Questão de decoro
Melchiades Filho, FOLHA DE SP
BRASÍLIA - Para uma presidente que busca ser vista como decidida, impressiona a hesitação de Dilma em assumir posições públicas.
Não se trata só da escassez de entrevistas, mas de desapreço geral por
justificar medidas, defender políticas e sustentar pontos de vista.
Os exemplos se acumulam neste início de ano, bem no momento em que os
elevados índices de aprovação permitiriam ao governo enveredar por uma
trilha de afirmação.
Soube-se que Dilma considerou "barbárie" a operação policial que tirou
6.000 pessoas de casa em São José dos Campos. A indignação, porém, ficou
intramuros. A presidente até esteve em São Paulo, mas para sorrir
diante das câmeras ao lado do neoaliado Gilberto Kassab.
Ela não fala sobre as violações aos direitos humanos em Cuba, que
visitará amanhã -segundo o chanceler, o tema "não é emergencial".
Não fala sobre os integrantes ou a vocação da Comissão da Verdade, à
espera de instalação para pesquisar crimes cometidos na ditadura.
Não fala sobre o projeto que limitaria as possibilidades de aborto
legal, publicado pelo governo em silêncio e em silêncio reescrito.
Por que houve mudança nas cúpulas da Petrobras e do Banco do Brasil? Por
que não saíram os diretores da Caixa envolvidos em fraudes zilionárias?
E como Mário Negromonte ainda continua ministro das Cidades? Dilma não
explica.
O porta-voz mudou, mas a estrutura de comunicação do Planalto permanece
montada para não comunicar. Oficialmente, do palácio saem apenas
platitudes e propaganda. Os ministros se pelam de medo de falar, isso
quando têm noção do que se passa pela cabeça da chefe.
O contraponto radical ao antecessor loquaz compromete o desejo dilmista
de servir de inspiração às brasileiras. Atola a administração em boatos
tolos e informações inexatas, empobrece o debate público e sugere uma
certa covardia.
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