quinta-feira, março 04, 2010

Reflexões sobre a desindustrialização

O Estado de S. Paulo - 04/03/2010

Na entrevista concedida ao Estado, o ex-ministro colombiano Mauricio Cárdenas, da Brookings Institution, não hesitou em afirmar que o Brasil já se está desindustrializando e se "commoditizando", enquanto países como Índia e China apresentam melhor equilíbrio entre a produção de manufaturados e de matérias-primas.

A opinião merece melhor exame, ainda que os industriais brasileiros reconheçam que é fundamentada. Para eles, três fatores levaram a essa situação: o excesso de carga tributária, a péssima infraestrutura do País e uma taxa cambial valorizada.


São fatores que realmente contribuem para inibir o desenvolvimento da indústria brasileira, embora pelo menos um seja irremediável. Mas existem outros freando o crescimento de nossa economia.


Sem dúvida, a carga tributária excessiva é um obstáculo a um maior crescimento. Caberia aos empresários comprovar que uma redução de impostos levaria a uma melhoria da situação. A desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros e produtos da linha branca permitiu o aumento das vendas domésticas de produtos com grande conteúdo de bens importados, porém não das exportações. Nem favoreceu uma melhoria da inovação desses bens.


Na realidade, falta à nossa indústria investimentos em pesquisa para oferecer inovações que reduzam o custo da produção e atraiam os consumidores estrangeiros, objetivos alcançáveis com melhoria da produtividade e do processo de produção, além dos gastos em pesquisa.


Não se pode negar que as empresas encontram, interna e externamente, sério obstáculo no custo do transporte terrestre e portuário. Mauricio Cárdenas reconhece essa dificuldade e sugere que o Brasil dê mais atenção aos mercados dos EUA e da Europa. Neste caso, caberia à iniciativa privada dar sua colaboração.


A valorização do real parece resultar da melhor situação do Brasil, e à indústria cabe conviver com ela, compensando-a com melhora da produtividade.


A comparação com a China e a Índia é oportuna: em 2009, pelas últimas previsões, o PIB brasileiro deve ficar em -0,8%, ante +7,8% na China e +5% na Índia. Os dados disponíveis do 1º trimestre de 2009 são de -14,8% na produção de manufaturados, ante +28,6% e +6,4%, respectivamente, nos dois outros países. E o conteúdo de manufaturados nas exportações, em 2008, foi, respectivamente, de 5,9%, 7,5% e 8,1%. São números que dão o que pensar.

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