No final do primeiro turno das eleições de 2006, uma operação clandestina, criminosa, de tentativa de fraude contra a candidatura do tucano José Serra ao governo de São Paulo foi abortada pela Polícia Federal. Num hotel da capital paulista, Hamilton Lacerda, assessor e chefe da campanha do adversário de Serra, o senador petista Aloizio Mercadante, foi filmado levando a mala em que estaria R$ 1,7 milhão, depois apreendido, sacado de algum caixa dois partidário para comprar um dossiê que incriminaria Serra. Os tais documentos, sobre a gestão do tucano no Ministério da Saúde, eram fajutos, a montanha de dinheiro apareceu na imprensa e Lula perdeu a chance de ganhar no primeiro turno.
O candidato à reeleição tachou os conspiradores de “aloprados”, entre eles, além de Lacerda, um ex-secretário do Ministério do Trabalho, Oswaldo Bargas, que dava as cartas, em nome do governo e das centrais sindicais, no fórum criado, sem sucesso, para propor a reforma sindical, e Jorge Lorenzetti, comandante da churrasqueira do Planalto.
Assim, “aloprado” passou a adjetivar todo militante petista mais aguerrido, sem medir meios e maneiras na hora de trabalhar pelos chefes. Algo como, no tempo dos militares, os “bolsões sinceros porém radicais”, terminologia usada por generais para designar as forças de repressão que atuavam na clandestinidade.
Pois a alopragem petista esteve prestes a agir de dentro de um bunker de comunicação montado pelo comitê de Dilma Rousseff em Brasília. Segundo reportagem de “Veja”, assessores contratados por Fernando Pimentel, amigo pessoal de Dilma e um dos coordenadores da campanha, trabalhariam em um dossiê sobre Serra, citando negócios de Verônica, filha dele.
A denúncia teria sido um contra-ataque do núcleo paulista do PT conduzido por Rui Falcão, oriundo da máquina partidária no estado berço da legenda, para deslocar o grupo mineiro.
Uma típica luta pelo poder nos bastidores petistas, onde também se costuma desferir golpes abaixo da cintura, no estilo das virulentas batalhas sindicais.
A seriedade da história do dossiê ganhou tinturas mais fortes com a entrevista, publicada na última edição da revista, em que um delegado federal aposentado, Onézimo Sousa, declara ter sido procurado pelo braço mineiro do bunker petista para espionar Serra e o deputado tucano Marcelo Itagiba, também egresso da PF e que estaria montando um esquema idêntico de arapongagem para ser usado contra petistas.
Serra acusou diretamente Dilma, que ontem pediu ao tucano explicações por via judicial.
Resvala-se, portanto, para a judicialização da campanha. Será desanimador se as eleições enveredarem por esses caminhos tortuosos, quando se tem a chance de debater o futuro do país num momento muito especial, em que avanços sociais precisam ser consolidados por uma projeto de reforma do Estado, cada vez mais pesado para o contribuinte e menos eficiente.
A candidata se exime de qualquer culpa, e os tais assessores foram corretamente afastado.
Não poderia ser diferente, nem se deve, a priori, duvidar da palavra de Dilma. Mas o PT, com sua folha corrida de alopragens, não ajuda a candidata. Tem razão a candidata Marina Silva ao pregar “tolerância zero” com esse tipo de ação, de inspiração antidemocrática.
Esta deve ser a postura de todos, a começar pela Justiça e o Ministério Público eleitorais
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