CRENDICES E FALÁCIAS, por Xico Graziano
"Agosto, no interior paulista, significava mês de cachorro louco. Trata-se, evidentemente, de uma crendice. Para espantar os cães raivosos, as crianças seguiam para a escola rural, à pé, apavoradas, vestindo seus uniformes ao avesso. Coisa de antigamente.
São comuns, na roça, estórias fantasmagóricas. Saci-pererê, boitatá, mula-sem-cabeça... O mundo rural, isolado e distante, e por que não dizer, inculto, cultivava suas crenças ilógicas para sossegar a alma. Mistura de religiosidade com resquício de naturalismo primitivo. Não fazia mal a ninguém.
Curioso é perceber que, nessa transição do mundo mágico para a racionalidade, rumo à modernidade, certas crendices rurais permaneceram vivas, como se verdades científicas fossem. Um caso exemplar afeta o eucalipto.
Por mais que a ciência moderna comprove que a árvore é generosa, sua fama de má continua assombrando por aí. Dizem que espanta chuva, seca o solo, que nada nasce ao seu redor, nem vinga na terra com ela outrora ocupada. Nada disso é verdade, mas continua a conversa fiada.
A inquietude remanescente sobre as florestas plantadas com eucalipto se explica por uma razão não-científica. Quem afirma é o Prof. Walter Lima(1), da ESALQ/USP, que elaborou sua tese do doutorado sobre o tema. E nesse ardil mora o perigo.
No Brasil, graças à ideologia barata, o conceito de familiar passou a ser sinônimo de pequeno agricultor. Mais ainda, distante do mercado e isolado das cadeias produtivas. Pior, pobre e indefeso. Virou a coqueluche da esquerda boboca. Uma verdadeira tragédia do pensamento.
Ora, familiar tem a ver com gestão, não com tamanho.
Milhares de produtores do Paraná, organizados em cooperativas, produzem soja para exportação. Cafeicultores mineiros, pequenos em área, colhem o melhor café do Brasil. Fruticultores paulistas, altamente tecnificados, dão show de competência. Todos são familiares e, simultaneamente, expoentes do agronegócio.
Dizem que manga comida com leite faz mal. Não procede. Espalhada pelo patrão, a mentira procurava impedir o consumo de leite pelos escravos. Segregar o agricultor familiar, à semelhança da crendice do leite, significa criar uma distinção enganosa. Atrapalha, não ajuda, a enfrentar os dilemas da economia agrária."
Leia os artigos de Graziano no seu próprio site (clique aqui)
(1) Leia aqui a opinião do pesquisador Walter Lima, um dos maiores especialistas em eucalipto.
São comuns, na roça, estórias fantasmagóricas. Saci-pererê, boitatá, mula-sem-cabeça... O mundo rural, isolado e distante, e por que não dizer, inculto, cultivava suas crenças ilógicas para sossegar a alma. Mistura de religiosidade com resquício de naturalismo primitivo. Não fazia mal a ninguém.
Curioso é perceber que, nessa transição do mundo mágico para a racionalidade, rumo à modernidade, certas crendices rurais permaneceram vivas, como se verdades científicas fossem. Um caso exemplar afeta o eucalipto.
Por mais que a ciência moderna comprove que a árvore é generosa, sua fama de má continua assombrando por aí. Dizem que espanta chuva, seca o solo, que nada nasce ao seu redor, nem vinga na terra com ela outrora ocupada. Nada disso é verdade, mas continua a conversa fiada.
A inquietude remanescente sobre as florestas plantadas com eucalipto se explica por uma razão não-científica. Quem afirma é o Prof. Walter Lima(1), da ESALQ/USP, que elaborou sua tese do doutorado sobre o tema. E nesse ardil mora o perigo.
No Brasil, graças à ideologia barata, o conceito de familiar passou a ser sinônimo de pequeno agricultor. Mais ainda, distante do mercado e isolado das cadeias produtivas. Pior, pobre e indefeso. Virou a coqueluche da esquerda boboca. Uma verdadeira tragédia do pensamento.
Ora, familiar tem a ver com gestão, não com tamanho.
Milhares de produtores do Paraná, organizados em cooperativas, produzem soja para exportação. Cafeicultores mineiros, pequenos em área, colhem o melhor café do Brasil. Fruticultores paulistas, altamente tecnificados, dão show de competência. Todos são familiares e, simultaneamente, expoentes do agronegócio.
Dizem que manga comida com leite faz mal. Não procede. Espalhada pelo patrão, a mentira procurava impedir o consumo de leite pelos escravos. Segregar o agricultor familiar, à semelhança da crendice do leite, significa criar uma distinção enganosa. Atrapalha, não ajuda, a enfrentar os dilemas da economia agrária."
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(1) Leia aqui a opinião do pesquisador Walter Lima, um dos maiores especialistas em eucalipto.
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