornam-se insuficientes para o sustento. O homem deixa, portanto, de ser coletor/caçador, torna-se agricultor - e dá início ao processo civilizatório.
Leia mais sobre a origem da agricultura (ou seja, sobre o início da civilização) na Wikipédia.

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