sábado, outubro 24, 2009

Folha de S. Paulo
Retrato de época
Fernando de Barros e Silva

Quis o acaso (ou talvez o destino) que o acordo entre PT e PMDB em torno da candidatura presidencial de Dilma Rousseff fosse selado no mesmo dia em que a ministra negou a existência do mensalão. Ao depor como testemunha de dois réus, ela afirmou: "Isso [o mensalão] não aconteceu, até porque era impossível". E acrescentou que José Dirceu, cassado pela Câmara depois de renunciar à Casa Civil, foi "uma pessoa injustiçada".

Os episódios eram independentes, mas havia um fio da meada: a maneira como Dilma olha para o passado projeta a visão que tem do futuro. O mesmo padrão ético que a ministra endossava à tarde ao negar o mensalão seria simbolicamente recontratado à noite, no jantar de gala entre PT e PMDB no Alvorada.

Tudo isso passou meio despercebido e tende agora a ser ofuscado de vez pela frase de efeito de Lula, na entrevista de ontem à Folha, segundo a qual, no Brasil, mesmo Jesus precisaria se aliar a Judas para governar. Afora o apelo da imagem religiosa, parte do repertório colorido do lulês, a ideia não é nova nem deveria nos ouriçar tanto.

De Getúlio Vargas a Fernando Henrique Cardoso, a política brasileira, quando bem-sucedida no tempo, sempre teve vocação conciliadora e se fez à base de concessões. Jânio Quadros e Fernando Collor seriam os contraexemplos.

Então vale tudo? Também não. As relações entre política e moral são complexas. A primeira não é uma luta entre o bem e o mal, mas o terreno da escolha entre o preferível e o detestável, como dizia o pensador liberal Raymond Aron.

Quando o deputado Judas é flagrado no caixa não contabilizado de Delúbio Soares, temos aí um problema sério -e Jesus sabe disso.
Dilma, com sua retórica revisionista, de que nunca houve mensalão, parece querer transformar o detestável em preferível. Dirceu não é "o injustiçado"? O que ela faz é apenas usar a popularidade atual de Lula para tentar reescrever o passado. Corrigi-lo é mais difícil.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Vejam esse retrato de agora.Foram de 13 cassados pela Justiça e - Quem tem algum resquício de massa cinzenta pulsando dentro do crânio – e um mínimo de senso de Justiça – certamente sentiu engulhos ao assistir o Jornal da Gazeta. Mesmo aquele telejornal sendo famoso pelo partidarismo, conseguiu surpreender durante os comentários que a âncora Maria Lydia Flandoli e o comentarista político Mauro Chaves (Estadão) fizeram da cassação dos mandatos de 13 vereadores da base de apoio de Gilberto Kassab na Câmara Municipal de São Paulo. Os vereadores paulistanos foram cassados porque receberam doação ilegal da Associação Imobiliária Brasileira (AIB).O que me escandalizou foi Maria Lýdia e Chaves, pasmem!, defenderem os cassados, minimizando o crime eleitoral deles. Justo esses dois, que tanto moralismo têm vertido na questão de Sarney por acusações como a de ele ter conseguido um emprego para o namorado da neta no Senado.

9:15 PM  
Anonymous Anônimo said...

Por que a mídia nacional tentou recentemente derrubar o senador José Sarney?

Said Dib - A resposta é simples: o apoio firme de Sarney ao governo Lula e ao projeto Dilma Presidente em 2010. Sarney é a garantia política de que o maior partido do País, o PMDB, com uma máquina partidária gigante e tendo vencido as últimas eleições municipais, permaneça na base do governo. As forças anti-nacionais, financiadas pelas grandes corporações transnacionais sediadas principalmente em São Paulo, politicamente são tucanóides apátridas que querem manter o Brasil de joelhos diante da plutocracia financeira internacional. Não suportam as mudanças representadas por Lula e Dilma, como não suportaram os esforços de Sarney, quando era presidente, de criar mecanismos de proteção social e de combater as desigualdades regionais através de coisas como o “Calha Norte” e a ferrovia Norte-Sul. São a turma do “PIG”, que Paulo Henrique Amorim tanto combate.Conheça o Blog do SAID DIB

9:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

....são a turma do “PIG”, que Paulo Henrique Amorim tanto combate. Controlam os grandes veículos de comunicação através da publicidade, que representa hoje mais de 90% do faturamento dos jornais. Controle econômico que é possível porque o jornal depende principalmente de duas fontes de receita: a venda em bancas e a publicidade. Na maioria das grandes publicações nacionais, a primeira é tão pequena que não raramente o custo gráfico da publicação é superior ao que o leitor paga ao jornaleiro. Em publicações como O Globo, O Estado de S.Paulo,Veja, Jornal do Brasil, por exemplo, a publicidade é responsável normalmente por mais de 90% da receita. E isto explica essa dependência. O fato de ser o anunciante estrangeiro que basicamente sustenta as publicações faz com que a política editorial de grandes órgãos de comunicação do país acabe sendo o foro de defesa de um modelo de “desenvolvimento” baseado na presença desses anunciantes. É aí que está a grande questão.Conheça o Blog do SAID DIB

9:19 PM  
Anonymous Anônimo said...

...Em publicações como O Globo, O Estado de S.Paulo,Veja, Jornal do Brasil, por exemplo, a publicidade é responsável normalmente por mais de 90% da receita. E isto explica essa dependência. O fato de ser o anunciante estrangeiro que basicamente sustenta as publicações faz com que a política editorial de grandes órgãos de comunicação do país acabe sendo o foro de defesa de um modelo de “desenvolvimento” baseado na presença desses anunciantes. É aí que está a grande questão.Conheça o Blog do SAID DIB

9:20 PM  
Anonymous Anônimo said...

O Brasil mudou pra melhor na administração do presidente Lula?

Certa vez, Sarney, falando sobre as diferenças entre os literatos e os políticos, disse que “político lida com realidades, o escritor com abstrações". E que, como intelectual e político, aprendeu que "o intelectual é o homem da justiça absoluta; já o político é aquele que busca a arte do possível, com os instrumentos da contingência". E ensinou: "quem governa vive suas circunstâncias. Não decide sobre abstrações, mas fatos". Quer dizer, Lula não é, felizmente, um literato ou um teórico. É um homem de ação. E talvez por isso soube como ninguém afastar os apaixonados por teorias de seu governo e, com isso, foi extremamente pragmático. Fez, com eficiência, o que a realidade tenebrosa herdada de FHC permitiu. É claro que todos nós desejaríamos mudanças mais profundas. Mas não estamos no governo. Só Lula sabe das dificuldades que enfrenta. Mas, os números mostram avanços sociais impressionantes e inquestionáveis. Só pelo fato de Lula ter falado de patriotismo e de ter insistido em fazer investimento e planejamento, mostra avanço consistente do seu governo. Investimento e planejamento eram palavrões na época de FHC. Lembram?

9:22 PM  

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