Cutucando
Não convidem este escriba entojado para eventos sociais ou políticos em que o “fundo musical” programado é dupla “sertaneja” ou outro gênero musical com volume que ultrapasse o limite tolerável e o bom senso. Isso acontece frequentemente, os promotores de festinhas nivelam o gosto dos convidados como se todos gostassem de um só gênero musical, e colocam um doidivanas qualquer para tomar conta do som. E quando o infeliz percebe que o “seu” som está sendo encoberto pela conversa, ele aumenta o volume e dali a pouco todos estão gritando. Uma crassa ignorância.
Os bons costumes ensinam que essas reuniões são importantes como meio de aproximar as pessoas, estreitar e fazer amizades, trocar idéias, ou simplesmente usufruir o prazer do bate-papo sem compromisso, todos nós gostamos, e precisamos disso. O doce mister de “jogar conversa fora” está desaparecendo nas reuniões festivas, diante do aparelho de som e dos CDs que o anfitrião gosta de exibir para se mostrar moderninho.
Evidente que um fundo musical suave é interessante e faz bem à saúde, a conversa compartilhada com música instrumental traz paz e prazer. A ciência provou que a música interfere no metabolismo basal, na simbiose de hormônios e enzimas para a catalisação de processos eletroquímicos do cérebro (que chamamos de espírito).
Claro que se faz exceção aos bailes, aí sim, soltem o som que a moçada gosta.
Quanto aos secretários de cultura, não se sabe ao certo se eles são cúmplices da máquina que promove “abacaxis” musicais para acabar com qualquer vestígio da boa música ou se são eles por vontade própria que mantêm a máquina funcionando. Aqui pelos pagos do coronelismo são raros os secretários “independentes” da cultura vigente (até rimou), a maioria está tranquila se achando os reis da cocada preta.
Enquanto isso a maioria da população continua à margem da grande arte, sobretudo, porque dirigentes culturais sucumbem facilmente ao preconceito de que o povo só gosta de porcarias. De nada vai adiantar construir Teatro Municipal se desde já não forem mudados certos conceitos básicos a fim de se criar uma demanda cultural que ocupe o novo espaço, como oficinas artístico-culturais, que, segundo o secretário Xixo não está sendo levado em conta pela “comissão” nos projetos até agora apresentados.
E cultura é muito mais que eventos, mais que assistir ou ouvir aquilo que os dirigentes culturais apresentam como se cultura fosse.
A música é uma das artes mais discriminada por ser a mais consumida e de apelo emocional imediato. E os meios de comunicação oportunistas aproveitam o descaso de governantes e secretários de “cultura” para tomar conta do gosto popular, só divulgando gravações musicais de péssimo gosto e sem nenhum conteúdo artístico. E a população acaba não tendo contato com a boa música (erudita, MPB, sertanejo raiz) e consumindo o que há de pior no mercado de diversões. O ideal seria o equilíbrio brega/cultura.
E para justificar eventos artístico-culturais sem qualidade, a falta de recursos é eleita como a maior culpada. E, aí, os abusos afloram. E o povo aceita, o que fazer?
Ano retrasado o carnaval de “rua” de Itapeva foi realizado em três quarteirões da Avenida Mário Covas, cercada de tapumes, as pessoas revistadas, e o carnavalesco foi um empresário de rodeios que só tocava CDs de “dupla sertaneja”: xote, vanerão etc. Incrível, o maior espaço da avenida foi ocupado por barracas de bebidas: cachaça, vinho e, principalmente, cerveja, vendida pelo hoje secretário de Esportes. O secretário Davi Panis adorou o carnaval sertanejo e só não repetiu no ano seguinte porque o boiadeiro-carnavalesco estava “impedido”. Aí não teve carnaval em Itapeva! Em 2010 tudo leva a crer que vai ter carnaval em Itapeva, vai depender da Secretaria de Cultura se o carnaval vai ser o tradicional, ou vai ser “sertanejo”, espécie de quermesse com barracas de bebidas e salgadinhos tomando o lugar dos “foliões” na avenida. Para o prefeito Cavani o formato é bom, por isso, o carnavalesco deverá ser o seu produtor de rodeios favorito. Tem grana e patrocinadores à vontade. Arre, égua.
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