sexta-feira, abril 17, 2009

FEBRE AMARELA - AS PRIMEIRAS VÍTIMAS


A primeira vítima fatal no interior paulista este ano foi Márcia Maria, de Sarutaiá, cidade vizinha a Piraju. A confirmação veio do hospital da Unesp em Rubião, na região de Botucatu, onde ela estava internada. “Era sexta-feira, 13, e a notícia caiu como uma bomba porque nunca tivemos a doença na cidade”, diz o diretor de saúde do município, Osmar Soares Freschi. Outras cinco pessoas que tiveram a doença em Sarutaiá se recuperaram.

Conforme informações de Freschi, foi montada uma força-tarefa na cidade para com auxílio da Vigilância Epidemiológica de Botucatu e equipes de São Paulo, Botucatu, Avaré e Piraju. Às 8h da segunda-feira, dia 16, teve início a vacinação de casa em casa. O trabalho, até às 22h, se repetiu até sexta-feira. “Aplicamos 4.100 doses da vacina na cidade e na zona rural. Como o IBGE aponta uma população de 3.789, consideramos que todos foram vacinados”, diz Freschi.

O vírus da febre amarela pode estar circulando na região há bem mais tempo. A Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) do Estado investiga se uma morte ocorrida em setembro de 2008, também em Piraju, pode ter sido de febre amarela.

No dia 23 de março, morreu a primeira vítima em Piraju, o pedreiro Flávio Teles, de 47 anos. Ele sentiu os primeiros sintomas no domingo de Carnaval, 22 de fevereiro. A coordenadora da Vigilância Epidemiológica da cidade, Neide Maria Silvestre, considera que este caso fugiu às regras. “Foi um período longo até o óbito, levando-se em conta que a febre amarela é uma doença aguda e súbita”, explica.

Conforme conta a dona-de-casa Rita Batista de Souza, que vivia com Teles havia 14 anos, naquele domingo ele amanheceu passando mal, com dor de cabeça. “No hospital, foi medicado com remédio para sinusite”, conta. Depois disso, foram dias de uma via-sacra de casa para o posto de saúde e o hospital, com febre, vômito e dores. “Ele passava um período internado, era medicado com soro, voltava para casa e só piorava. Ele emagreceu muito, se acabou”, diz.

A última internação de Teles foi no dia 17 de março, uma terça-feira. Nesse mesmo dia, o filho dele, Flávio Teles Júnior, de 14 anos, começou a sentir febre. Ele seria a segunda vítima fatal da doença. Rita lembra que foi difícil ter que socorrer o pai e o filho, que era seu enteado. “Quando o menino chegou da escola na hora do almoço, ele reclamou de febre. Eu disse a ele: ‘Eu vou internar seu pai e já volto pra cuidar de você’. Quando eu voltei, ele já estava com dor de cabeça. Chamei a ambulância e o levei também para o hospital. Lá ele tomou soro e recebeu alta”.

Na quarta, 18, com a piora do estado do rapaz, o médico que já estava cuidando do pedreiro solicitou exames de Flávio Teles Júnior e o transferiu para o hospital da Unesp em Botucatu. “Antes, o médico não pensava que meu marido estava com febre amarela por causa do tempo que ele estava doente. O pior foi que contaram para ele que seu filho também estava mal. Ele ficou muito nervoso”, fala Rita.

Na quinta, o pai também foi transferido para Botucatu e, naquela noite, entrou em coma. Na sexta, dia 20, a Vigilância Epidemiológica de Piraju recebeu a confirmação de que Teles estava com febre amarela. No dia seguinte, começou a campanha de vacinação na cidade.

Flávio Teles pai morreu na segunda-feira, dia 23. O filho dele quatro dias depois, em 27 de março. Segundo Rita, o marido costumava andar pela mata na região, fazendo serviços gerais, e o menino o acompanhava. “Sinto muita falta dele. Eu sonho com ele, mas no sonho ele está forte; a doença acabou com ele”, diz Rita. Agora, ela vive sozinha com a neta do marido, Maria de Fátima, de oito anos. “A guarda da menina é nossa”, diz. Rita agora vai ter de trabalhar. A família mora na Vila São Pedro, um dos bairros mais pobres de Piraju. LEIA MAIS

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