Em 14/09 escrevi sobre alternância nos países adiantados, entre esquerda democrática e direita democrática.
O desenvolvimento continuado das democracias (campeãs disparadas em IDH, é bom repetir) é explicado pelo equilíbrio decorrente da alternância. Seguinte: enquanto a direita democrática prioriza a produção, a esquerda democrática prioriza a distribuição. O resultado é: empresas cada vez mais robustas, com elevação de salários e programas de proteção social. Faz todo sentido, visto que só é possível repartir mais se houver mais o que repartir.
Grosso modo, um terço dos eleitores tendem a votar na esquerda democrática, outro terço tende a votar na direita democrática. O terço restante - não engajado ideologicamente - é o verdadeiro responsável pela alternância: ora vota na esquerda democrática, ora na direita idem, guiado pelo bolso, pela moral ou por outros motivos.
O mapa acima (da Folha) sugere claramente que tal fato está ocorrendo no Brasil. Na parte azul (onde se concentra o PIB: indústria e principalmente agricultura) deu Alckmin. Na parte vermelha (Norte/Nordeste) deu Lula na cabeça.
Em 2002 o mapa do Brasil vermelhou (Lula) de ponta a ponta, com exceção do Rio (ganhou Garotinho), Ceará (Ciro Gomes) e Alagoas (Serra).
Por que a região do PIB mudou de voto em 2006? Ora, como o Brasil não está crescendo o suficiente, parte da transferência de renda está se dando através do barateamento da cesta básica, à custa da renda dos produtores, da produção.
Daí que os Estados produtores reagiram e votaram em quem prioriza a defesa da produção (Geraldo).
Certamente, quando a situação dos produtores se normalizar, tais colégios eleitorais voltarão a votar em quem defenda a distribuição, como fizeram em 2002.
É justamente por isso que ficou célebre a frase do marqueteiro do ex-presidente Clinton: “É a economia, seu estúpido!”
PS-1: o maior erro de Lula foi permitir (e estimular, como no caso da isenção de impostos para aplicadores externos) a baixa do dólar, que ajudou a abortar o crescimento, justamente num momento de euforia internacional.
PS-2: os eleitores estão dando prova de amadurecimento político. E certos partidos? Têm respeitado as razões pelas quais os eleitores votaram?
PS-3: as ditaduras (de esquerda e direita) não funcionam porque o terço engajado (minoria) envereda só para um lado e desequilibra a economia. Ou é pau na produção ou é pau no poder aquisitivo. E mais pau ainda naqueles (da maioria de dois terços) que ousem propor correção de rumo.
PS-4: embora façam diagnósticos parecidos sobre a situação social, é monumental a diferença entre a atuação da “esquerda democrática” e a da “esquerda autoritária”. Enquanto a primeira participa ativamente da construção do sucesso das democracias, a segunda é mãe de ditaduras cruéis (há ditaduras não cruéis?). O mesmo raciocínio vale para "direita democrática" e "direita autoritária".
Marcadores: Eleição 2006
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