segunda-feira, novembro 23, 2009

Folha de S. Paulo
Mais altos e gordos
Editorial

EM 2004 , o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não escondeu sua contrariedade com a divulgação da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, na qual se observava uma preocupante tendência da população brasileira para o excesso de peso. Num momento em que a propaganda do governo concentrava-se no já esquecido Fome Zero, falar em brasileiros obesos não era um bom marketing para Lula.

Naquela ocasião, os pesquisadores haviam medido e pesado seus entrevistados para calcular o Índice de Massa Corpórea de cada um -o resultado da massa, em quilogramas, dividido pelo quadrado da altura, em metros.

Pessoas com IMC inferior a 18,5 têm peso menor do que o ideal, enquanto as que ficam entre 18,5 e 24,9 estão na faixa ideal. O sobrepeso situa-se no intervalo de 25 a 29,9, e um IMC acima de 30 indica obesidade.

Naquela época, o IBGE concluiu que 4% da população adulta tinha problemas de insuficiência de peso, o que é considerado normal pelas normas internacionais. Em contrapartida, 40,6% da população apresentava excesso de peso ou obesidade.

Agora o Ministério da saúde mostra que os brasileiros estão cada vez mais altos e gordos. Estudo feito pelo órgão constatou que, de 1974 a 2003, a altura média dos homens subiu de 1,67 m para 1,70 m e a das mulheres, de 1,55 m para 1,58 m. Ao mesmo tempo, o IMC médio chegou a 24,7 para mulheres e 24,6 para homens - muito próximo dos 25 que acusam sobrepeso.

O ministério, desta vez sem nenhuma manifestação contrária do presidente, considera que está em curso uma mudança do perfil nutricional da população. A desnutrição cai, e o peso aumenta. A queda no preço dos alimentos e a melhoria do poder de consumo da sociedade permitem que o brasileiro coma mais. O problema é que comer mais não significa comer bem.

O consumo exagerado de produtos alimentícios altamente calóricos e o sedentarismo são a fórmula perfeita para o excesso de peso e a obesidade. Um levantamento realizado pela pasta da saúde em 2008 mostrou que quase 30% dos adultos residentes nas capitais não haviam feito nenhuma atividade física nos três meses anteriores.

São conhecidos os transtornos que a alimentação desregrada e a falta de exercícios físicos podem acarretar para a saúde. O exemplo dos EUA é sempre evocado. A obesidade naquele país fez aumentar a incidência de doenças e mortes -além de elevar os gastos públicos em saúde.

Os dados apurados pelo IBGE e pelo Ministério da saúde recomendam que o poder público atue em duas frentes. Em primeiro lugar, é preciso que a população tenha mais acesso a informações sobre alimentação saudável. Além disso, é preciso estimular a atividade física não apenas com esclarecimentos, mas com a oferta de equipamentos, serviços e condições adequadas para a prática esportiva.

O esporte não deve ser considerado apenas em sua dimensão competitiva - ou olímpica. Uma política esportiva de mais alcance caminha de mãos dadas com a saúde, a começar na escola.

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