BURACO NO SAIBRO, CASA-GRANDE E SENZALA, CONSTITUINTE...
Falei ontem do gaiato que estragou o saibro da excelente quadra de tênis de Itapeva. Sujeito provavelmente bem intencionado, mas desinformado. Achou porque achou que poderia melhorar ainda mais a quadra. Não falou com a diretoria, não falou com aqueles que adquiriram certa experiência quando o piso foi feito, não falou com ninguém. Como se vê, o sujeito é decidido, foi lá e fez o “serviço”. Resultado: caca das grandes.
Taí um pequeno exemplo da importância da democracia (pode crer: democracia é mesmo meu horizonte!)
Porque democracia é o único regime que dá liberdade para que cada um proponha o que quiser. Mas a proposta tem que ser divulgada, discutida. Se não tiver fundamento, “arquive-se”. Se tiver, será certamente melhorada pelos entendidos e interessados. Democracia, é pois, uma construção coletiva.
Nosso amigo tenista, no caso, foi um ditador: imaginou, foi lá e mandou brasa!
O funcionário, subalterno, obedeceu, mesmo intuindo que daria zebra. Mas ele foi ensinado desde criança a obedecer! Seu pai obedecia, seu avô obedecia. Coisa de casa-grande e senzala. Para o humilde funcionário, ordens da casa-grande são ordens, devem ser cumpridas, mesmo que sejam erradas. Ninguém lhe ensinou a dialogar, argumentar, de igual para igual, mesmo em situações em que ele é senhor da situação, em situações em que ele sabe mais. Ele sabia que a ordem estava errada, mesmo assim a cumpriu. Deve haver também, é claro, uma boa pitada de comodismo, desinteresse e sei lá mais o quê : “eles são brancos, que se entendam! Não me consultaram, se estragar que se f.”
Voltando a democracia. “Ah, mas tomar decisão na democracia dá muito trabalho, é demorada, tem que falar e consultar muita gente!”. De fato tem, mas os críticos se esquecem que esse tempo é necessário para que a idéia amadureça e se evitem voluntarismos e besteiras como a da quadra! Mesmo porque quando as decisões tomadas são da concordância da maioria, as demandas por mudanças se apequenam.
Chego pro almoço, cansado de remendar saibro. Cadê a Folha do Sul? Leio com avidez. Chego no artigo do advogado Loriaga Leão. Vejo que ele defende uma nova constituinte como “o único remédio verdadeiramente eficaz contra toda essa falência e bandalheira, generalizada.”
Loriaga discorda de jornalistas e jornais contrários à constituinte. E eu discordo dele.
Para mim, o problema do Brasil não é de leis, mas de cumprimento das leis já existentes! A atual Constituição prevê instrumentos de boa gestão. Há coisas que uns e outros acham erradas, especialmente no campo da economia? Há sim, mas é só propor emendas, a própria Constituição prevê rituais de mudança. Se não mudam mais é porque as forças políticas acham que tá bom assim! Óbvio!
A Constituição prevê que as decisões sejam transparentes, aceitas pela maioria. E que o controle, a fiscalização, a tomada de contas seja rigorosa! Mas quem cumpre? Qual Legislativo, qual Câmara Municipal cumpre a função de controlar o Executivo, para evitar as maracutaias noticiadas em todo jornal, todo dia? Mas a lei manda que controlem! Mesmo assim a culpa é da lei?
Democracia é o único regime que aceita os homens como eles são: imperfeitos, vulneráveis, perigosos, abelhudos, malandros, que gostam de levar vantagens! Mas também vaidosos, cheios de auto-estima: não gostam de publicidade de suas fraquezas. Mas adoram que suas virtudes sejam divulgadas!
Por isso democracia tem um psicologia baseada no real comportamento humano. Por isso determina: “quem toma decisão sozinho tende a passar a perna nos outros! Por isso participem, discutam, em igualdade de condições.”
Por isso determina: “não confiem cegamente em ninguém, nem em autoridades: que uns e umas confiram as contas das outras, porque seguro morreu de velho, a carne é fraca.”
Por isso determina: “punam os transgressores, na forma da lei, que é igual para todos.”
Falei ontem do gaiato que estragou o saibro da excelente quadra de tênis de Itapeva. Sujeito provavelmente bem intencionado, mas desinformado. Achou porque achou que poderia melhorar ainda mais a quadra. Não falou com a diretoria, não falou com aqueles que adquiriram certa experiência quando o piso foi feito, não falou com ninguém. Como se vê, o sujeito é decidido, foi lá e fez o “serviço”. Resultado: caca das grandes.
Taí um pequeno exemplo da importância da democracia (pode crer: democracia é mesmo meu horizonte!)
Porque democracia é o único regime que dá liberdade para que cada um proponha o que quiser. Mas a proposta tem que ser divulgada, discutida. Se não tiver fundamento, “arquive-se”. Se tiver, será certamente melhorada pelos entendidos e interessados. Democracia, é pois, uma construção coletiva.
