domingo, dezembro 10, 2006

Especialista defende pausa na distribuição de renda

Folha: "O economista Sergei Soares, especialista em desigualdade social do Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada), vinculado ao Ministério do Planejamento, afirma que o governo deveria "dar um tempo" na distribuição de renda para fazer o país voltar a crescer. "Sempre fui uma pessoa profundamente preocupada com distribuição de renda. Mas temos de dar um tempo. Quando o nosso PIB tiver crescido uns 10%, o país vai estar com muito mais sobra fiscal. Aí podemos continuar", afirma.
FOLHA - A estagnação da classe média é fruto apenas do baixo crescimento ou há um aumento do peso tributário sobre ela?
SERGEI SOARES - Acho que são as duas coisas: o baixo crescimento e um aumento muito grande da tributação. Grande parte do aumento da tributação bateu na classe média porque em certo sentido todo mundo perdeu. Menos o governo e outros setores que tiveram compensações que os levaram a uma melhora. E essas compensações têm origem nos impostos.
FOLHA - Distribuição de renda sem crescimento tem limite?
SOARES - Para mim, o mundo ideal é o seguinte: a economia cresce muito, a classe média cresce um pouco, e os pobres crescem muito. Esse é o meu mundo ideal, e eu não acho isso impossível. Ainda acho que, basicamente, depende de a gente resolver um pouquinho o nosso nó fiscal e começar a investir em infra-estrutura. O que está segurando o crescimento no Brasil é a falta de infra-estrutura. É a falta de estrada, porto, eletricidade, aeroporto. Sempre fui uma pessoa profundamente preocupada com distribuição de renda. Esse foi meu objeto de estudo a vida toda e acho que esse tem de ser o objetivo final da política pública para que se tenha uma sociedade justa. Mas, na minha opinião, temos de dar um tempo na distribuição de renda.
FOLHA - Dar um tempo na distribuição de renda?
SOARES - Exatamente. Deixar de dar aumentos reais para o salário mínimo. Só corrigir pela inflação. Concordo 100% com o Guido Mantega (Fazenda). Temos de ficar (no próximo reajuste do mínimo) em R$ 367. Dar só a inflação por um, dois ou três anos. Quando o nosso PIB tiver crescido uns 10%, o país vai estar com muito mais sobra fiscal. Aí pode continuar aumentando o salário mínimo em termos reais. A área social tem que melhorar, mas, no momento, o que nós precisamos desesperadamente é de investimento público.
FOLHA - A tendência dos últimos anos tem sido, em qualquer brecha fiscal, aumentar os gastos correntes. Não os investimentos. SOARES - Eu acho que o governo tem que ter um mínimo de força e dizer: "Não! Acabou! Agora, ninguém ganha mais nada até a gente não botar a economia para crescer". Daqui a três anos, a economia está crescendo. Aí vai ter para todo mundo. Tem que dizer chega. Vamos investir em infra-estrutura, porque é o seguinte: o juro vai cair, as empresas vão recomeçar a investir um pouco mais e certamente o consumo vai aumentar. Aí a economia vai começar a crescer e a gente vai chegar aos limites logísticos. O Brasil não tem porto, estrada e eletricidade para um crescimento muito alto. Temos de mandar ver na infra-estrutura "
É o tipo de economista que respeita a matemática. Ao contrário dos demagogos, tem coragem de chamar as coisas pelo nome. É simples: para distribuir mais, há que ampliar a produção. Para ampliar a produção, há que investir mais. Para investir, há que segurar o crescimento do consumo. Aí o país volta a crescer, ou seja, a produzir mais, a gerar mais emprego, mais impostos. Todos ganham.
Em outras palavras: para comer mais ovos, há que se dar mais milho às galinhas.
Nas democracias maduras, tal equilíbrio é feito pela alternância no poder. A direita republicana prioriza o investimento. A esquerda republicana prioriza o consumo, a distribuição. E o eleitor sabe em qual programa está votando. A coisa funciona: empresas robustas e qualidade de vida cada vez melhor.
E aqui?
Bem, como por aqui a moda é o discurso único pela distribuição (necessário, mas insuficiente), os eleitos ou traem os eleitores ou correm o risco de matar a galinha dos ovos de ouro.
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