quinta-feira, agosto 04, 2011

COLUNA DO SPC, NO JORNAL A GAZETA

A história se repete?
            Dia destes escrevendo sobre as dificuldades de um grupo político para encontrar um bom candidato a prefeito, lembrei de 1988. Nesse ano também houve muita especulação em torno de nomes para suceder Antônio Guilherme Brugnaro. Só para lembrar aos mais jovens que não conhecem a história, a oposição na época tinha nomes politicamente fortes: Espiridião Lúcio Martins, Luiz Cavani, Humberto Vasconcelos, José Maria Belezia, professor Macedo (este último, do PT). Foi quando se formou então um grupão de oposição multipartidário, composto de ex-prefeitos e velhos caciques da política, as rádios AM/FM, sindicatos, muita grana que, após várias reuniões, decidiu apoiar o ex-delegado federal Humberto para prefeito e Luiz Cavani (Pavãozão) de vice. Grupo forte, coeso, imbatível sob qualquer aspecto que se avaliasse.

            Os situacionistas, comandados pelo prefeito Brugnaro, coitados, se debatiam entre dois únicos nomes: o do presidente da Câmara, Francisco Monteiro, fiel aliado do prefeito, de expressiva militância no PMDB (Manda-brasa), com alta cotação no segmento feminino, bonitão, discurso inflamado; e o outro, secretário da Administração, Armando Ribas Gemignani, sem nenhuma expressão política, magrinho, ex-seminarista, nunca fora político nem filiado a partido, mas já era metido a galãzinho. Apesar de não ser unanimidade no partido, Armandinho saiu candidato com o sitiante Kiko Mattos de vice, ambos do PMDB, chapa pura. A oposição englobava todos os demais partidos, mais o apoio de caciques e coronéis, o que fez o ex-prefeito Toninho Cavani, no auge do entusiasmo exclamar a frase imortal: “Com este grupo nóis elege até um poste”.

            Enfim, Armandinho e Kiko se elegeram, mas deixaram pêlo na cerca.     

            Agora uma pergunta marota: será que a história se repete mesmo? No caso de se repetir a situação ficaria mais ou menos assim: o presidente da Câmara, em lugar do Monteiro, hoje é o Paulinho de La Rua, que, igualmente, tem boa liderança política, alta cotação no grupo feminino, também faz todos os gostos do prefeito; pega um touro à unha se o prefeito pedir; adora tirar fotos sorrindo, engole sapo quase todo dia da Administração sem fazer cara feia, nisso tudo não perde nada para o Monterão, entretanto, ele ainda não compartilha daquele escocês 12 anos, no Pub do Fúlvio, com o prefeito e seus acólitos prediletos. Será que o prefeito não vai com a cara do Paulinho? Ou será vice-versa? Só os dois e Deus sabem o que é. E o outro?

O outro é um secretário sorridente, o menos badalado, tem gente achando que já morreu e que está meio abandonado lá pelos confins do Distrito Industrial. Sabe-se contudo que o prefeito Cavani o mandou para lá de propósito, pois o local é um paraíso (igual aquele onde fica o Batalhão da Polícia Militar), tem muito ar puro, silêncio, passarinhos gorjeando no arvoredo, quem entra na Secretaria não vê funcionários trabalhando, eles trabalham de portas fechadas, falam baixinho. Dizem que o prefeito colocou esse secretário lá para ele não se estressar e se poupar para uma futura missão muito importante. O leitor decerto já sabe de quem estamos falando, não sabe? Acertou, é o Armandinho mesmo, o herói de 88, bem melhorado, convenhamos. E, daí?  
            
         Daí é bom lembrar que doutor Luiz e Armandinho estão há muito tempo ligados pelos desígnios do destino, em 88 se o Luiz tivesse sido eleito vice, os analistas de plantão dizem que ele teria se “queimado” politicamente, o Armandinho evitou isso. Outra ligação forte dos dois: como ex-prefeito e vice na chapa do Luiz, Armandinho contribuiu decisivamente para a vitoriosa campanha de 2004, seu discurso articulado, inflamado, simpatia, ajudou o novato doutor Luiz nos palanques, que, na época, falava mal pra burro (ainda fala), além de ser desajeitado, mal-ajambrado, nariz empinado etc. Ele ganhou por diferença pequena de votos, 2.200, o vice foi decisivo para a vitória.

Então, se a história se repete mesmo, como se apregoa (Jung diz que se repete em espiral ascendente, ou como farsa, como diz Marx), vamos ver o que acontece.   Prestigiado por gregos e baianos, acredita-se que o prefeito Cavai vai deixar uma herança bendita para o seu sucessor, finanças saneadas, boa imagem pública, o seu estilo antiquado de administrar ninguém nota por aqui, portanto, ele está com a faca na mão para cortar o queijo do jeito que quiser. Ele só perde a eleição se for muito pixote.
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