VIVA O CELULAR
Chega um rapaz, de meia idade, aparência humilde e sofrida, de bicicleta velha, de bermudão e sandálias surradas, para catar sucatas, latinhas, essas coisas recicláveis. Conversador que só ele. Me conta que a situação anda brava, está desempregado. “Ainda bem que o governo ajuda. A Bolsa Família é pequena, mas serve.”
Conta que também recebe cestas básicas daqui e dali. É facial conseguir, pergunto. “Ah, se o cara for esperto, consegue várias cestas, pois há diversas instituições dando.”
Por que não aprende uma profissão? “Bem que eu queria, não pra mim, mas pro filho, mas aonde ensinam?”
Fala da mulher doente que faz mais de ano que está na fila de operação (“vai lá no posto e eles sempre mandam voltar depois”), fala do filho meio descabeçado, da nora de 16 anos, grávida. Do menino que caiu da árvore e quebrou o braço. Dos guris que estão indo mal na escola (“não gostam”).
Toca o celular. Ele atende, não sem um certo constrangimento. Parece que quer esconder o aparelho atrás da orelha, da cabeça, sei lá. Mas orelha não é tão ampla assim.
- Alôô, aqui é o Leoooniiiildooo....
Pensei comigo: como pode ter gente que ainda critica a privatização!
Há dez anos, um aparelho tipo “tijolão” custava de dois a três mil dólares. E não havia linha para pronta entrega. Era preciso ser sortudo para tirar um no sorteio e depois aguardar a vontade da Telesp. Faziam-se inscrições em nome de todos os familiares para aumentar a chance.
Viva a tecnologia! Viva a concorrência que barateou e democratizou o celular!
Ele se foi, pedalando. Eu fiquei, pensando. Tecnologia, concorrência, essas coisas.
Sem escolas que ensinem, ensinem, ensinem, tem jeito?
1 Comments:
Tião,um amigo teve no Cati de Itaberá e ficou sabendo que eles vendem de 150 a 200 mil mudas de árvores nativas por mês.Vc sabia disso?
Dê uma pesquisada pra nós,seus leitores fiéis.
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