terça-feira, dezembro 15, 2009

Carta a Um Amigo Escritor



Caro Amigo Sebastião – Crônica Para um SPC Vencedor na Vida


Pois é, Caro Amigo Sebastião. Os rocamboles do tempo. Estamos dentro do olho do furacão, mas não sabemos o que fazer dele em nós, nem de nós nos labirintos dele. Espero que escrever sobre políticos de Itapeva, cidadela que já foi Faxina, não tenha enferrujado suas melhores idéias e intenções... Nem pense nisso.

Vc tem uma história de luta, mais do que isso, mais do que a minha até: uma historia de Sobrevivência. E já disse sabiamente Drummond: Toda historia é remorso. Nascido nos campos de macela de Itararé, perdendo a mãe, depois ainda piá de tudo perdendo o pai, vindo pra SP em busca de durar, resistir, escapar com viço, não pode fraquejar logo agora.

Quando digo que a vida não me deu limões, mas eu fiz limonadas de lágrimas, penso então em vc que nem lágrimas teve tempo de produzir, a vida foi dura com vc. Vendo vc agora, brilhante, lúcido, culto, inteligente, vencedor, fã de música clássica, pode se dizer que vc literalmente tb tirou de letra e deu um show.

Escreve bem, um comunista de carteirinha mas que, como eu, como Gandhi, era pela não-violência, preferiu a metralhadora dialética, as rajadas de verbos portentosos, para atiçar memórias éticas possíveis, sangrar comodidades palaciais de antros conservados em pose e formol...

Agora vem vc dizendo que vai parar de escrever. Onde já se viu isso? Nem pensar. Um dia mesmo me peguei pensando em parar de criar, de bolar coisas, de escrever – “Quero deixar, com minha literatura, a minha alma impressa na consciência do mundo” - e uma voz íntima (ego, id, consciência, resiliência, sabei-me lá) me cobrou na bucha: -Se vc parar, a insensibilidade vence. Vc perde pra vc mesmo. Bingo. Ou diria eureka!

Pois é, Caro Amigo SPC. Vc pode deixar de escrever sobre políticos medíocres que ficam ricos em impunidades públicas, mas continuar fazendo ficções, escrevendo suas doces e tristes memórias, contando sua vida vitoriosa, e mesmo contar como vc e seu filho lidaram com as agruras da vida, até sugeri o nome da obra-documentário “De Pai Pra Filho” – e me propus até a escrever um prefácio ou que fosse orelha para esse livro que em muito serviria às relações conflituosas entre pais e filhos nesses bicudos tempos tenebrosos de muito crack e pouco pão.

Escreva um outro romance. Passe a sua estadia na terra em lágrimas e palavras, como o seu belo “currículo” demasiado humano que aportou nas páginas do livro Assim Escrevem os Itarareenses, Primeira Antologia de Prosa de Itararé.

Não parece, SPC, mas vc parar de escrever, é como se o Jorge Chuéri parasse de pintar (está na alma dele), eu parasse de amar Itararé (está no meu DNA), o Maestro Gaya parasse de escrever arranjos musicais (Gaya é a Alma da Música), enfim, não faria sentido deixar tanta sensibilidade e talento na inércia em casa. Viajar? Viajar é na escrita. Sair de casa? Passear é dentro do livro. Vc com tudo o que passou, com o que venceu, tem é que dar testemunho, palestrar, dizer que, afinal, foi maior do que tantos os percalços que teve. Já pensou?

Eu que descobri que a vida é treino, tudo um estúdio a céu aberto, estamos sento testados, quero viver até o último segundo criando, e quando vierem me cerrar os olhos tristes, eu ainda olharei na face rosada de um anjo do último desejo e direi: -Que tal uma saideira estupidamente gelada? E então entrarei em Alfa, Brahma, Skol... Ômega...

Pois é, temos algumas afinidades tb letrais, Socialismo com S maiúsculo, Corinthians, escritas, amor por Itararé, mas eu canto numa freguesia mais megametrópole de uma Augusta Sampa com todos os problemas que tem, mas palco iluminado e aceitadora de vanguardas provocativas, vc está numa Itapeva que financeiramente e em termos de economia arrebenta, mas em alguns casos é conservadora, provinciana demais, iguais até a algumas cidades do norte-nordeste em que coronéis do lodo ditam, pior, quando envolvem ritos, religiões ou antros que usam reticências ou três pontinhos em vez de ética, transparência e humanismo de resultados...

Não Sebastião Pereira Costa, SPC, não pare de escrever, não agora, não ainda, não assim, não por isso, não deixe de criar, nas páginas em que vc denunciava negociatas ou Itapeva sendo dilapidada em erário público, diga de seus autores prediletos, comente os primeiros romances que leu, fale de sua lida para vencer em SP, fale de como escreve, como produz, deixe as intrigas políticas de lado e cria em alto e bom tom, porque, afinal, a arte é uma libertação e o show tem que continuar, custe o que custar, doa o que doer.

Vc vai perder para ex-amigos que se venderam por cargos, antros, poses, coisas sórdidas assim?

Sim, respire fundo, saia caminhar, frequente um clube mas fique na sua, seja o seu próprio clube, ouça Mozart, escute Nabuco de Verdi, torça pro Corinthians, leia Pablo Neruda, Ítalo Calvino, ouça jazz, releia os clássicos russos, mas não pare de escrever. Seria uma perda muito grande.

Estamos aqui, de alguma maneira do outro lado da web, da linha, do torpedo, do MP7 ou coisa que o valha, acompanhando o seu trabalho, tendo vc como exemplo, como é que vc vai afinar numa hora dessas? O escritor é aquele que mantém a chama acesa... Da esperança, de sonho de um público para o público, da arte como bandeira de luz...

Vamos, Camarada SPC, a sensibilidade unida, jamais será vencida!

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Itararé/SP

Poetinha Silas Correa Leite e Amigos Que Adoram o SPC

E-mail: poesilas@terra.com.br

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