segunda-feira, agosto 03, 2009

Correio Braziliense
Presidente falastrão

Rubem Azevedo Lima

À medida que se aproxima do fim de mandato, o presidente Lula, em campanha a favor de sua candidata à sucessão, sem que a Justiça Eleitoral o advirta, aumenta a carga de surpresas que faz ao país. Há dias, ele falou como doutor sabe tudo e salvador da pátria. Todos o viram ditar normas ao novo procurador da República, sobre graduação penal e a quem e como aplicá-la, no caso de violações à lei.

Que lição espantosa! Não tanto devido ao escândalo causado pela fala presidencial, mas em razão da ousadia do presidente de erigir-se, com suas ideias, em oráculo das sanções legais. Diógenes, filósofo descalço, menos, portanto, que um pé de chinelo, não escaparia aos critérios punitivos de Lula, mas Hitler, ex-chefe de estado poderoso, poderia escapar.

O que assusta no presidente não é só o lado sabichão, mas o fato de somar a isso, cada vez mais, a disposição de salvador da pátria, como os falsos taumaturgos, que exploram os brasileiros ingênuos. Não se contestam os bons feitos do governo Lula, embora, nessa etapa final, ele faça gastos fantásticos, que podem desgraçar quem vier a ser eleito presidente em 2010: Serra, Dilma, Aécio ou Ciro.

O salvacionismo de Lula traz à memória do repórter palavras de San Tiago Dantas, ditas no 4º centenário de Cervantes, ao falar de D. Quixote, apólogo da alma ocidental . Ele cita Ortega y Gasset: Do querer ser, a crer que se é, vai a distância do trágico ao cômico , e depois sintetiza: Querer salvar é sublime; julgar-se salvador é ridículo . Palavras para nenhum governante esquecer.

Lula não está longe do ridículo. Se não se cuidar, ele acaba dando bom- dia a cavalo , como diziam os velhos portugueses a seus conterrâneos simples e pretensiosos.

Diz-se que Lula quer o Nobel da Paz e dirigir o Banco Mundial ou a Petrobras. Sua língua solta, capaz de gerar cizânias e de falir o BM, atrapalha a premiação externa. Até ele parar de dizer o que não deve, só a Petrobras. Quem o nomearia? Ante o cabide de empregos em que Lula transformou essa empresa, talvez nem Dilma para salvar o pré-sal.
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