AGRONEGÓCIO: O SUCESSO DE UMA ESTRATÉGIA
Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros
Professor Titular e Coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP
Nos dias atuais, há um vazio em termos de projetos nacionais que realmente acenem com mudanças capazes de levar a uma aceleração de nosso crescimento econômico e a um salto significativo na qualidade de vida da população.
Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros
Professor Titular e Coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP
Nos dias atuais, há um vazio em termos de projetos nacionais que realmente acenem com mudanças capazes de levar a uma aceleração de nosso crescimento econômico e a um salto significativo na qualidade de vida da população.
Vale a pena, portanto, correr os olhos sobre um caso de sucesso resultante de visão estratégica, sacrifícios, talento e muita coragem.
A saga do agronegócio brasileiro infla o orgulho nacional.
A saga do agronegócio brasileiro infla o orgulho nacional.
Somos imbatíveis na produção de bens extremamente necessários para a população mundial: alimentos, madeiras, fibras e energia renovável.
É verdade que nos ajudam, aqui também, o talento do brasileiro e a riqueza de nossos recursos naturais. Todavia, se dependêssemos apenas desses dois recursos estaríamos, a esta altura, importando até os alimentos de nosso cotidiano como o feijão e o arroz.
É verdade que nos ajudam, aqui também, o talento do brasileiro e a riqueza de nossos recursos naturais. Todavia, se dependêssemos apenas desses dois recursos estaríamos, a esta altura, importando até os alimentos de nosso cotidiano como o feijão e o arroz.
Há muito tempo, esgotamos nossas terras férteis, nas quais Caminha constatou
apressadamente que “em se plantando tudo dá”.
Por volta de 1960, nossas melhores terras, localizadas no Sul, Sudeste e em lugares
específicos de outras regiões já se mostravam incapazes de atender nossas necessidades básicas.
apressadamente que “em se plantando tudo dá”.
Por volta de 1960, nossas melhores terras, localizadas no Sul, Sudeste e em lugares
específicos de outras regiões já se mostravam incapazes de atender nossas necessidades básicas.
Já havia quase trinta anos que se iniciara a grande marcha do campo para a
cidade respondendo ao sinal dado primeiro por Getúlio Vargas e depois por Juscelino Kubitschek.
Era a urbanização e a industrialização que para se sustentar dependiam de crescentes quantidades de matérias-primas da agropecuária, que não podiam ser obtidas nas áreas tradicionais. A conseqüência foi a inflação e a carestia, que inviabilizavam o processo de desenvolvimento concebido por aqueles dois líderes e que se faziam sentir através de ininterruptos conflitos sociais. Além disso, era claro que a industrialização necessitava de divisas para viabilizar as importações de máquinas e componentes, que não se produziam internamente.
A estratégia concebida por Juscelino e assumida também pelos governos militares foi o avanço para o Oeste, cujo principal símbolo foi a construção de Brasília lá perto do fim do-mundo.
cidade respondendo ao sinal dado primeiro por Getúlio Vargas e depois por Juscelino Kubitschek.
Era a urbanização e a industrialização que para se sustentar dependiam de crescentes quantidades de matérias-primas da agropecuária, que não podiam ser obtidas nas áreas tradicionais. A conseqüência foi a inflação e a carestia, que inviabilizavam o processo de desenvolvimento concebido por aqueles dois líderes e que se faziam sentir através de ininterruptos conflitos sociais. Além disso, era claro que a industrialização necessitava de divisas para viabilizar as importações de máquinas e componentes, que não se produziam internamente.
A estratégia concebida por Juscelino e assumida também pelos governos militares foi o avanço para o Oeste, cujo principal símbolo foi a construção de Brasília lá perto do fim do-mundo.
Era novo chamamento ao povo para que marchasse para nova aventura, nova
empreitada, repetindo a jornada dos Bandeirantes no século XVII.
Desta feita não se tratava de extrair pedras preciosas ou capturar indígenas, mas criar raízes em terra inóspita e quase estéril. Foram paulistas, paranaenses, catarinenses e gaúchos, que deixavam para trás suas pequenas e médias propriedades na busca de progresso sócio-econômico à custa de muito trabalho e sacrifício.
Além dessa mistura de desprendimento e arrojo, essa estratégia contou com o apoio na forma de financiamento da parte pela sociedade brasileira: como infra-estrutura de estradas e armazéns, crédito abundante e barato, preços de produtos e insumos
estimuladores.
A sociedade também custeou a formação de recursos humanos de todas as áreas de
conhecimento que foram capazes de criar nova tecnologia e adaptar as já existentes em outros países. Não há estimativas confiáveis de qual foi o montante desses investimentos.
empreitada, repetindo a jornada dos Bandeirantes no século XVII.
Desta feita não se tratava de extrair pedras preciosas ou capturar indígenas, mas criar raízes em terra inóspita e quase estéril. Foram paulistas, paranaenses, catarinenses e gaúchos, que deixavam para trás suas pequenas e médias propriedades na busca de progresso sócio-econômico à custa de muito trabalho e sacrifício.
Além dessa mistura de desprendimento e arrojo, essa estratégia contou com o apoio na forma de financiamento da parte pela sociedade brasileira: como infra-estrutura de estradas e armazéns, crédito abundante e barato, preços de produtos e insumos
estimuladores.
A sociedade também custeou a formação de recursos humanos de todas as áreas de
conhecimento que foram capazes de criar nova tecnologia e adaptar as já existentes em outros países. Não há estimativas confiáveis de qual foi o montante desses investimentos.