Nosso amigo tenista, no caso, foi um ditador: imaginou, foi lá e mandou brasa!
O funcionário, subalterno, obedeceu, mesmo intuindo que daria zebra. Mas ele foi ensinado desde criança a obedecer! Seu pai obedecia, seu avô obedecia. Coisa de casa-grande e senzala. Para o humilde funcionário, ordens da casa-grande são ordens, devem ser cumpridas, mesmo que sejam erradas. Ninguém lhe ensinou a dialogar, argumentar, de igual para igual, mesmo em situações em que ele é senhor da situação, em situações em que ele sabe mais. Ele sabia que a ordem estava errada, mesmo assim a cumpriu. Deve haver também, é claro, uma boa pitada de comodismo, desinteresse e sei lá mais o quê : “eles são brancos, que se entendam! Não me consultaram, se estragar que se f.”
Voltando a democracia. “Ah, mas tomar decisão na democracia dá muito trabalho, é demorada, tem que falar e consultar muita gente!”. De fato tem, mas os críticos se esquecem que esse tempo é necessário para que a idéia amadureça e se evitem voluntarismos e besteiras como a da quadra! Mesmo porque quando as decisões tomadas são da concordância da maioria, as demandas por mudanças se apequenam.
Chego pro almoço, cansado de remendar saibro. Cadê a Folha do Sul? Leio com avidez. Chego no artigo do advogado Loriaga Leão. Vejo que ele defende uma nova constituinte como “o único remédio verdadeiramente eficaz contra toda essa falência e bandalheira, generalizada.”
Loriaga discorda de jornalistas e jornais contrários à constituinte. E eu discordo dele.
Para mim, o problema do Brasil não é de leis, mas de cumprimento das leis já existentes! A atual Constituição prevê instrumentos de boa gestão. Há coisas que uns e outros acham erradas, especialmente no campo da economia? Há sim, mas é só propor emendas, a própria Constituição prevê rituais de mudança. Se não mudam mais é porque as forças políticas acham que tá bom assim! Óbvio!
A Constituição prevê que as decisões sejam transparentes, aceitas pela maioria. E que o controle, a fiscalização, a tomada de contas seja rigorosa! Mas quem cumpre? Qual Legislativo, qual Câmara Municipal cumpre a função de controlar o Executivo, para evitar as maracutaias noticiadas em todo jornal, todo dia? Mas a lei manda que controlem! Mesmo assim a culpa é da lei?
Democracia é o único regime que aceita os homens como eles são: imperfeitos, vulneráveis, perigosos, abelhudos, malandros, que gostam de levar vantagens! Mas também vaidosos, cheios de auto-estima: não gostam de publicidade de suas fraquezas. Mas adoram que suas virtudes sejam divulgadas!
Por isso democracia tem um psicologia baseada no real comportamento humano. Por isso determina: “quem toma decisão sozinho tende a passar a perna nos outros! Por isso participem, discutam, em igualdade de condições.”
Por isso determina: “não confiem cegamente em ninguém, nem em autoridades: que uns e umas confiram as contas das outras, porque seguro morreu de velho, a carne é fraca.”
Por isso determina: “punam os transgressores, na forma da lei, que é igual para todos.”
Por isso determina: "sejam transparentes, porque no escuro todos os gatos são partos."
Mas o advogado acha que “detonar Lula em nada resolve o gravíssimo e crônico problema de “instituições falidas”, matriz prostituída de todas as desgraças nacionais.”
Lula também acha isso. Que a culpa é das instituições, do sistema. Como se o sistema não fosse feito por homens. Como se o sistema tomasse automaticamente decisões em nome de políticos.
Como se punição não servisse de exemplo. Como se impunidade pudesse levar ao aperfeiçoamento das instituições. Tenha dó.
Meu Deus, sem controle rigoroso, há lei milagrosa que dê jeito?
Em tempo: haverá punição na quadra? Provavelmente a casa-grande se safe e a corda arrebente no lado mais fraco. No Brasil, não é sempre assim?
Marcadores: Tênis
2 Comments:
Exigir democracia e discussão com algumas pessoas que freqüentam o clube de tênis me parece otimismo demais, para não dizer utopia. Me diga apenas uma vez que aquele quadro de regras tenha sido seguido.
Realmente é desastrosa a combinação entre ignorância e prepotência (diga-se de passagem muito comum nos cargos executivos de hoje).
Além da situação calamitosa do saibro, outro problema é ver as pessoas que estão participando do torneio sem possibilidade de treinar. Já que, na prática, existe somente uma única quadra disponível, pois a outra, na maioria das vezes, está ocupada pelas aulas.
Não tenha a menor dúvida de que a corda vai estourar no lado mais fraco. Ou você espera alguma coerência por parte dos "coroné"?
Brilhante a analogia feita sobre democracia e o estrago feito na quadra de saibro do TCI.E caimos naquele ditado antigo duas cabeças pensam melhor que uma.O cara toma uma decisão sozinho e dá no que dá.
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