Folha de S. Paulo |
Nosso tecido, nossos aviões |
Clóvis Rossi |
SÃO PAULO - Se a a França ganhou a corrida para vender aviões (os Rafale) ao Brasil porque concordou em transferir tecnologia, pode estar vendendo ouro de tolo. É o que se diz na França. Christian de Boissieu, presidente do Conselho de Análise Econômica e membro do Conselho Econômico de Defesa, produz a seguinte frase, para a edição on-line de ontem da revista Le Point: Supondo que o Brasil queira construir seu Rafale... Primeiro, isso não se fará imediatamente e, no dia em que se fizer, me parece que nós já teremos passado ao avião do futuro. Qual é a graça, então, em comprar aparelhos que são bem mais caros do que os da concorrência se, na hora em que de fato se materializar a transferência de tecnologia, os aviões já serão obsoletos? É um motivo a mais para cobrar transparência das autoridades e discussão no Congresso, temas que impregnaram todo o noticiário de ontem desta Folha. Mas, do meu ponto de vista, a dúvida é de outra natureza. Se o objetivo das compras anunciadas é consolidar a hegemonia militar regional, como parece lógico, para que servirá? Atende uma mentalidade que olha para o passado, para o que Marcos Nobre chamou de cultura das armas. O Brasil deveria estar olhando é para o que o presidente Barack Obama chamou ontem de transição para uma economia do século 21 -e que ele pretende pôr no topo da agenda para a cúpula do G20 dias 24 e 25 em Pittsburgh. Como é essa economia? Responde Obama: Inovação em alta tecnologia -o que inclui tecnologia verde, educação e treinamento- e pesquisa e desenvolvimento. Obama citou, entre outros exemplos, que laboratórios médicos de Pittsburgh avançam em regeneração de tecidos. O que você prefere: Rafales ou regeneração de tecido humano? |
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