Chega de saudade
Folha de S. Paulo - 07/04/2010 |
A candidata oficial erra ao voltar-se para o passado com o intuito de forjar uma revanche na disputa particular de FHC e Lula Não é demais lembrar que um brasileiro com 18 anos completados em 2010 comemorava 10 ao término do governo FHC -e era uma criança de dois anos quando o sociólogo tucano assumiu. Esse hipotético cidadão não terá idade para lembrar em que país se vivia no início da década de 90. Mas, se procurar informações, saberá que coube a FHC, na sequência do impeachment de Fernando Collor, e ainda no governo de Itamar Franco, lançar um plano -depois de várias tentativas frustradas- capaz de superar o perverso ciclo hiperinflacionário que havia anos dilapidava a economia popular e impedia o desenvolvimento do país. Se pretende incursionar pelo passado, poderia a candidata lembrar a seus potenciais eleitores que o Partido dos Trabalhadores negou sustentação ao presidente Itamar Franco e bombardeou o Plano Real. Ou seja, opôs-se de maneira pueril e ideológica a uma das mais notáveis conquistas econômicas da história moderna do país, que propiciou aos brasileiros pobres benefícios inestimáveis, sob a forma de imediato aumento do poder aquisitivo e inédito acesso ao sistema bancário. Sabe bem a ex-ministra que se alguém nesses anos mudou de pele foi antes o PT do que o PSDB. O que terá sido a famosa "Carta aos Brasileiros" senão uma providencial e pública troca de vestimenta ideológica do candidato Lula -que, eleito, sob aplausos do mundo financeiro, indicou um tucano para o Banco Central (agora no PMDB) e um ex-trotskista com plumagem neoliberal para a Fazenda? É um exercício vão buscar comparações e escolhas plebiscitárias entre gestões que se encadeiam no tempo. Os avanços e problemas de uma transformam-se em acúmulo ou em fatos acabados na outra. Ou será que faz sentido questionar como teria sido a gestão lulista se tivesse de formular um plano para vencer a hiperinflação, precisasse sanear instituições financeiras públicas e se visse obrigada a estancar uma crise sistêmica dos bancos privados nacionais? O Brasil precisa pensar e agir com olhos no futuro. Nada tem a ganhar com a tentativa da candidatura governista de forjar uma revanche de disputas pretéritas. Se o presidente Lula não venceu a contenda com Fernando Henrique Cardoso em 1994 não será agora que o fará -pelo simples motivo de que nenhum dos dois é candidato. O governo que se encerra neste ano teve méritos inegáveis, mas muitos deles, é forçoso reconhecer, nasceram de sementes plantadas no passado. |
1 Comments:
O direito de comparar
(publicado na revista Caros Amigos)
A mídia conservadora menospreza o tom plebiscitário das eleições presidenciais porque tem horror a promover um confronto direto entre os resultados dos governos FHC e Lula. Embora a imensa aprovação ao petista represente um julgamento público que jamais estaria dissociado de méritos administrativos, seu caráter subjetivo permite atribuí-la parcialmente ao carisma ou à índole populista do mandatário. Já as estatísticas são perigosas, pois menos permeáveis a contaminações ideológicas de qualquer espécie.
Por isso há tamanho esforço para omitir os dados existentes ou diluí-los em amostragens de longa duração. A previsível tendência evolutiva dos grandes períodos atenua as particularidades das gestões, conferindo base pseudocientífica à falácia de que elas foram semelhantes e indissociáveis. O passo seguinte é adotar o discurso oposicionista contra a “malandragem de Lula”, não apenas para roubar-lhe a discutível glória de superar seu medíocre antecessor, mas porque, em 2006, a candidatura de Geraldo Alckmin ruiu no momento em que o impopular FHC foi trazido ao debate.
A tentativa de desqualificar as comparações é uma estratégia antidemocrática para empobrecer a campanha eleitoral em favor da candidatura do PSDB. O golpe visa neutralizar um elemento fundamental da definição do voto, mais importante ainda quando a escolha envolve continuidade e ruptura, personificadas por partidos adversários, que protagonizaram governos sucessivos. Excluída a possibilidade de cotejar experiências administrativas, restam demagogias, ataques pessoais e falsas reputações fabricadas pelos tendenciosos veículos de São Paulo e Minas Gerais.
A imprensa viola suas prerrogativas constitucionais quando sonega informações cruciais para o exercício da cidadania. O eleitor tem o direito de conhecê-las, e só ele pode julgar sua relevância.
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