Índios trocam a mata por emprego em frigorífico
Autor(es): Marli Lima |
Valor Econômico - 11/08/2010 |
Houve festa, dias atrás, na casa de Silvano Tupã Verá Centurião, índio avá-guarani, 26 anos, morador da aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu, Oeste do Paraná. Para comemorar o recebimento do primeiro salário, ele reuniu parentes e serviu linguiça, refrigerante e cerveja. Alguns vizinhos também assaram carne para marcar o acontecimento. Carmelícia Takua Rope Chamorro, 28, outra integrante da tribo que decidiu trabalhar fora, preferiu usar o dinheiro para comprar roupas para a família. "Ganhei um tênis, uma camisa e um short", conta o marido, o cacique Daniel Mbaraka Lopes, 32. Tudo começou quando Melci Karai Pa Pa Gonzalez, 28, decidiu "procurar emprego na cidade". Ele soube que a Cooperativa Lar, com sede no município paranaense de Medianeira, estava em busca de pessoal para o frigorífico de frangos, que fica em Matelândia, distante cerca de 40 quilômetros da tribo. "Será que aceitam indígena?", perguntou, na agência de emprego, e ouviu que podia tentar a vaga. Gonzalez conseguiu o trabalho em abril e levou mais três índios para o mesmo caminho. No começo, precisava acordar à 1h da madrugada e percorrer um bom trecho de bicicleta antes de chegar ao ponto em que o ônibus da cooperativa buscava o pessoal para o primeiro turno, que começa às 5 horas da manhã. A chegada dos primeiros índios não chamou a atenção da área de recursos humanos da Lar, já que eles tinham a documentação em dia e também carteira de trabalho. Mas logo Gonzalez foi perguntar se o transporte poderia chegar mais perto da tribo , porque havia mais avá-guaranis interessados em emprego. O supervisor administrativo da Lar, Luiz Gubert, foi falar com o cacique e surgiram mais 30 candidatos, que começaram o período de experiência em junho. Hoje, 41 índios trabalham no frigorífico (sendo dez mulheres) e outros estão preparando documentos, de olho em salário no fim do mês. Alguns deles já tinham feito serviços para organizações não governamentais ou para o governo, mas é a primeira vez que uma empresa privada dá uma chance para diversos membros da tribo. A cooperativa já manda um ônibus para um ponto bem mais próximo da aldeia. O interesse dos índios por registro em carteira coincidiu com a expansão do frigorífico da Lar e a busca por candidatos - serão abertas mil vagas nos próximos seis meses, sendo 300 para preenchimento imediato. A cooperativa distribuiu panfletos pelas cidades vizinhas com oferta de emprego e salário de R$ 652 mais benefícios, como plano de saúde e vale-compras de R$ 90, entre outros. A cooperativa também passou a oferecer R$ 100 para os empregados que indiquem nomes de pessoas que possam ser contratadas e permaneçam ao menos 90 dias no trabalho. A proximidade com o Paraguai e a facilidade que os moradores da região têm em ganhar mais comprando e vendendo mercadorias adquiridas naquele país dificultam a busca por trabalhadores fixos. MAIS |
1 Comments:
Os tempos mudam, quem acha que os índios deveriam viver caçando com arco e flecha como na época do descobrimento deve estar surpreso com esta matéria, todos evoluimos, é muita utopia achar que as pessoas deveriam parar no tempo. Sai o arco e flecha e entra o celular, notebook, tv, etc...
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