NEM VOTO DISTRITAL NEM FIDELIDADE PARTIDÁRIA
SISTEMA ELEITORAL
ARTIGO PUBLICADO NA FOLHA DO SUL EM 29.10.2005
Uma questão fundamental ainda não resolvida no Brasil é o sistema de eleição dos vereadores e deputados. Pesquisas mostram que os eleitores não se sentem representados. Via de regra, não há comprometimento dos parlamentares com os legítimos anseios da população.
Uma questão fundamental ainda não resolvida no Brasil é o sistema de eleição dos vereadores e deputados. Pesquisas mostram que os eleitores não se sentem representados. Via de regra, não há comprometimento dos parlamentares com os legítimos anseios da população.
Um modo de vincular o deputado aos eleitores, adotado em muitos países, é através do voto distrital. Nesse sistema, divide-se o Estado em vários distritos eleitorais, e cada distrito elege um deputado (o mais votado). Vantagens: toda região terá um deputado. A proximidade facilita a campanha e o acompanhamento do trabalho do representante.
Outro modo de vincular é através de partidos, ou melhor, de programas partidários. É o chamado sistema proporcional: o número de eleitos de cada partido é proporcional aos eleitores que comungam das mesmas idéias. Nesse sistema, o eleitor vota mais nas concepções e programas do partido. Óbvio que cada eleito ficará comprometido a defender os programas referendados pelos eleitores. Daí a importância da fidelidade partidária. A campanha é feita mais pelos partidos (poucos), que apresentam propostas para os principais temas: impostos, empregos, segurança, desenvolvimento, rede social, posicionando-se a favor ou contra isso ou aquilo.
Alguns países até fazem uma mistura dos dois sistemas: parte dos deputados é eleita em distritos, parte pelo sistema proporcional. Preserva-se, assim, tanto a representação regional quanto o fortalecimento de partidos de caráter nacional, cujos programas são importantes para dar rumo e diretriz ao governo.
E o Brasil? Nem um sistema, nem outro. O parlamentar brasileiro não se vincula aos eleitores nem pelo distrito, nem por um programa partidário. Embora a contagem dos votos seja feita pelo sistema proporcional, a representação é distorcida pela infidelidade e incoerência partidárias. Sem fidelidade, os eleitos ficam soltos e livres para trair partidos, programas e eleitores. Daí que a equação não fecha. À medida que os partidos vão sendo desmoralizados, novos e tantos são criados pelos caciques. Daí a individualização: cada candidato arrecada recursos e faz a própria campanha, que pode se estender por todo o Estado (645 municípios paulistas). Haja dinheiro para os cabos eleitorais! Resultado: o mandato é mais do candidato e patrocinadores do que dos eleitores e partido. Na eleição individualizada, é natural que cada candidato recorra aos atributos pessoais: poder econômico, experiência, aparência, empatia, religiosidade, oratória, lábia, clientelismo, muitas vezes sem se comprometer com programas de governo. Daí que as eleições não apontam com nitidez o programa preferido pela maioria, embolando a governabilidade. Tanto o PT de Lula quanto o PSDB de FHC elegeram poucos deputados, menos de 20% do Parlamento. Pior ainda são as coligações entre partidos diferentes, que confundem e logram o eleitor, que vota em progressista mas quase sempre ajuda a eleger um conservador coligado (ou vice-versa), que vota em trigo e aduba joio, que vota em mudança e colhe mesmice. Pois, como se sabe, cada voto beneficia os demais candidatos da coligação, mesmo que o seu candidato não seja eleito (haja laranjas).
Na última eleição, apenas 30 % dos votos da região foram dados a candidatos vinculados à região. Os demais (70 %) foram pulverizados para uma centena de candidatos! Qual é o compromisso deles com os eleitores da região? Quantos “mensaleiros” ajudamos a eleger, mesmo não querendo ou não sabendo?
Quem pode fazer a necessária reforma política são os políticos. O danado é que a maioria deles é eleita exatamente graças a essa bagunça. Vão querer mudar?
Sebastião Loureiro
Sebastião Loureiro
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