quarta-feira, agosto 18, 2010

Educação financeira

Autor(es): Fabio Giambiagi
Valor Econômico - 18/08/2010

As pessoas vão descobrir lá pelos 40 anos que terão que começar a se preocupar com a aposentadoria, quando já poderá ser tarde

Meu pai estudou no que na década de 1940 era o melhor colégio da Argentina, onde eram dadas aulas de latim e, antes de estudar Economia, eu cursei um ano de Sociologia, onde tive Filosofia I e II, o que acho que me torna um dos poucos economistas brasileiros de menos de 50 anos que, por exemplo, estudou Descartes e foi apresentado ao "mito da caverna" de Platão. O que vem a seguir, portanto, não deve ser interpretado como a opinião de um tecnocrata indiferente à formação humanista e sim como a de alguém que entende que certo conhecimento financeiro é parte do conceito de Cidadania.

Muitas pessoas de classe média, aos 20 anos, procurarão estágio; após dois anos, começarão a trabalhar e tentarão viver de aluguel; e, depois, a criação dos filhos irá impor as suas exigências financeiras. O resultado é que essas pessoas irão descobrir lá pelos 40 anos que terão que começar a se preocupar com a aposentadoria, quando já poderá ser tarde. A escola terá lhes ensinado muitas coisas - mas não as terá preparado para a vida.

A tabela mostra o esforço que é necessário fazer para ter uma renda complementar de R$ 5 mil a partir dos 60 anos, por 25 anos, supondo um rendimento líquido real de 3% ao ano. A lógica funciona como uma conta em que, entre uma certa idade e os 60 anos, há apenas entradas e em que, entre os 60 e os 85 anos, há retiradas, além da entrada do rendimento dos juros.

Aos 60 anos, a expectativa de vida do brasileiro médio é de 81 anos, mas é razoável concluir que, no universo daqueles que têm mais renda, seja algo maior e é sempre bom trabalhar no "lado seguro" da distribuição de probabilidades, para não correr o risco de Jorginho Guinle, milionário que foi gastando seus recursos até ter problemas por, segundo suas palavras, "viver demais". Daí porque na tabela considerou-se uma retirada por 25 anos.

Em um mundo sem inflação nem juros, a conta é trivial. Quem quer ter R$ 5 mil por mês durante 25 anos (300 meses) tem que acumular R$ 1,5 milhão, que em 40 anos (480 meses) de contribuição - para quem começa aos 20 anos - implicam uma contribuição de R$ 3.125 mensais. Já com juros, parte do capital decorre da sua acumulação, o que reduz a exigência da contribuição mensal. De quanto deve ser a contribuição?

A tabela mostra o efeito que tem sobre a saúde financeira futura a decisão de "esperar para começar" para contribuir para uma aposentadoria complementar. Se alguém começa a contribuir para a formação de uma poupança - deixando de lado os custos de intermediação de um fundo de pensão - com a ajuda dos pais, aos 18 anos, com R$ 1.061 - para ser mais preciso R$ 1.061,48 - a 3 % ao ano, aos 60 anos, terá acumulado R$ 1,059 milhão, com o qual a partir de então, durante 25 anos, poderá sacar mensalmente R$ 5 mil, sem considerar o ajuste pela inflação. Se demorar um ano a mais para começar, acumular o mesmo montante por 41 e não por 42 anos elevará a conta mensal para R$ 1.107. Já quem esperar chegar aos 40 anos para começar a aplicar para a aposentadoria terá que desembolsar R$ 3.240 mensais por 20 anos. Há um certo contingente de pessoas que pode contribuir todo mês com pouco mais de R$ 1 mil a serem separados para uma aposentadoria futura. São poucos, porém, os que conseguem separar mais de R$ 3 mil para tal fim.

A tabela dá uma ideia da relevância do planejamento previdenciário. Por isso, é importante que cada pessoa tenha condições de estar apta para responder por si mesma a questões como: quanto deve poupar durante 5 anos para ter um capital que lhe permita pagar 40 % de entrada em um imóvel? Ou: quanto deve poupar a mais por mês para ter uma certa aposentadoria complementar, se a taxa de juros no longo prazo for de x %? São dilemas com os quais muitas pessoas irão se deparar na vida.

Foi pensando em tais questões que, com Roberto Zentgraf, coordenador dos MBAs do IBMEC e articulista de "O Globo", decidimos escrever o livro "O futuro é hoje - Educação financeira para não economistas" (Ed. Campus), com o intuito de contribuir para a compreensão de quem, mesmo não sendo economista, queira entender como ter a resposta certa para questões como as que foram acima colocadas. O livro acaba de ser lançado. Esperamos ter êxito nessa empreitada.

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