quarta-feira, setembro 27, 2006

MILAGRE DE SÃO LULA
Coitado do São João, o arroz
Antes da tecnologia (e do conseqüente capitalismo) a produção era realizada em grandes fazendas. Praticamente não havia comércio (porque não havia produção excedente para venda). Cada fazenda produzia de tudo para o próprio consumo. Assim eram as fazendas no tempo dos gregos e romanos. Assim ainda eram as fazendas de nossa região até o início do século 20, antes da industrialização brasileira.
O fazendeiro distribuía os trabalhadores nas diversas atividades: plantação de milho, feijão, café, mandioca. Criação de cavalos, burros, bois, porcos e galinhas. Fabricação de farinha de monjolo, de açúcar mascavo, polvilho, roupas de teares, queijos etc.

Uma maneira de entender economia é considerar, guardadas as proporções, um país como uma grande fazenda, dessas antigas. Aliás, “economia”, em grego, significa “governo da casa”, governo da família, da fazenda.

Num país como o Brasil atual, obviamente ninguém tem poder, como tinham os antigos fazendeiros, de determinar o que cada um deve fazer ou produzir. O que, então, determina a atividade de cada habitante?

O que determina é a procura. Sempre que houver demanda por determinado produto, haverá quem se disponha a produzi-lo e ofertá-lo ao mercado, aos compradores.

Entretanto, o governo conta com mecanismos para interferir na oferta e procura. Tais mecanismos são chamados de macroeconomia. É a quantidade de moeda em circulação. O volume de crédito e a taxa de juro. Mais ou menos impostos (ou incentivos fiscais). O valor do salário (que influi na procura). A taxa de câmbio (que influi na entrada/saída de mercadorias do país). A burocracia. Etc.

Os mecanismos de macroeconomia substituíram a autoridade do antigo “chefe da casa-fazenda”. A macroeconomia não “manda”, mas indica qual plantação ou fábrica devem ser ampliadas, quais devem ter a produção reduzida.

Os trabalhadores (empresários) reagem, respondem com a lógica do lucro. “Esta atividade está dando pouco lucro, então paro e/ou vou para outra mais lucrativa.”

Em outras palavras, a macroeconomia cria (ou não) ambiente mais ou menos propício aos negócios, ou seja, estimula (ou não) os trabalhadores a produzirem mais ou menos. É através da macroeconomia que o governo planeja a produção do país, com o mesmo objetivo dos antigos fazendeiros.

Nas últimas décadas, para combater a inflação (que não é culpa dos comerciantes, mas conseqüência do excesso de moeda emitida para o governo pagar suas contas!) o Brasil tem feito mudanças bruscas na macroeconomia. E o resultado é ruím, pois o País não cresce mais
Em 1995 a carga tributária era de 26 % do PIB. Hoje é de 38 %. Significa que de cada 100 trabalhadores, o governo determinou que 38 trabalhem e produzam exclusivamente para sustentar o próprio governo (antes eram 26)!

Outra coisa terrível é o zigue-zague do câmbio. O valor baixo do dólar afeta fortemente a agricultura (setor onde realmente funciona a concorrência; são milhares de produtores, sem condições de combinar preços).

“Diminuam a produção: dólar baixo reduz a renda”. Os agricultores, entre magoados e quebrados, “obedecem” a ordem. Resultado: a produção vai cair quase 2 % em 2006. Pelo terceiro ano consecutivo, haverá redução de área de plantio no Brasil!

Puxa vida, numa “fazenda” onde há fome, qual fazendeiro teria coragem de dar ordem para reduzir a plantação?

Veja a contradição: o governo do “fome zero” ordena, através da macroeconomia, que os produtores reduzam o plantio!

Quem percebe tamanha contradição?

Ademais a “ordem” para reduzir o plantio é sinalizada através do barateamento (que acompanha o dólar) da cesta básica. Barateamento que os consumidores, especialmente os mais humildes, entendem (e a propaganda oficial martela) como sinal de milagre de São Lula!

Coitado do São João, o arroz, que despencou de 13 para 7 reais!

Acorda, Brasil!
P.S.: leia dois artigos de economistas sobre o assunto, publicados hoje na Folha: aqui e ali
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