segunda-feira, novembro 06, 2006

A Argentina aprendeu (e o Brasil?)
O economista, professor da FGV, Luiz Carlos Bresser-pereira, escreveu na Folha de hoje um lúcido e didático artigo comparando dados da política econômica da Argentina (bem sucedida) com os do Brasil.
Trechos:
* Falar a favor das políticas econômicas adotadas pela Argentina implica contradizer o saber hegemônico segundo o qual Néstor Kirchner estaria fazendo uma gestão "populista" na economia, enquanto o governo Lula seria um exemplo de bom comportamento.
*Não é isso, entretanto, o que dizem os dados: enquanto a Argentina continua a crescer a taxas aceleradas e já compensou com sobras as perdas da grande crise de 2001, o Brasil se mantém quase estagnado, não obstante a conjuntura internacional muito favorável.
Crescimento médio do PIB (2003-06):
Brasil - 2,8
Argentina - 8,9
Inflação 2006:
Brasil - 3 %
Argentina - 11 %
Taxa de juro real em 2006:
Brasil- 10 %
Argentina - 0,8 %
Déficit fiscal/PIB (2006):
Brasil - 3,5 % (gasta mais que arrecada)
Argentina - economiza 1,7 % (superávit)
*populismo econômico é gastar mais do que se arrecada: se for a organização do Estado que gasta além de suas possibilidades, o populismo será fiscal; se for o Estado-nação ou país que deixa sua taxa de câmbio se apreciar, o populismo será cambial. [o Brasil está praticando os dois tipos]
*O populismo cambial, por sua vez, está diretamente relacionado com a taxa de câmbio apreciada, que aumenta artificialmente os salários reais e o consumo tanto de bens importados como de produtos cujo preço é determinado no mercado internacional. [eta nóis véio de novo na lista]
*Na Argentina, a taxa de câmbio continua depreciada, apesar da pressão da ortodoxia convencional no sentido de apreciá-la "para combater a inflação". A resistência da Argentina em reapreciar sua moeda é central para sua estratégia de retomada do desenvolvimento, como é central a sua decisão de impor imposto de exportação sobre os produtos agropecuários que podem ser causa de "doença holandesa", ou seja, a apreciação artificial do câmbio - sem, porém, com isso prejudicar a lucratividade das exportações.
*Os argentinos aprenderam duramente com a crise de 2001 como é importante manter a taxa de câmbio competitiva, e, como os países asiáticos, não mais aceitam a política de crescimento com poupança externa que o Norte nos aconselha.
*Com uma política econômica baseada, de um lado, em ajuste fiscal firme, e, de outro, em taxa de juro baixa combinada com taxa de câmbio competitiva, a Argentina cresce e está se tornando um exemplo de novo desenvolvimentismo na América Latina.
*Enquanto isso, a ortodoxia convencional à qual interessa câmbio baixo e juro alto cobre de elogios o Brasil que não cresce.
*Teremos afinal, na região, um país [a Argentina] que rejeitou os conselhos e as pressões do Norte, reconstruiu sua nação e reaprendeu o caminho do desenvolvimento econômico.
Saiba mais sobre doença holandesa - "A "doença" foi identificada no fim dos anos 1970 na Holanda, que passou a exportar fortemente gás natural. A exportação provocou grande entrada de dólares, que valorizou muito a moeda local (na época, o florim). O câmbio valorizado tirou a competitividade da indústria, estimulou importações e acabou levando a uma desindustrialização" LEIA MAIS
Google
online
Google