terça-feira, setembro 23, 2008

Brasil levará mais 18 anos para ter um nível de desigualdade social 'aceitável'

Fabiana Ribeiro, O Globo

(Mas não vá na onda de que o desenvolvimento é obra deste ou daquele governo. Governos ajudam quando não atrapalham. Nosso desenvolvimento é fruto da revolução industrial brasileira, iniciada em 1930. Nessa época praticamente não havia classe média, quase todos eram pobres - mais de 90%; ainda em 1970 dois terços dos brasileiros eram pobres.
Em todo país (o primeiro foi a Inglaterra) tem sido assim: a indústria desencadeia um processo de multiplicação da produção. É claro que um trator, por exemplo, produz mais feijão do que cavalos. E é claro que o "feijão" excedente será consumido por alguém. No início, pelos poucos que tenham renda. Depois por cada vez mais pessoas, conforme vão sendo incluídas no processo industrial.
De modo que a concentração da renda EXCEDENTE em mãos de poucos no início é inerente ao processo de industrialização. E distribuição de renda sempre vai ocorrer, na medida em que a produção vai aumentando, os empregos vão sendo criados.)

O Brasil está menos desigual, mas ainda seria preciso quase duas décadas para atingir níveis mundiais aceitáveis. O economista Ricardo Paes de Barros, do Ipea, divulgou ontem um estudo com base nos dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2007), mostrando que seriam necessários mais 18 anos, com o mesmo ritmo atual de redução da desigualdade social, para que o indicador brasileiro seja comparável à do resto da humanidade.

— O Brasil está entre os países que mais reduzem a desigualdade no mundo. A renda dos 10% mais pobres cresce sete vezes mais do que a dos 10% mais ricos entre 2001 e 2007. Essa taxa de crescimento da renda dos 10% mais pobres é muito próxima da que se vê na China. Para os mais ricos, a comparação é com o Senegal — citou Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Ipea.

O Índice de Gini (quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade) caiu 7% de 2001 a 2006, de 0,593 para 0,552, considerando renda familiar per capita.

Trata-se de uma redução média de 1,2% ao ano, ritmo acentuado e sustentável. Para o Ipea, a desigualdade ideal seria um Gini de 0,40.

— Em seis anos, o país deu um grande passo. Porém, a desigualdade continua alta — ressaltou o pesquisador.

Ao reduzir a desigualdade, o Brasil também diminuiu a proporção de brasileiros na extrema pobreza — renda per capita de US$ 2 por dia. Em 2001, essa população correspondia a 17,3%; em 2007, 10,2%.

— O declínio na extrema pobreza foi três vezes mais rápido do que o necessário para atingir a primeira meta do milênio (reduzir a extrema pobreza à metade até 2015) — disse o economista do Ipea, que calcula que a meta fora atingida em 2006.

Na avaliação de Paes de Barros, o desafio para os próximos anos é aumentar a renda do trabalho na faixa da pobreza extrema. A renda dos 10% mais pobres cresceu 50% de 2001 a 2007, expansão puxada pela renda do não trabalho, com variação 96%. Já a renda do trabalho avançou 22% no período.

— O mercado de trabalho não consegue atingir os mais pobres.

São os programas de renda que fazem essa expansão — conclui o economista do Ipea Um outro estudo, do economista Ricardo Amorim, também do Ipea, mostra que com mais renda, 13,8 milhões de brasileiros avançaram de faixa social entre 2001 e 2007. Desse total, 10,2 milhões saíram da classe de renda baixa (até R$ 545,66 de renda familiar mensal ) para a classe de renda média (de R$ 545,66 a R$ 1.350,82). Os demais 3,6 milhões subiram da classe de renda média para a tida como alta, embora seja de renda acima de R$ 1.350,82 apenas.

Crescimento traz empregos, mesmo sem formação O forte crescimento econômico do país, uma melhora no mercado de trabalho, programas de transferência de renda (como o Bolsa Família, além da previdência) e o fortalecimento do salário mínimo explicam a mobilidade social no país, especialmente para os mais pobres, disse Ricardo Amorim, pesquisador do Ipea:
— Essa movimentação social não é vista na sociedade brasileira desde os anos 80.

Dos 10,2 milhões que mudaram de faixa, 57,1% têm até a quarta série de ensino fundamental — o que mostra que o crescimento econômico do país tem garantido emprego para a base da pirâmide, de pouca formação.

Já, no caso dos que passaram da faixa média para a alta, a escolaridade é melhor, ainda que baixa: apenas 1,8% tem ensino médio ou alcançou a universidade em 2001 e em 2007 essa proporção é de 5,6%.

— Educação não traz empregos, mas sim crescimento econômico — disse Amorim.

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