Pobreza extrema deve sumir, mas a desigualdade persiste
MARCELO MEDEIROS
ESPECIAL PARA A FOLHA de SP de hoje
Ao final dos anos 1940 o Brasil tinha um problema prioritário: a fome.
É nessa época que Josué de Castro publica "Geografia da Fome - O Dilema
Brasileiro: Pão ou Aço". O livro destaca, com uma lucidez
impressionante, o papel que a injustiça social tem sobre a fome. O
dilema estava colocado, e o Brasil optou pelo aço, apostando no
crescimento em vez de investir na igualdade.
Todavia, no final dos anos 1990, o que Josué de Castro chamava de fome
total, a desnutrição profunda, já caminhava para níveis residuais: o
Brasil fazia a transição da desnutrição para a obesidade dos pobres -de
certo modo, uma fome oculta, na qual se come todos os dias, mas mal.
Há mais por trás da obesidade do que simplesmente a falta de renda para
comprar alimentos saudáveis, mas não havia dúvida de que, para mudar
esse quadro, pensar no futuro significava pensar em resolver o problema
da pobreza.
Essa fome oculta continua existindo, mas o fato é que a pobreza começou a diminuir.
Uma combinação de recuperação econômica com políticas sociais e de
trabalho fez com que a renda dos pobres aumentasse. Além de uma economia
mais forte, aumentos do salário mínimo, da cobertura previdenciária e a
expansão de dois programas de assistência social -o Benefício de
Prestação Continuada e o programa Bolsa Família- ajudaram a reduzir a
pobreza no país.
Toda pobreza é extrema, mas é justo priorizar os pobres em piores
condições. Hoje, a indigência no país segue o caminho antes percorrido
pela desnutrição profunda e ruma ao desaparecimento.
A evolução da economia, um aumento nos gastos com a assistência social e
a priorização dos mais pobres devem erradicá-la ainda nesta década. O
fim iminente da indigência é uma ótima notícia, mas ainda há muito a
fazer, pois continuamos entre os países mais desiguais do mundo.
O dilema continua sendo entre pão e aço, mas em um nível diferente. Se
por um lado a indigência entre os 15% mais pobres irá desaparecer em
breve, por outro o 1% mais rico da população ainda detém 17% da renda do
país, segundo o Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística).
Um Brasil muito mais desenvolvido que o de Josué de Castro pode
ambicionar bem mais do que acabar com a indigência, mas daqui para
frente o desafio é maior: reduzir o abismo entre os ricos e o resto da
população.
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Marcadores: Pobreza Desigualdade, Pobreza redução
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