O balanço de pagamentos de julho, divulgado ontem, confirma o enfraquecimento da situação cambial, com déficit nas contas correntes de US$ 4,5 bilhões, no mês; US$ 28,2 bilhões, entre janeiro e julho; e US$ 43,8 bilhões, em 12 meses. O Banco Central (BC) estima o déficit de 2010 em US$ 49 bilhões e, em média, os departamentos de análise econômica ouvidos pelo boletim Focus, em quase US$ 50 bilhões, mais que o dobro dos US$ 24,3 bilhões de 2009. É o pior resultado histórico para o mês de julho, mas, ainda mais grave, é um sinal de piora da política econômica.
Em termos relativos, a conta mais negativa foi a do turismo. Em julho, os viajantes brasileiros, privilegiados pelo real valorizado e pelo aumento da renda - favorecida, por sua vez, pela política fiscal relaxada, gastaram US$ 1,5 bilhão no exterior, três vezes mais do que os estrangeiros, que arcam com o dólar fraco, gastaram no País. O déficit na conta turismo foi recorde: US$ 1,1 bilhão.
O déficit das transações correntes tem sido financiado, crescentemente, por capitais de curto ou de médio prazos - em julho, US$ 2,6 bilhões foram aplicados em títulos de renda fixa, atraídos por juros superiores à media internacional, e outros US$ 3,2 bilhões, em ações, perfazendo US$ 5,8 bilhões. Já os investimentos diretos, aplicados por prazos longos, aumentaram de US$ 700 milhões, em junho, para US$ 2,6 bilhões, em julho.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, rejeita a hipótese de crise cambial futura, em face dos vultosos ingressos de capital estrangeiro esperados para capitalizar a Petrobrás. Tampouco os bancos esperam alterações bruscas na taxa cambial, tanto que aumentaram as posições de venda de dólar.
Mas o País está pagando mais caro para manter a confiança nas contas cambiais, que depende do nível de reservas cambiais, de US$ 260 bilhões, em parte adquiridas com recursos provenientes da venda de títulos públicos a juros altos. E não se deve supor uma baixa dos juros básicos com a economia aquecida. Além disso, com o real valorizado, há estímulo às importações, desestímulo às exportações e queda do saldo comercial, que sempre foi um grande - e conveniente - suporte para as contas cambiais. A dívida externa também cresceu - US$ 10,2 bilhões em julho -, o que aumentará a vulnerabilidade do País em caso de desvalorização do real.
A política cambial parece perder qualidade e depender cada vez mais dos ingressos de curto prazo, além de criar a ilusão de que será sempre possível importar mais para consumo, dados os preços baixos no exterior
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