É DANDO QUE SE RECEBE
Antigamente, o grosso da população era formada de agricultores, pobres. A classe dirigente (Nobreza e Clero, cerca de 2 %) dava sustentação política ao rei, que detinha em suas mãos todo o poder de fazer e desfazer.
E assim era, até que começa a surgir a classe média: comerciantes, artesãos, industriais, profissionais liberais – que passam a exigir participação na vida política, na direção da nação.
Revolução Francesa (1789): liberdade, igualdade, fraternidade.
O poder é dividido: Legislativo, Executivo, Judiciário ("só o poder freia o poder", na sábia conclusão de Montesquieu).
O Legislativo é a “cabeça”. É formado por vários membros para representar as diversas classes e interesses. A lei reflete a conciliação dos interesses. A lei (base do Estado democrático de direito) será respeitada e cumprida por todos, inclusive pelo Judiciário, pelo Executivo.
Assim é nas democracias maduras.
Não no Brasil.
Vamos ler, na Folha de hoje, trecho da entrevista de Luiz Gushiken, petista histórico, chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência:
“Folha – Quais foram os maiores erros do governo Lula?
Gushiken – Não ter conseguido uma base parlamentar sólida e leal. Outro erro foi não ter percebido a CPI dos Correios com instrumento de guerra eleitoral sem tréguas contra o governo.”
Quer dizer, o “erro” não foi o erro (o mensalão, os escândalos). O “erro” foi não “ter conseguido uma base leal” para abafar os erros!
Leal a quem, cara pálida?
Leal aos eleitores ou ao príncipe de plantão?
Há outra reportagem na Folha (leia aqui) esclarecedora de quanto ainda estamos atrasados no processo de repartição do poder ( que é a essência da democracia):
“Lula conta com PMDB para ter apoio recorde na Câmara
O segundo mandato do governo Lula poderá ser respaldado pela maior base de deputados na Câmara dos últimos 20 anos. Para que isso se concretize, o governo espera contar com 90% da bancada do PMDB e deve se beneficiar de uma prática que condenava na oposição: a migração de deputados entre as legendas.
Líderes de partidos governistas dizem, abertamente, que vão inflar suas bancadas com a adesão de deputados eleitos que esperam apenas a diplomação pela Justiça Eleitoral para abandonar o barco da oposição.
PSDB e PFL, que elegeram juntos 131 deputados, já admitem que terão cerca de 120.
"A expectativa é que cheguemos à posse com 40 deputados", afirma o líder do PL, Luciano Castro (RR), que espera, com isso, um crescimento de quase 100%, já que os liberais elegeram 23 deputados.
Em 2002, o partido de Valdemar Costa Neto (SP) elegeu 26 deputados, tomou posse com 33 e chegou ao seu auge com 53 deputados, em junho de 2005, quando foi atingido em cheio pelo escândalo do mensalão.
"Tem deputado com a ficha de filiação já assinada, só não estamos divulgando porque eles estão pedindo reserva por enquanto", completa Castro.
Os oposicionistas PFL e PSDB, que elegeram 154 deputados em 2002, chegaram a perder mais de 40 integrantes durante a legislatura.
Desde 1995, há na Câmara dos Deputados o registro de 754 movimentações dos parlamentares saindo de uma legenda e ingressando em outra, um frenético "troca-troca" iniciado na metade da década de 80.”
Quem freia o poder no Brasilzão?
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