Entrevista no Estadão do historiador Boris Fausto, que por uma década ensinou ciência política na USP
O que é esquerda e direita?
Boris: Eu acho que só faz sentido falar hoje em direita e esquerda se a gente puser um adjetivo, direita e esquerda “civilizadas”. Se não se usar o adjetivo, essa noção de direita e esquerda abrange tanta coisa que fica tudo muito confuso.
Por civilizada eu entendo o respeito às regras do processo democrático, liberdade de expressão, de manifestação, o direito de discordar, a rotatividade no poder. Seguindo essas regras, o partido poderá ser de direita ou de esquerda, mas será democrático.
Quem não aceita as regras básicas da democracia, explícita ou implicitamente, se situa em outro campo, no campo autoritário, totalitário, no campo do populismo.
Veja a direita chilena pró-Pinochet, tirana, totalitária, eu jamais misturaria com a direita que faz o jogo democrático, por exemplo, na Inglaterra, na Alemanha. Da mesma forma o Hugo Chávez, da Venezuela, não é de esquerda. Ele é um populista com fortes tendências ao autoritarismo e a atitudes antidemocráticas.
Como é a direita democrática?
Defendo muito esse conceito de esquerda e direita democráticas, civilizadas, que respeitam as regras do jogo. Obedecidas as regras, cada um dos lados tem as suas doutrinas. Na economia, por exemplo, uma direita conseqüente acredita muito na força e na regularização da sociedade pelo mercado. Para a esquerda democrática, o mercado tem um peso importante, e nisso ela se distingue da velha esquerda, para quem o mercado era o mal supremo. Mas esse mercado precisa de regras para que não ocupe um espaço ilimitado, para que se evite as concentrações econômicas e o abuso das corporações com relação ao consumidor.
E a nova esquerda, a esquerda que olha para frente, ela tem uma cara no Brasil?
A esquerda, como estou imaginando, não tem cara no Brasil. Ela tem núcleos no interior do PSDB, tem algo no interior do PPS, do Roberto Freire, tem alguma coisa disso em alguns nomes do Partido Verde, como é o caso típico do Gabeira, que é um homem de esquerda renovada.
O PT deixou de ser esquerda. Eu não conheço o interior do PT, mas acredito que ainda existam núcleos de esquerda, mas que não tem voz ativa, e duvido que venham a ter no futuro. Eu acho que o PT caminha para se transformar numa máquina.
Em todo caso, em todos esses agrupamentos existe gente que poderia representar uma esquerda nova, uma esquerda com futuro. Mas isso está apenas esboçado no meio de uma crise partidária, numa crise da vida pública do País." LEIA MAIS
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