Doença holandesa e estagnação
Economista Luiz Carlos Bresser-pereira, na Folha
"Não há desenvolvimento econômico possível sem taxa de câmbio competitiva.
Ocorre que países em desenvolvimento como o Brasil sofrem os efeitos da tendência à manutenção da taxa de câmbio em um nível relativamente apreciado. Ora, uma taxa de câmbio relativamente apreciada [dólar baixo]inviabiliza a produção de bens com alto valor adicionado per capita, e, em conseqüência, o país não cresce." ÍNTEGRA
Doutor Bresser explica que o Brasil cresceu bastante de 1930 a 1980, quando se defendia da "doença holandesa" (dólar baixo).
Tentemos entender. Suponha que 1 dólar = 3 reais.
Um comprador tem a opção de comprar um produto no exterior por 1.000 dólares. Ou no mercado interno por 3.000 reais. Neste caso, tanto faz comprar aqui ou importar.
Agora, suponha que o dólar tenha baixado. 1 dólar = 2 reais.
O comprador vai refazer as contas:
a) produto nacional = 3.000 reais
b) produto importado = 1.000 dólares = 2.000 reais
Óbvio que o comprador vai comprar o importado, que está mais barato.
Algumas conseqüências:
1) haverá violenta pressão para que o preço dos produtos nacionais caia
2) parte das empresas não suportarão a concorrência estrangeira: quebram, fecham
3) as empresas farão de tudo para reduzir custos. Claro que uma das primeiras vítimas é o salário dos trabalhadores.
No fundo, o preço de um produto é determinado pelas horas trabalhadas (“custo de produção”, na linguagem dos economistas).
Por exemplo: um alqueire de terra produz cerca de 300 sacos de milho ou 100 de feijão (com custos de produção parecidos).
Por essa razão, um saco de feijão vale o triplo de um saco de milho (números aproximados).
O preço das mercadorias reflete as horas trabalhadas em sua produção.
Por isso que desvalorizar o dólar é desvalorizar as horas trabalhadas pelos brasileiros. É diminuir lucro e salário.
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