"O presidente Lula, ao adotar uma atitude condescendente em relação às infrações cometidas por alguns ministros, ajuda a quase sancionar esse tipo de comportamento. Vindo de cima, isso é profundamente danoso à democracia."
ÉPOCA – É sob essa perspectiva histórica que se devem analisar os recentes escândalos em que se envolveram integrantes do PT e do governo Lula?
José Murilo de Carvalho, historiador – O PT cometeu um grave estelionato político. O PT aparecia na oposição sempre como uma vestal da política. Era o partido honesto que não entrava nesses esquemas de corrupção e na bandalheira. Viu-se pelo mensalão que não era verdade. Por um lado, há o aspecto da chegada de um partido novo ao poder, com muitas pessoas inexperientes. Por outro, a entrada do PT no poder significou, em certo sentido, uma democratização da elite. Os sindicalistas que chegaram ao poder não pertenciam à elite política. Entre eles, havia não só inexperiência em relação ao governo, mas também muita gente ansiosa por enriquecer e se beneficiar das benesses do poder. Não vou citar nomes, mas é claro que isso acontece.
ÉPOCA – Essa mesma análise vale para o recente escândalo em torno dos abusos com os cartões do governo?
ÉPOCA – É sob essa perspectiva histórica que se devem analisar os recentes escândalos em que se envolveram integrantes do PT e do governo Lula?
José Murilo de Carvalho, historiador – O PT cometeu um grave estelionato político. O PT aparecia na oposição sempre como uma vestal da política. Era o partido honesto que não entrava nesses esquemas de corrupção e na bandalheira. Viu-se pelo mensalão que não era verdade. Por um lado, há o aspecto da chegada de um partido novo ao poder, com muitas pessoas inexperientes. Por outro, a entrada do PT no poder significou, em certo sentido, uma democratização da elite. Os sindicalistas que chegaram ao poder não pertenciam à elite política. Entre eles, havia não só inexperiência em relação ao governo, mas também muita gente ansiosa por enriquecer e se beneficiar das benesses do poder. Não vou citar nomes, mas é claro que isso acontece.
ÉPOCA – Essa mesma análise vale para o recente escândalo em torno dos abusos com os cartões do governo?
José Murilo – A concepção de que o Estado não pertence a nós e o que pertence ao Estado pertence à sogra faz parte da nossa tradição. Faz parte dessa cultura a dificuldade de separar o público do que é privado. O que é público não é estatal. Mas no Brasil essa concepção, essencial para criar uma consciência de respeito ao dinheiro público, não existe. Fica claro nesse caso em que pessoas chegam ao governo e usam tranqüilamente em benefício próprio o que é do Estado. E depois ainda dizem que aquilo foi um erro administrativo. Lamentavelmente, houve quase uma condescendência dos escalões superiores em relação a esse tipo de prática.
ÉPOCA – O senhor está se referindo ao presidente Lula. Que tipo de conseqüência tem essa atitude?
ÉPOCA – O senhor está se referindo ao presidente Lula. Que tipo de conseqüência tem essa atitude?
José Murilo – O presidente está vinculado a sua história de líder sindical, de muita ênfase nas relações pessoais. Ele tem uma dificuldade grande de ir contra os camaradas e os companheiros da luta sindical. Mas, ao adotar uma atitude condescendente em relação às infrações cometidas por alguns ministros, ele ajuda a quase sancionar esse tipo de comportamento. Vindo de cima, isso é profundamente danoso à democracia. ÍNTEGRA
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home