Balanço transparente
Folha de S. Paulo - 22/04/2009 |
Agências reguladoras, acionistas e credores precisam conhecer o que ocorre nas finanças de empresas brasileiras No Brasil, os elevados prejuízos de empresas em operações com derivativos de câmbio revelaram fragilidades no controle doméstico. Pesquisas sobre as companhias com ações negociadas na Bovespa -como a realizada pelo Grupo de Conjuntura da Fundap e divulgada por esta Folha- mostraram que o setor industrial registrou uma brutal variação em suas transações financeiras. Em 2007, houve receitas financeiras no valor de R$ 386 milhões. Em 2008, as despesas financeiras superaram as receitas em R$ 38,2 bilhões. Esse movimento não pode ser explicado apenas pelas repercussões da desvalorização cambial na estrutura de financiamento das empresas -o que todas as empresas com dívida em dólar enfrentaram. Os vultosos prejuízos em alguns segmentos -como alimentos, papel e celulose e química- foram determinados, sobretudo, por apostas feitas na valorização do real em operações em mercados futuros de câmbio. A julgar pela surpresa desencadeada pela divulgação dos prejuízos, nem os acionistas nem os órgãos reguladores tinham conhecimento desses complexos contratos de derivativos. Em resposta, a Comissão de Valores Mobiliários determinou que as companhias abertas deveriam divulgar, em nota explicativa específica, informações sobre todos os seus derivativos financeiros. Foi uma decisão importante, mas insuficiente. Muitas empresas envolvidas são de capital fechado -e permanecem ao abrigo dessa norma. Pelas regras em vigor, toda operação com derivativos não negociados em Bolsa deve ser registrada na Cetip, a administradora dessa classe de transações, conhecida como "de balcão". Embora se possa conhecer o montante das operações, é impossível determinar qual a aposta de cada agente. Não se sabe, por exemplo, quem vai ganhar ou perder -e quanto- se o dólar passar de determinada cotação. Além disso, algumas operações, a despeito de registradas na Cetip, eram parcialmente realizadas em paraísos fiscais, dificultando ainda mais sua decifração. Autoridades reguladoras, acionistas e credores precisam conhecer o que está ocorrendo nas finanças das corporações brasileiras. Reafirmar tal truísmo é crucial, pois reformas espinhosas como essa, que afetam lobbies financeiros, tendem a ser esquecidas uma vez superado o momento mais agudo da crise. |
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