Cuidar ou governar?
Antropólago Roberto DaMatta, no Estadão: "Presidentes governam, demagogos cuidam; administradores decidem, populistas prometem e adiam; os amantes cuidam, os cônjuges governam; filhos são cuidados, sobrinhos governados; para os amigos e correligionários (sobretudo os aloprados), a parcialidade singular do afago - esse irmão do cuidar; para os inimigos, a dura imparcialidade do governo (que, quando quer, trata a todos como sujeitos da lei e do mercado); o rei, o senhor feudal e o coronelão (de direita e, agora, de esquerda) cuidam; presidentes liberais (essa expressão que, no Brasil, suja a boca) governam;
(...)
O governar inclui; o cuidar exclui. Governar requer transparência: é coisa da rua; já o cuidar - realizado com a ética da casa - busca o plano B e o segredo. Quem cuida hierarquiza o mundo entre dois públicos: o interno (que é nosso) e o externo (o deles); daí o nepotismo ou o aparelhamento: o apadrinhamento partidário. Para quem governa, os adversários são fonte de aperfeiçoamento e de legitimidade; quem cuida só tem inimigos mortais ou despeitados que desejam o seu fim. Cuidar é buscar culpados (que nada têm a ver com o governo); governar é assumir, dirigir, corrigir e enfrentar.
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Cuidar é governar mais para os companheiros e para os pobres; governar é administrar para todos os cidadãos, inclusive os pobres; cuidar é assumir a política como mendacidade, aceitando imoralmente que ela, por definição, seja uma prática imoral.
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Eu não tenho dúvida de que o tão procurado encontro Iluminista entre a Razão e a Fé, a Utopia e o Bom-Senso, a Justiça e a Compaixão passa, no Brasil, pelo diálogo entre o Cuidar e o Governar." ÍNTEGRA
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