Mas foi muito dinheiro! Terá valido a pena tal sacrifício? Quais são os retornos
econômicos e sociais que resultaram dessa mega-transformação na economia e na
sociedade brasileira?
Em primeiro lugar, devemos ter em conta que a ajuda para o agronegócio e para outros setores praticamente encerrou-se em meados dos anos 1980, quando os recursos públicos se esgotaram e a onda de liberalização econômica atingiu com atraso a América Latina e o Brasil, em particular.
A pergunta que ficava era: será que o agronegócio vai parar em pé e avançar agora que não contava mais com recursos públicos a ampará-lo? Para responder essa questão, é necessário relembrar as razões pelas quais a sociedade havia investido tanto no agronegócio.
Duas eram as razões básicas: alcançar um suprimento adequado de alimentos e matérias primas para atender à crescente demanda da sociedade em pleno processo de industrialização e gerar as divisas que permitiriam as importações que esse processo demandava e que acumulara ao longo do tempo uma dívida externa que o País não tinha como quitar.
Ainda no governo Sarney, o Brasil tivera de recorrer à moratória de sua dívida, que viria a ser renegociada apenas no governo de Itamar Franco.
Cabe então verificar como o agronegócio se saiu nesses dois quesitos a partir de 1989, quando se concretizou o fim da política de apoio ao agronegócio. Vejamos alguns dados do IBGE.
A produção física de alimentos expandiu 68% enquanto a população cresceu 27%. Isso significa que a disponibilidade per capita de alimentos para os brasileiros cresceu 32%. O custo da alimentação caiu 11% graças a um aumento médio de produtividade agrícola de cerca de 2,6% ao ano e pecuária em torno de 4% ao ano.
Ao mesmo tempo, as exportações do agronegócio quase quadruplicaram, acumulando mais de 360 bilhões de dólares, mais de 40% do total exportado pela economia brasileira como um todo. Isso permitiu pagar aproximadamente dois terços dos serviços da nossa dívida externa.
Fica claro, portanto, que o agronegócio respondeu à altura das melhores expectativas. A sociedade como um todo beneficiou-se seja porque pode continuar crescendo sem as restrições externas que constantemente cerceavam nosso desenvolvimento ao longo de nossa história, seja porque o suprimento de alimentos cresceu e seu custo diminuiu, num significativo processo de redistribuição de renda a favor das camadas mais pobres.
Hoje se fala em transplantar a experiência do agronegócio brasileiro para outros países carentes de alimentos e matérias-primas – da África, por exemplo - como éramos na década de 1950, através do apoio de organismos internacionais.
Será que vão poder contar com o fator essencial: nosso Bandeirante empreendedor e corajoso do século XX?
econômicos e sociais que resultaram dessa mega-transformação na economia e na
sociedade brasileira?
Em primeiro lugar, devemos ter em conta que a ajuda para o agronegócio e para outros setores praticamente encerrou-se em meados dos anos 1980, quando os recursos públicos se esgotaram e a onda de liberalização econômica atingiu com atraso a América Latina e o Brasil, em particular.
A pergunta que ficava era: será que o agronegócio vai parar em pé e avançar agora que não contava mais com recursos públicos a ampará-lo? Para responder essa questão, é necessário relembrar as razões pelas quais a sociedade havia investido tanto no agronegócio.
Duas eram as razões básicas: alcançar um suprimento adequado de alimentos e matérias primas para atender à crescente demanda da sociedade em pleno processo de industrialização e gerar as divisas que permitiriam as importações que esse processo demandava e que acumulara ao longo do tempo uma dívida externa que o País não tinha como quitar.
Ainda no governo Sarney, o Brasil tivera de recorrer à moratória de sua dívida, que viria a ser renegociada apenas no governo de Itamar Franco.
Cabe então verificar como o agronegócio se saiu nesses dois quesitos a partir de 1989, quando se concretizou o fim da política de apoio ao agronegócio. Vejamos alguns dados do IBGE.
A produção física de alimentos expandiu 68% enquanto a população cresceu 27%. Isso significa que a disponibilidade per capita de alimentos para os brasileiros cresceu 32%. O custo da alimentação caiu 11% graças a um aumento médio de produtividade agrícola de cerca de 2,6% ao ano e pecuária em torno de 4% ao ano.
Ao mesmo tempo, as exportações do agronegócio quase quadruplicaram, acumulando mais de 360 bilhões de dólares, mais de 40% do total exportado pela economia brasileira como um todo. Isso permitiu pagar aproximadamente dois terços dos serviços da nossa dívida externa.
Fica claro, portanto, que o agronegócio respondeu à altura das melhores expectativas. A sociedade como um todo beneficiou-se seja porque pode continuar crescendo sem as restrições externas que constantemente cerceavam nosso desenvolvimento ao longo de nossa história, seja porque o suprimento de alimentos cresceu e seu custo diminuiu, num significativo processo de redistribuição de renda a favor das camadas mais pobres.
Hoje se fala em transplantar a experiência do agronegócio brasileiro para outros países carentes de alimentos e matérias-primas – da África, por exemplo - como éramos na década de 1950, através do apoio de organismos internacionais.
Será que vão poder contar com o fator essencial: nosso Bandeirante empreendedor e corajoso do século XX?
(Publicado em março/2006 no site do CEPEA/ESALQ)
Marcadores: Agricultura, Agricultura Brasileira História
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