quinta-feira, janeiro 14, 2010

Trabalho da Pastoral reúne 260 mil voluntários

Autor(es): Marli Lima
Valor Econômico - 14/01/2010

É difícil separar a história de Zilda Arns Neumann da Pastoral da Criança, para a qual ela dedicou os últimos 26 anos de vida. Os números falam por ela: nas comunidades onde a instituição atua, a taxa de mortalidade para os menores de um ano de idade é de 11 para cada mil bebês nascidos vivos, enquanto a média nacional é de 19,3.

Zilda dizia que tinha como meta atingir os mais pobres entre os pobres com as ações da Pastoral e morreu enquanto cumpria essa missão no país mais miserável das Américas, onde o trabalho estava começando. Ontem, abalados com a notícia da morte da médica no Haiti, empregados da Pastoral atualizavam os dados da instituição, que possui 1,5 milhão de famílias cadastradas e faz o acompanhamento de 1,98 milhão de crianças de zero a seis anos de idade e de 108 mil gestantes em 42 mil comunidades carentes.

Durante 16 anos a Pastoral funcionou na casa de Zilda e só em 1999 ganhou novo endereço em Curitiba. O trabalho de combate à mortalidade infantil começou em Florestópolis, município no interior do Paraná cuja taxa de mortalidade infantil era muito alta, de 127 por mil nascidos vivos. Os resultados começaram a aparecer e a instituição espalhou-se pelo Brasil. Hoje chega a outros 20 países.

"Não é assistencialista, mas de promoção humana, de fortalecimento das famílias", disse a médica sobre o trabalho, ao Valor, em 2006, quando buscava parceiros privados para os projetos. O corpo a corpo nas áreas carentes é feito por 260 mil voluntários treinados para transferir conhecimentos de saúde e alimentação. O modo comunitário, preventivo e de uso da solidariedade barateia os custos. Em 2009, o gasto mensal por cada criança atendida foi de R$ 1,69.

O balanço da Pastoral da Criança mostra que, no ano fiscal encerrado em setembro, as receitas brutas somaram R$ 44,35 milhões e foram 20,8% maiores que no exercício anterior, mesmo com a crise econômica. Foram R$ 9 milhões provenientes de doações, o que representa queda de 23,3% em relação a 2008. No caso de entidades públicas, os recursos aumentaram 42% e chegaram a R$ 34,6 milhões.

O maior aporte foi feito pelo Ministério da Saúde (R$ 33,9 milhões), seguido pelo HSBC (R$ 3 milhões), pessoas que contribuem na conta de energia elétrica (R$ 2,3 milhões), Criança Esperança (R$ 1,65 milhão) e outras empresas. Zilda esforçava-se para engordar o caixa e agregar parceiros, mas afirmava que fechar as contas era "uma obra divina, não humana".

No balanço, a instituição divulga também o que chama de recursos não monetários: a participação voluntária dos cidadãos nos programas. Para cada R$ 1 em espécie, o equivalente a R$ 3 são doados assim, na forma de trabalho.

Em 2008 ela deixou de ser coordenadora nacional da Pastoral, cargo agora ocupado pela freira Vera Lúcia Altoé, que está em férias. Freira da Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição de Castres, Vera Lúcia foi indicada por Dom Algo Di Cillo Paggoto, arcebispo da Paraíba e presidente do conselho diretor da Pastoral. Ela tem 51 anos, é capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, é formada em pedagogia e pós-graduada em alfabetização e em ensino religioso. Começou seu trabalho na Pastoral da Criança quando foi morar na favela do Jardim Vitória, em Cuiabá (MT), em 1997.

Quando deixou a coordenação brasileira da Pastoral da Criança, Zilda Arns virou coordenadora internacional da instituição e passou a cuidar da Pastoral da Pessoa Idosa, criada em 2004. Atualmente, 129 mil idosos são acompanhados todos os meses por 14 mil voluntários. Na terça-feira, em discurso no Haiti, Zilda fez um balanço de seu trabalho. "Tudo isso nos mostra como a sociedade organizada pode ser protagonista de sua transformação", segundo texto distribuído por sua assessoria.

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