segunda-feira, abril 14, 2008

AS SEIS PRÁTICAS DAS BOAS ESCOLAS PÚBLICAS
1. Formar alunos com visão de mundo

Na escola estadual Jandira de Andrade Lima, em Limoeiro, Pernambuco, as coisas começaram a mudar em 2000, graças a um projeto desenvolvido pelas crianças da 2ª série. Elas desenharam como viam sua cidade, e esses desenhos viraram cartões-postais. Uma leva de cartões foi enviada por Ana Xavier, a diretora da escola, para um amigo que morava na Alemanha. “Ele era professor de uma escola em Westerholt, na Alemanha, e animou-se com a possibilidade de um intercâmbio cultural”, diz Ana. O passo seguinte foi dado pelas crianças alemãs, que fizeram cartões-postais inspirados em sua cidade e enviaram para os colegas brasileiros. “Quando esses cartões chegaram, foi uma curiosidade geral. Que cidade era aquela? E que língua era aquela que ninguém conseguia decifrar?”, diz a diretora. “Foi um ir-e-vir de cartas, cartões, revistas, vídeos, CDs, que alimentavam a curiosidade e o interesse pela cultura estrangeira. Estava implantada a vontade de aprender.” Um belo dia, Limoeiro recebeu a visita de professores alemães trazendo lembranças de Westerholt e uma quantia em dinheiro que serviu para a construção de duas CDtecas, com aparelho de som e vários CDs.

Antes que elas fossem inauguradas, porém, a escola foi roubada. Sensibilizados, os alemães angariaram fundos em sua cidade para mandar para Limoeiro. Com o dinheiro, foi construída uma sala de leitura batizada de Recanto Westerholt. “O resultado foi ótimo”, diz Ana. “As produções escritas melhoraram muito, e a pesquisa na biblioteca foi surpreendente.” A ligação com a escola alemã chamou a atenção da Secretaria Estadual de Educação, que financiou a contratação de um professor de alemão na escola. “As aulas de Alemão foram um marco na vida das crianças”, diz Ana. “Elevou a auto-estima.” Em 2004, seis alunos foram escolhidos para passar uma semana na escola de Westerholt e dormiram em casas de famílias alemãs.

O Projeto Correio Brasil Alemanha mostra que há formas criativas para contornar a falta de dinheiro. “Essa iniciativa permite que os alunos enriqueçam seu currículo escolar e estabeleçam uma conexão com o mundo, ampliando suas perspectivas de um futuro melhor”, afirma a diretora.

2. Adotar o regime integral
Desde 2005, a escola estadual XV de Novembro, em Tocantinópolis, Tocantins, adotou o regime de tempo integral para todos os alunos, mesmo regime empregado pela maioria dos colégios dos países desenvolvidos. Os alunos entram às 7h30 da manhã, tomam café, rezam no pátio com o diretor e seguem para as salas. Ao meio-dia eles almoçam, descansam no pátio e começam uma segunda jornada com aulas de Inglês, Filosofia e Educação Física. “A idéia surgiu em 2002 e já temos 23 escolas no Estado que adotam o sistema. Estamos seguindo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, que prevê que a jornada escolar seja progressivamente ampliada”, diz a secretária de Educação do Estado, Dorinha Rezende. “Mas não basta ficar na escola sem um plano curricular e pedagógico. O que vale é o tempo de permanência com foco na educação.” A aluna Letícia Nogueira Claro, de 11 anos, do 5º ano (antiga 4ª série), diz que mora com a mãe, a tia e o avô. “Se eu não estivesse o dia todo na escola, teria de ajudar minha mãe a arrumar a casa. Prefiro estudar para um dia ter uma profissão de verdade”, afirma.

A experiência demonstra que a evasão e a repetência nas escolas com regime integral tendem a se tornar residuais – além de o desempenho dos alunos nos exames nacionais de avaliação ser superior à média. O deputado e ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza concorda que essa pode ser uma alternativa para o problema da educação, mas acredita que sua adoção deve ser paulatina. “Não é possível fazer isso na rede toda porque os custos com professores, infra-estrutura e alimentação são enormes”, afirma.

