Apesar de avanços, falta muito para o país ser justo
Da redação, Valor Econômico
Quando o copo está pela metade, diz a sabedoria popular, para os pessimistas ele está metade cheio e para os pessimistas, metade vazio. Talvez seja essa a maior discordância apresentada pelos especialistas na interpretação dos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006, divulgado na última sexta-feira. Os números dão uma grande munição para os otimistas, mas não deixam de dar uma certa razão para aqueles que não vêem a metade cheia do copo. MAIS

NÚMEROS DE ITAPEVA

Realmente, os números dão munição aos otimistas. Eu vejo o copo enchendo! Veja bem, em 1820, o francês Saint-Hilaire, em viagem pelo Brasil, contou não mais que 30 casas em Itapeva, no núcleo urbano.

Em 1950, o município contava com 23.546 habitantes, segundo o IBGE. Apenas 17 % moravam na cidade, ou seja, cerca de 4.000 pessoas, que deveriam morar em cerca de 1.000 casas. Em 130 anos (1820 a 1950), Itapeva construiu 970 domicílios, na velocidade de 7,5 casas por ano!

Aí a coisa pega fogo. Industrialização, êxodo rural, explosão populacional. Em 1991, éramos em 81.715 bocas, dos quais cerca de 58.000 morávamos na cidade. Em quantas casas? 58.000 pessoas divididas por 4 = 14.500 casas. Em 41 anos (de 1950 a 1991) construimos 13.500 casas, 330 casas por ano! Não só casas, como ruas, calçamentos, redes de iluminação, de água, de esgoto, de telefone, escolas, postos de saúde... Repare no tamanho do esforço da população! Há quem diga, com razão, que por falta de planejamento, exageramos na dose. O perímetro da cidade poderia ser duas ou três vezes menor se a cidade fosse mais densa e aproveitasse melhor a infra-estrutura já construída.

Em 2000, a cidade já dava sinais de desaceleração. Os moradores da cidade éramos 60.954. Aumento de aproximadamente 3.000 pessoas, ou seja, mais 750 casas em 9 anos, velocidade bem menor: 83 domicílios por ano.

Agora em 2007, o IBGE diz que somos 84.741 almas (contra 82.866 em 2000). Isso significa que a população de Itapeva (rural e urbana) cresce numa taxa anual de apenas 0,32 % ao ano. Bate com a PNAB, que informa que a fecundidade no Sudeste caiu para 1,8 filhos por mulher (2 no Brasil) - taxa de reposição!

Se Itapeva continuar no mesmo ritmo de 2000-2007, com taxa de 0,32 %, para chegar a 100.000 habitantes, levará 51 anos, ou seja, só lá pela década de 2050/60.

Note: a população rural atual (22.500 aproximadamente) é próxima da de 1950 (19.500). Claro, há que descontar o número dos antigos moradores de Taquarivaí e Nova Campina, que depois viraram municípios.

É evidente que o brutal esforço dos últimos 50 anos na construção da cidade (casas, ruas, etc) não vai ser necessário mais daqui para a frente, pelo menos na mesma intensidade.

Vai mudar o foco da quantidade para a qualidade: qualidade do ensino, qualidade do atendimento médico ... qualidade de vida. Exatamente como ocorreu nos países que se industrializaram antes.

Será que os planejadores da prefeitura estão ciente disso?