quinta-feira, janeiro 14, 2010

Mergulho chavista

Autor(es): Agencia O Globo
O Globo - 14/01/2010

A Venezuela é um caso clássico de vítima do "mal do petróleo", recurso quanto mais abundante, potencialmente mais daninho. Petróleo ou qualquer outro bem natural valioso produzido em grandes volumes é um perigo para instituições em construção, mesmo para seu funcionamento. Ao gerarem montanhas de divisas, as exportações de óleo, ouro, diamantes etc. costumam concentrar poder no grupo de burocratas que as controlam; e a partir deste ponto tendem a inibir as instituições republicanas, e assim abrem espaço à corrupção.

E mais: desincentivam investimentos em educação, no desenvolvimento tecnológico, por incutirem na sociedade a ideia suicida de que o país é rico o bastante para importar tudo. Não precisa, portanto, de fábricas, agricultura, de capacidade criativa, de empreendedores. Com raras exceções, como os Estados Unidos, onde o petróleo surgiu quando os pilares democráticos da nação já estavam bem assentados, a lista dos grandes produtores é dominada por ditaduras e regimes apenas formalmente democráticos, como o da Rússia.

O bolivarianismo do coronel Hugo Chávez, o seu "socialismo do século XXI" e, agora, a aceleração da debacle de um modelo anacrônico estão dentro deste contexto. Chávez, inclusive, agravou distorções geradas pelo excesso de divisas obtidas pelo petróleo e administradas sem cuidados. Em vez de investir na infraestrutura do país, por exemplo, canalizou bilhões de dólares para o projeto de intervenção em assuntos internos de outros países, para moldá-los à sua visão bolivariana. Teve êxito na Bolívia, no Equador, em certa medida na Argentina, mas foi derrotado em Honduras, e agora lhe faltarão recursos para continuar a sustentar Cuba.MAIS

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