3. Escolher o diretor pela competência
As melhores escolas são aquelas em que a cadeira do diretor não foi ocupada por indicação política, mas por seleção ou eleição, afirma Ryon Braga, da Hoper Consultoria, de Vila Velha, Espírito Santo. É o caso da escola Edirce Neneve Carvalho, em Diamante do Sul, Paraná. Lá, o diretor é escolhido por meio de uma eleição direta, com a participação dos pais dos alunos. “É uma pena que essa ainda não seja a realidade no país e que muitas escolas sejam usadas como palanque eleitoral”, diz Braga. Os especialistas são unânimes em dizer que o fator mais importante para o bom desempenho das escolas é o engajamento do diretor. Para isso, é vital que ele não saia a cada troca de governo. Além disso, mais de 80% dos diretores são formados em Pedagogia e apenas 20% têm outra formação. “Isso é outro problema crônico que começa na qualidade das faculdades de Pedagogia, recheadas de ideologia e sem enfoque prático e administrativo”, afirma Braga.

4. Premiar os bons exemplos
Quem se destaca no trabalho que exerce recebe um prêmio salarial. A isso se dá o nome de meritocracia: premiar o mérito do funcionário. A prática está finalmente começando em escolas públicas. O Estado de São Paulo decidiu implementar uma bonificação anual por merecimento com base no desempenho da escola. “Em fevereiro de 2009, será possível distribuir o bônus para as escolas que fizerem por merecer”, afirma a secretária estadual de Educação, Maria Helena Guimarães. O esquema prevê que a escola que atingir 100% da meta proposta será recompensada. “Toda a equipe da escola, do faxineiro ao diretor, receberá um bônus. O objetivo é estimular as escolas para que estejam sempre melhorando”, diz Maria Helena.

5. Estimular a leitura
Ter uma biblioteca de encher os olhos com “livros por metro”, como se diz entre os educadores, nem sempre é garantia de alunos mais eruditos. De nada adianta ter as obras mais clássicas da literatura guardadas em estantes numa sala que costuma ficar fechada. É preciso que haja um plano de ação para estimular a leitura. “A leitura é o primeiro quesito do ponto de vista pedagógico que leva a escola ao bom desempenho de seus alunos. E o professor tem de saber estimular porque não adianta só sentar e ler. É preciso envolver o aluno”, afirma o ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza. Foi isso que fez Sueli Savegnano, da escola municipal Professora Leonor Mendes de Barros, em Sertãozinho, São Paulo. Há três anos a professora de Literatura criou um projeto para estimular seus alunos a ler as obras de Machado de Assis, consideradas por eles de difícil compreensão. “Inventei o julgamento de Capitu”, a personagem de Dom Casmurro que teria (ou não) traído o marido, Bentinho. “Os alunos, depois de ler o romance, fazem uma encenação e levam a júri Capitu”, diz a professora. Os alunos se exaltam no momento do julgamento e na maioria das vezes Capitu acaba sendo absolvida. “Faço questão de ler o livro que a professora manda para não ficar de fora das atividades. Acho que a cada livro que leio eu fico mais inteligente”, diz o aluno Gleisson Henrique Bellonti, de 13 anos.

6. Atrair a comunidade
Em janeiro, a quadra de esportes do Ciep 279 Professor Guiomar Gonçalves Neves, em Trajano de Morais, Rio de Janeiro, foi palco de um casamento. Era uma ex-aluna que pediu o espaço emprestado. “Nossa cidade é muito pequena e não há muitos lugares para eventos”, diz o diretor Elielton Moreira Ribeiro. E o que a escola tem a ver com isso? “Nós estamos inseridos na comunidade, temos de escutá-la, ouvi-la.” A participação da comunidade no cotidiano da escola é um dos motivos para um melhor desempenho dos alunos, segundo um estudo do MEC feito com 33 escolas públicas em 2006.

O Ciep de Trajano de Morais é um bom exemplo disso. Lá, um conselho fiscal escolar, formado por pais de alunos, acompanha a aplicação dos recursos. A Associação de Apoio à Escola (AAE) tem reuniões bimestrais, e o projeto pedagógico é discutido com toda a comunidade escolar. Práticas como essa fizeram com que a escola fosse a primeira colocada no Ideb, o indicador de qualidade do ensino básico do MEC. Sistemas como o Ideb e o Enem, o Exame Nacional do Ensino Médio, estão ajudando a criar padrões para melhorar a educação no Brasil.
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1 Comments:

Blogger Marcia Sisi said...

Olá Sebastião.
Sou professora e atualmente moro em Capão Bonito. Trabalho com computação e internet há mais de 10 anos e gostaria MUITO de trabalhar para a diretoria de ensino de itapeva neste sentido.
Como professora de artes que tb sou, venho encontrando grande dificuldade para me relacionar (via internet) com eles.
Percebo que sua visão de educação é bem sintonizada com a minha e mantermos contato me parece uma boa idéia. O que acha?

3:49 PM  

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