sábado, maio 04, 2013

Tachado de louco, agricultor de SC 'revolucionou' plantio no Brasil

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WILHAN SANTIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRINA
Inconformado com a perda de terras férteis para a erosão, o agricultor Herbert Bartz viajou à Europa e aos EUA nos anos 1970 em busca de um sistema que permitisse a conservação do solo.
Quando começou a plantar sem retirar da terra a palha da safra anterior, foi tachado de louco. Hoje o plantio direto está em 85% da área plantada no país.
Sem diploma universitário, ele recebeu nesta semana, por ter consolidado o Brasil como referência mundial em plantio direto, o título de doutor honoris causa da Universidade Estadual de Londrina.
*
Nasci em Rio do Sul (SC), em 1937. Sou filho de alemães. Minha mãe era enfermeira, enviada ao país pela Cruz Vermelha. Meu pai, um imigrante que fugiu da crise de 1929.
Quando tinha um ano, fomos morar na Alemanha para minha mãe tratar uma doença no coração. A ideia era logo voltar ao Brasil. Mas, quando acabou o tratamento, a Segunda Guerra Mundial havia começado. Fomos impedidos de deixar o país.
Em 1945, meu pai foi convocado pelo exército alemão e enviado à Rússia. Foi capturado e feito prisioneiro. Com minha mãe e quatro irmãos, fomos morar em Dresden, com meus avós maternos.

Herbert Bartz

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Sergio Ranalli/Folhapress
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O agricultor Herbert Bartz em solo com palha, característica do sistema de plantio direto
Na noite de 13 de fevereiro houve um grande bombardeio aéreo dos aliados a Dresden. A cidade inteira foi incendiada. Ficamos no porão de uma casa. Éramos 15. O calor chegava a 80ºC por causa do fogo na parte externa. Sobrevivemos porque senhoras jogavam água sobre a gente.
Quando saí, vi esqueletos queimados sobre o asfalto.
Meu pai foi libertado da Rússia em 1948, pesando 44 quilos. Minha mãe morreu em 1958 e meu pai decidiu que era o momento de buscar prosperidade no Brasil. Abandonei a faculdade de engenharia hidráulica no primeiro ano e chegamos em 1960.
Em Rolândia (PR), comprou um sítio, que chamou de Rhenânia, região da Alemanha onde vivíamos.
Sergio Ranalli/Folhapress
O agricultor Herbert Bartz em solo com palha, característica do sistema de plantio direto
O agricultor Herbert Bartz em solo com palha, característica do sistema de plantio direto
O café era o produto principal do norte paranaense. O sítio tinha 5.000 pés. Colhemos e erradicamos os cafezais. Percebemos que não nos adaptaríamos ao trabalho braçal que o café exigia.
Passamos a criar porcos e a plantar milho, arroz e trigo. Em 1964, comprei o primeiro saco de semente de soja.
Mas a prosperidade não chegava. Havia geadas e doenças como a febre aftosa.
Meu pai desanimou. Insisti em viver da terra. Em 1966 ele arrendou o sítio para mim. Investi em máquinas, arrendei terras dos vizinhos e passei a trabalhar mais ainda.
Porém as grandes perdas com a erosão me aborreciam muito. A prática era preparar o solo, deixando-o nu para fazer o plantio, e a cada chuva a terra era levada para os rios.
Numa noite de outubro de 1971, constatei que ou essa situação mudava ou não daria mais. Uma grande chuva estava se formando. Sempre que isso acontecia eu não conseguia dormir. Levantei e fui olhar a lavoura.
Foi uma tromba-d'água. Vi a água levando a terra e sementes recém-plantadas.
No Brasil, não havia solução para a erosão. Tinha que ver fora do país.
Na Alemanha não encontrei nada. Na Inglaterra vi agricultores que colhiam trigo e deixavam a palha no chão, mas a queimavam para plantar a safra seguinte, por causa dos maquinários que tinham. Não gostei.
Nos EUA, visitei o produtor Harry Young, que já plantava no sistema de plantio direto havia dez anos.
Vizinhos dele plantavam no chão coberto com palha. Fiquei eufórico, convencido de que ali estava a solução para o meu problema.
Encomendei uma semeadora própria para plantio direto. A máquina chegou ao Brasil em outubro de 1972.
LOUCO
Quando me viram plantando soja sobre a palha do trigo, os vizinhos me chamaram de louco. Até agrônomos e institutos de pesquisa se posicionaram contra mim. Chegaram a atear fogo à palha que deixei sobre o solo.
Surpreendentemente fui bem, com quase 30 sacas por hectare. Parte da safra chegou a ser embargada pela PF, pois um agrônomo denunciou que a soja era ilegal.
Em 1973, o preço do diesel disparou com a crise do petróleo. Passaram a se interessar pelo que fazia, porque o plantio direto economiza combustível, pois não é preciso fazer o preparo do solo.
Foram aparecendo herbicidas que matavam só as invasoras e máquinas mais eficientes para cortar a palha e fazer o plantio. Em 1977, já colhia 50 sacas por hectare. E o solo ficava mais fértil.
Aos poucos, colegas foram aderindo ao sistema.
Tenho certeza de que é possível, com o plantio direto, recuperar áreas degradadas. Não destruímos mais a terra, conseguimos construi-la.
Vão me homenagear com título de doutor. Eu que nem tenho diploma universitário. Sinto-me honrado e feliz.



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1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

É assim mesmo que funcionam as inovações no Brasil e no mundo: no começo elas parecem uma grande loucura, até virarem uma grande realidade. Parabéns ao Desbravador.

Na Político do Brasil, p. ex., A Diferença é que as pegadas do Leão são o Novo Caminho de Verdade.

Brincadeira à parte, nada contra o Aécio, Campos, Dilma, Marina… ( que até me parecem bons moços, de bons corações e de boas intenções) e nem contra nenhum dos possíveis pretendentes ao Palácio do Planalto, e nem a qualquer outro cargo, pois o sistema é assim, eles são produtos do sistema e são obrigados a dançar conforme a música. Quanto ao Leão, no modello que aí está, me parece mais fácil a raposada toda passar pelo vão de uma agulha do que o Leão conseguir uma legenda, convicto, porém, de que se o MMilagre acontecer terá muito mais votos do que o candidato a vereador lá de Angatuba/SP, como espinafra o Froes, e mais votos do que o grande e inolvidável Enéas Carneiro, com certeza. Vai ficar ali ó, pau-a-pau com a Leoa do PAC. Contudo, face a essa loucura toda, a ambição maior do Leão é colocar essa turma toda em volta de uma mesa grande, colocarmos todas as cartas sobre Ela, e sairmos Dela com um Projeto Novo e Alternativo a tudo isso ai, como todos os pós-militares nos prometaram, inclusive o PSDEMB-agregados e o PTMDB-agregados. Ninguém, sozinho, consegue ser tão bom e nem tão eficaz quanto todos nós juntos, unidos e mobilizados em torno de um grande e nobre ideal comum, face ao qual podemos mais, muito mais. Quem conseguir encarnar isso, melhor do que o Leão, que nunca considerei grande coisa e nem flor que se cheire, será o meu candidato. Por Luiz Felipe

8:57 AM  

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