A Volta do Endividamento Externo
Tem sido dado muito destaque ao fato de que nos últimos anos houve uma redução significativa do endividamento externo líquido brasileiro. A dívida externa deixou de ser um problema. Sem dúvida, mudanças muito importantes ocorreram nessa área, o que foi decisivo para que o país enfrentasse uma grave crise internacional e dela saísse ileso. Pouco se fala, no entanto, que o processo de desindividamento estrangeiro não se processou de forma homogênea entre, de um lado, o setor público e, de outro, o setor privado. Ocorreu um desindividamento absoluto do primeiro caso, mas longe disso no segundo. A dívida externa do setor público caiu forte e persistentemente no quadriênio que vai de 2005 até 2008, o que, simultaneamente com o acúmulo de reservas internacionais, tornou o governo brasileiro credor líquido em moeda estrangeira. Esse foi um fator destacado para a preservação em plena crise das contas públicas brasileiras, um determinante adicional para que o país superasse a crise internacional. Todavia, não vem sendo dada atenção para outro movimento simultâneo de extrema relevância: no endividamento externo do setor privado a trajetória foi precisamente oposta. Nesse caso, o endividamento voltou a crescer a taxas expressivas a partir de 2005. Tal evolução somente seria temporariamente interrompida em 2009 devido à crise, sendo logo retomada e com força redobrada ao longo dos oito primeiros meses de 2010 (janeiro a agosto). Para se ter idéia dos processos basta observar que o resultado líquido dos dois movimentos (público e privado) foi um aumento da dívida externa brasileira de 38,9% no período como um todo (de dezembro de 2005 a agosto de 2010,último dado disponível). Para o setor público (que nas estatísticas do Banco Central não inclui a dívida do setor público financeiro), houve queda do endividamento público (em 6,6% no mesmo período), mas aumento de nada menos do que 87,5% na dívida privada (que inclui a dívida do setor público financeiro e que representava 65% do total em junho de 2010). Supondo que o estoque dessa dívida permaneça constante até o final de 2010, seu ritmo médio de expansão nos seis anos que vão de 2005 a 2010 foi de nada menos do que 18% ao ano. Trata-se de um índice altíssimo com que evoluiu o recurso ao endividamento externo em se tratando do setor privado. |
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