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A agropecuária brasileira precisa ser repensada, e os esforços devem se concentrar no desenvolvimento de uma nova instituição, que planeje o futuro nos alicerces ambiental, energético e da segurança alimentar. Observa-se profunda transformação da agropecuária, baseada na mudança tecnológica. Vários segmentos se modernizaram, incorporando novas tecnologias. Entretanto, nota-se que existe parte expressiva dos produtores com baixa capacidade de absorção de conhecimento. Pelo Censo, apenas 8% dos estabelecimentos agropecuários estão na vanguarda tecnológica, pois geram 85% do valor total produzido.O agronegócio é responsável por 25% do PIB. Na cadeia, a agropecuária é responsável por 26% do produto setorial, enquanto a indústria e a distribuição, conjuntamente, respondem por 64%. Esta é uma tendência internacional, em que há redução da importância da agricultura relativamente à agroindústria e à distribuição. Em 2009, as exportações do setor representaram 43% do total do país. Contudo, é muito baixa a capacidade de absorção tecnológica da maioria dos produtores. Cerca de 92% dos estabelecimentos são responsáveis por 15% do valor da produção. O grau de instrução é um fator limitante: dos 3,9 milhões de proprietários rurais, 90% possuem qualificação inferior ao ensino fundamental, para não mencionar os 27% que são analfabetos. Só 9% dos estabelecimentos receberam regularmente assistência técnica em 2006, evidenciando a vulnerabilidade tecnológica. São necessárias políticas de educação que estimulem as redes de difusão de conhecimento e melhorem o planejamento das regiões rurais. Porém, não é o que acontece. No orçamento da União de 2009, menos de 1% foi destinado ao conjunto dos ministérios que representam a agropecuária. Ademais, desde 1999 os escassos recursos destinados ao setor foram pulverizados em crescente número de instituições, fragmentando e fragilizando a ação governamental. O crescimento produtivo é estimulado pelo desenvolvimento tecnológico, diante da maior competição externa. Uma produção moderna oferta bens em quantidades superiores, mas a preços reais decrescentes, o que causa contenção inflacionária e distribuição relativa de renda. Porém, aos produtos não comercializáveis (feijão e mandioca, por exemplo), existem muitos produtores atrasados. Os efeitos anti-inflacionário e redistributivo de um alimento mais barato ficam comprometidos no ambiente de baixa incorporação tecnológica. A falta de acesso às tecnologias, somada ao baixo conhecimento, compromete o futuro, inclusive na manutenção dos níveis inflacionários e da redistribuição de renda. Concentrar esforços institucionais deveria ser parte do compromisso do próximo presidente. Não há margem para a aplicação difusa dos recursos públicos em mais de um ministério. Sem juízo de valor, a agropecuária deveria ser pensada de forma estratégica, sob o comando de instituição forte, mas única: o ministério do agronegócio. | |||||||
JOSÉ EUSTÁQUIO RIBEIRO VIEIRA FILHO, mestre em economia aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, doutor em economia pela Unicamp, é pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), professor da UnB (Universidade de Brasília) e co-organizador do livro "Agricultura Brasileira: Desempenho Recente, Desafios e Perspectivas", a ser lançado pelo Ipea. |
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