Camaradas, o povo também se equivoca
Marcelo Coelho, Folha de S. Paulo
UMA ONDA de inconformidade e ranger de dentes parece ser o principal efeito do livro "A Cabeça do Brasileiro", do sociólogo Alberto Carlos Almeida, recentemente publicado pela editora Record.
Marcelo Coelho, Folha de S. Paulo
UMA ONDA de inconformidade e ranger de dentes parece ser o principal efeito do livro "A Cabeça do Brasileiro", do sociólogo Alberto Carlos Almeida, recentemente publicado pela editora Record.
Em praticamente todas as questões propostas, os entrevistados com diploma de ensino superior se mostram menos fatalistas, menos conformistas, menos conservadores do que a população de baixa escolaridade. O abismo é total quando se compara o pensamento de uma mulher nordestina, analfabeta, idosa e moradora do interior com as opiniões de um jovem habitante de alguma capital do Sudeste.
Os resultados do livro caíram como uma péssima notícia nos ambientes em que é costume criticar "as elites" pelo atraso do país. Paralelamente, soam como música para os setores de classes média e alta urbanas que não engolem a popularidade do governo Lula.
O levantamento procurou utilizar questões bastante precisas para medir as diferenças de atitude da população. Pede-se, por exemplo, que o entrevistado diga se concorda ou não com esta frase: "Se alguém é eleito para um cargo público, deve usá-lo em benefício próprio, como se fosse sua propriedade".
Só 3% dos que têm curso superior concordam com isso. Entre os analfabetos, 40% acham a frase correta.
Na região Sul, 72% acham que a empregada deveria se sentar no sofá junto com a patroa para assistir à TV. No Nordeste, a proporção cai para 55%. Entre os analfabetos, 53% acham que a empregada deve pegar a cadeira na cozinha. Só (só?) 25% dos que têm curso superior têm essa opinião.
O homossexualismo masculino é rejeitado por ampla maioria: 78% dos brasileiros mostram-se "totalmente contra" essa prática. A opinião muda um pouco se o entrevistado é do Sudeste (85%) ou do Centro-Oeste (94%), e se tem menos de 24 anos (83%) ou mais de 60 (94%).
Novamente, o decisivo nesse ponto é a escolaridade: dos que têm curso superior, só (só?) 75% são totalmente contra, enquanto entre os analfabetos a rejeição sobe a 97%.
E por aí vai. Espancamento policial, censura aos meios de comunicação, socorro a empresas falimentares, desinteresse em cuidar do patrimônio público: praticamente não há coisa criticada pelo pensamento liberal-ilustrado que não tenha apoio dos setores menos escolarizados.
(...)
(Na pesquisa) não se atribui a nenhuma força imutável, como "o caráter nacional do brasileiro", a "herança ibérica" e coisas do gênero, a quantidade de opiniões antidemocráticas que pulula nas tabelas. O que falta é educação.
Verifica-se que é nas escolas, e não por meio da TV e das igrejas, por exemplo, que uma visão moderna do mundo pode ser socializada.
Não há o que comemorar, nem do que se enraivecer, com o livro de Alberto Carlos Almeida. Constitui um retrato - o que importa é mudá-lo. AQUI
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Engraçado, todo mundo diz e fala que educação é a salvação da lavoura. E é mesmo, alguém dúvida?
Pois é, aí vem um pesquisador qualificado e mostra, através de pesquisas, que realmente os brasileiros mais escolarizados tendem a ser mais democráticos, mais tolerantes, etc.
Atenção: "mais tolarentes" não significa "totalmente" tolerantes. Devagar com o andor.
Sabe o que aconteceu? A esquerda bocó desceu o pau no pesquisador, desqualificando-o como "elitista".
Sabe por quê? Por que a pesquisa comprovou que quanto mais anos de escola o sujeito tiver, menos apoio ele dá às idéias bocós: estatização, venezuelização, essas coisas tão ao gosto dos salvadores da pátria.
Ora, não há nenhuma novidade na pesquisa. Ela só confirma o que já acorre, faz tempo, nos países com bom nível educacional.
Por acaso, a esquerda bocó, autoritária ganha eleições na Inglaterra, na França, na Alemanha, na Espanha, no Japão, nos EUA ...? Não, não, nem a esquerda bocó, nem a direita bocó.
Viva a educação!
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